quarta-feira, 3 de abril de 2024

O QUÊ? UMA VAMPIRA NA AMAZÔNIA?

EM 1896, BELÉM enriquecia com a venda da borracha amazônica. Os Fazendeiros prosperavam, da noite para o dia, construindo luxuosos palacetes com materiais importados da Europa, e suas esposas e filhas mandavam suas roupas para o velho continente para serem lavadas e tomavam banho com água mineral importada de Londres (*).

O Theatro da Paz era o centro da vida cultural da Amazônia, com artistas vindos da Europa. Entre eles, uma chamou especial atenção por sua grande beleza: a encantadora cantora lírica francesa Camille Monfort, que causou desejos inconfessáveis nos ricos senhores e ciúmes atrozes em suas esposas.

Camille provocou indignação por seu comportamento livre das convenções sociais de seu tempo. Ela era vista seminua a dançar pelas ruas de Belém enquanto se refrescava sob a chuva da tarde; também despertou curiosidade dos que a viam em solitários passeios noturnos, com seu longo vestido negro à beira do Rio Guajará em noites de lua cheia.

Para aonde ia, sempre foi um grande mistério, nunca revelado nem mesmo por aqueles que a seguiam, pois ela parecia desaparecer dentro da noite feito um animal noturno.

Rumores maliciosos logo se espalharam sobre ela. Dizia-se que era amante do influente magnata Francisco Bolonha, que a trouxera da Europa e que lhe dava banho com caríssimas champanhes na banheira; que ela tinha o poder de hipnotizar o público com sua linda voz; de fazer homens escravos de sua vontade, de fazê-los jogar-se aos seus pés após os concertos; de arruinar casamentos por puro prazer e, devido sua palidez e uma suposta doença adquirida em Londres, de fazer jovens mocinhas desmaiar em seus concertos para lhes roubar o sangue que, supostamente, a mantinha jovem para sempre.

O que, curiosamente, coincidiu com relatos de desmaios nas dependências do teatro durante seus concertos, que eram explicados como apenas o efeito da forte emoção produzida por sua música aos ouvidos do público.

Dizia-se também que ela possuía o poder de se comunicar com os mortos e materializar seus espíritos em sessões mediúnicas. Eram, sem dúvida, as primeiras manifestações na Amazônia do que viria a ser chamado de espiritismo, praticados em misteriosos cultos nos palacetes da cidade.

No final de 1896, um terrível surto de cólera dizimou grande parte da população de Belém, fazendo de Camille uma de suas vítimas, sendo sepultada no Cemitério da Soledade.

Hoje, sua sepultura ainda está lá tomada pelo limo, musgo e pelas folhas secas, sob uma enorme mangueira que faz seu túmulo mergulhar na obscuridade de sua sombra, apenas clareada por alguns raios de sol que se projetam por entre suas folhas verdes. É um mausoléu de linhas neoclássicas com um portