A FLORESTA DAS ÁRVORES RETORCIDAS (RESENHA)
O romance de terror A Floresta das Árvores Retorcidas, de Alexandre Callari, lançado em 2020, foi um dos primeiros lançamentos dedicados a autores nacionais da editora Pipoca & Nanquim, que tem como um dos sócios, o próprio autor do livro.
Alexandre Callari, além de ter participado de coletâneas de contos, é autor de uma trilogia sobre zumbi, Apocalipse Zumbi.
O romance, em questão, conta a história de Adam, recém divorciado, que busca encontrar no sossego de uma pequena cidade do interior brasileiro --- não é especificado sua localidade --- refúgio para momentos de reflexão sobre sua vida. Mas o que Adam menos encontra é sossego, com aparições fantasmagóricas em seu quarto e uma cidade dominada pelo medo. Ao mergulhar no cotidiano da cidade, descobre a existência de um bizarro ritual que se repete há décadas, todo fim de outubro, em que 13 crianças somem de suas famílias, sem que, estranhamente, seus pais denunciem a ausência às autoridades, ou busquem por elas. A investigação sobre as origens do ritual, dá início a inúmeros confrontos com forças sobrenaturais, fantasmas e zumbis.
A Floresta das Árvores Retorcidas é um grande apanhado de clichês de filmes da década de 80, e também de livros famosos de terror, fato dito abertamente pelo próprio autor em entrevistas, por se tratar de uma homenagem a toda a cultura pop que o autor vem consumindo desde sua adolescência, especialmente a obra do escritor estadunidense H.P. Lovecraft, autor que Alexandre Callari dedica um posfácio a descrever a obra deste famoso autor, mostrando a enorme influência dele em seu romance.
Mas vamos ao romance. Este, logo nos primeiros capítulos, traz uma das mais arrepiantes e nojentas cenas já lidas por mim, em que o protagonista transa com um corpo de mulher em decomposição, com todos os detalhes descritos como em um filme de terror gore. Aliás, na história a sexualidade está sempre presente, o que faz a obra se aproximar de uma espécie de porno-terror.
O romance é construído, em grande parte, por diálogos. E aqui, noto um erro bastante comum em obras literárias, que se repete também no referido livro. Alexandre Callari põe um garoto de 8 anos para falar como se fosse adulto, usando termos não usuais para uma criança. Não sei se a intenção foi intencional, emulando roteiros de filmes b, que pouco se importam com coerência. O que sei é que isto torna-se anticlimático, gerou em mim certa estranheza, atrapalhando a suspensão de descrença.
Outro elemento que atrapalha a suspensão de descrença, e também bastante usual em histórias de terror, e presente no livro, são as circunstâncias dispostas pelo autor para facilitar que personagens possam vencer obstáculos impostos pela história, deixando sempre aquela sensação de “ah, mas assim!”; destaque aqui o momento em que o protagonista, munido apenas de uma espingarda calibre 22 e um revólver .38, enfrenta um o vilão, com poderes de comandar mortos e a mente dos vivos, mas que, por um momento, sente o poderio de um revólver .38 e uma espingarda velha calibre 22.
Também não poderia faltar o deus ex machine, artifício tão comum e usado à exaustão em filmes de super heróis, em que um personagem surge repentinamente somente para salvar os outros personagens de um enrascada aparentemente sem solução; o próprio autor para um momento para comentar sobre esse recurso em seu romance, contando sobre seu desenvolvimento na literatura; mas aqui há um agravante. O autor cria uma ótima história sobre o passado da personagem usada apenas como solução para o obstáculo narrativo que, até então, não havia aparecido, para logo em seguida matá-la após ela ter servido aos seus propósitos; mas uma vez o leitor fica com a pergunta: “Para que desenvolver um passado complexo para um personagem que, uma página depois, sairá de cena?”. Ficamos com a sensação de que a história do personagem foi um grande desperdício de tempo e criatividade do autor.