sábado, 26 de março de 2022

CASO DA ESPOSA E O MENDIGO: SURTO PSICÓTICO, PARAFILIA, OU APENAS SEXO CASUAL?



CASO DA ESPOSA E O MENDIGO: SURTO PSICÓTICO, PARAFILIA, OU APENAS SEXO CASUAL?


O caso do personal trainer que pegou sua mulher mantendo relações sexuais em seu carro com um mendigo após esta ter saído para fazer doações a moradores de rua, se tornou a notícia mais comentada dos últimos tempos, principalmente após a entrevista de Givaldo Alves, o morador de rua, de 48 anos, espancado por Eduardo Alves, o marido traído, de 31 anos, contando como aconteceu o ocorrido em seus mínimos detalhes. 



Durante sua primeira entrevista, o mendigo declarou que tudo foi consensual e prazeroso para Sandra Mara Fernandes, de 33 anos, a esposa, enquanto para Eduardo Alves, o marido, a esposa teve um surto psicótico; por sua vez, a esposa declarou que só manteve relações sexuais com o mendigo porque viu nele a imagem de Deus e do marido. Após o surto, segundo o marido, Sandra Fernandes foi recolhida a tratamentos psiquiátricos em uma casa de saúde mental, na cidade de Planaltina, no estado de Goiás, onde ocorreu o fato.



Mas com quem estaria a verdade, com o mendigo falastrão que surpreendeu o público com seu linguajar poético, afirmando que a esposa o procurou em busca de prazer sexual, ou com a esposa que relatou o fato como efeito de um surto alucinatório?


Alucinações Religiosas

Alucinações religiosas são mais comuns do que se  pensa, uma vez que o clima religioso, a crença fervorosa e a dedicação exigida, são capazes, sim, de sugestionar o devoto fazendo-o interpretar fatos de acordo com suas crenças, ou mesmo ter alucinações causadas por sugestões religiosas, produzindo até mesmo alucinações sexuais, como é o caso da cultuada santa espanhola Santa Teresa d’Ávila (1515 - 1582).


Durante seus êxtases religiosos Santa Tereza d’Ávila tinha em sua mente imagens religiosas que se assemelhavam muito a relações sexuais com o próprio Deus;  relatou ela em um de seus belos escritos:


“Vi na sua mão uma comprida lança de ouro, em cuja ponta de ferro havia um pequeno fogo. Ele parecia enfiá-la de vez em quando no meu coração, até perfurar minhas entranhas; e quando a puxava para fora arrastava tudo consigo, e me deixava em chamas, com um grande amor por Deus. A dor era tão grande que me fazia gemer; e no entanto era tão extraordinária a doçura dessa dor excessiva que eu não queria que ela parasse”.


Escultura de Bernini (1598 - 1680)  Retratando Madre Teresa d'Ávila

Substitua a lança por um pênis, e você verá a descrição de uma relação sexual com Deus; claro que a descrição recorre a elementos simbólicos para o ato sexual, afinal é uma freira que nos relata suas alucinações religiosas. 


E se o mesmo tivesse ocorrido com a esposa do personal trainer traído, ela  diferente de uma freira, não teria necessidade de recorrer a símbolos para descrever o ato sexual, ela cometeria o ato, sem pudor e em total entrega, afinal para ela seria um ato de amor com o próprio Deus.


Detalhe da Escultura de Bernini Mostrando o Semblante de Prazer da Santa


Mas o ato sexual entre a esposa e o mendigo parece ter acontecido sem os sintomas de um surto psicótico, pois surtos psicóticos são acompanhados de sofrimento, angústia, ansiedade, desespero, o que faria com que a esposa não se entregasse por completo ao ato sexual, e provocaria nela comportamentos exagerados, gritos, falas altas, etc., o que teria chamado a atenção dos moradores próximos, o que não ocorreu, ocorrendo somente quando o marido passou a gritar, socar o carro e bater no mendigo.



Mas se não foi um surto psicótico, nem alucinação religiosa, poderia ter outra causa psicológica? Sim, ela poderia  ter tido relações sexuais sob influência  de parafilia.


Parafilia

Parafilia é o nome que se dá a desejos sexuais incomuns. Algumas delas:  

Masoquismo: sexo acompanhado com o prazer de ser humilhado ou espancado;

Voyeurismo: prazer sexual em ver pessoas transando;

Fetichismo: quando o prazer sexual é por partes dos corpos que não estão ligados diretamente ao sexo, como excitação por pés, mãos, cabelos, etc., ou por objetos acoplados ao ato sexual, como  sapatos de salto atos, roupas de couro pretas; e também prazer por odores de roupas íntimas usadas, etc.


Entre essas várias formas de parafilia, uma poderia ter influenciado o sexo de  Sandra Fernandes com o mendigo, trata-se da RIPAROFILIA, que é a atração sexual de certos indivíduos por mulheres/homens sujos, de baixa condição social e higiênica, que  tem na figura dos moradores de rua seu maior representante.


A Riparofilia de Sandra poderia ter surgido através de sua assistência religiosa aos mais necessitados, por meio de associações simbólicas entre os necessitados e o amor de Deus, tornando-se objeto de fantasias sexuais, e fortalecendo-se ainda mais por meio do prazer da transgressão, pois, como sabemos, tudo que é proibido torna-se mais atraente. E após suas fantasias terem atingido o ponto mais alto de intensidade, encontrou o momento propício para sua realização no encontro com o mendigo Genival Alves.


Quais dessas possibilidades você apostaria ser a verdadeira?


segunda-feira, 14 de março de 2022

CASPAR DAVID FRIEDRICH: UM PINTOR GÓTICO



CASPAR DAVID FRIEDRICH: UM PINTOR GÓTICO

Sublime é a sensação que sentimos quando contemplamos a imensidão de algo que nos ultrapassa em tamanho, poder ou intensidade, que excede nossa capacidade de entendimento, que nos causa ao mesmo tempo admiração e terror.


Caspar David  Friedrich

E poucos pintores captaram tão bem a relação entre o homem e o sublime, quanto o alemão Caspar David Friedrich (1774 - 1840), mostrando a insignificância do homem perante a imensidão e poder da natureza.



Suas abadias e antigos cemitérios em ruínas, símbolo da ação do tempo, que tudo destrói, mostra ao homem sua finitude e a incontrolável a ação do tempo, que juntas de suas árvores desfolhadas e retorcidas, com seus galhos feito garras, transmitem, por excelência, uma atmosfera de desolação e solidão, que anos depois, seriam usadas em filmes de terror.








segunda-feira, 7 de março de 2022

RELATO DO LEITOR: A Rua do Cemitério (por Bosco Silva)



A Rua do Cemitério (por Bosco Silva)

A casa dos meus avós maternos ficava em uma encruzilhada. Bem ao lado direito dela havia a estrada de terra batida, por onde os ônibus de viagem chegavam; na frente da casa, a rua que passava pela entrada do único cemitério da cidade.


Numa das noites de férias, durante minha infância, no silêncio profundo da sala clareada pela fraca luz de uma lamparina, deitado na rede, sem sono, único que aparentava estar acordado tarde da noite, passei a ouvir de repente um estranho barulho, que no inicio não chamou-me atenção, mas com sua repetição, logo fiquei atento a ele. Era um barulho surdo como um baque que parecia ser dado diretamente no chão; o barulho começou baixo dando a impressão de que soava distante, vindo da estrada de terra batida; o som era seguido de um pequeno intervalo, quando ressurgia mais alto, indicando estar se aproximando da casa; até que, após outro breve silêncio, o baque ressoou bem ao lado da casa… Nesse instante senti uma mistura de medo e apreensão, pois imaginava que o próximo baque fosse dentro da casa, ou, quem sabe, próximo da minha rede; e assim permaneci, esperando assustado pelo próximo baque. Mas, após outro intervalo, este ressoou mais adiante, já na rua da frente, aparentando ter dobrado a esquina e seguido em direção ao cemitério.


Me embrulhei no lençol e acabei dormindo. Na manhã seguinte, ainda intrigado com o estranho barulho, fui até o quintal e dei de cara com a enorme mangueira que havia lá, cheia de frutos. Pensei que aquele barulho poderia muito bem ser explicado pelo cair das mangas durante a madrugada; mas não me convenci por completo, pois forçosamente também teria que ter ouvido o som da folhagem e dos galhos quebrados produzidos pela queda dos frutos. Perguntei então ao meu avô, o que seria aquilo. Ele, em um tom tranquilizador, disse que eram pescadores que, ao seguirem para a maré com remos nas mãos, tinham o hábito de bater com eles no chão enquanto caminhavam. Bem, a explicação também não me convenceu por completo, pois o som não parecia se deslocar com a mesma velocidade de alguém andando e teria que ter um número maior de baques, um para cada passo. Seja como for, ate hoje aquele estranho barulho ainda me intriga.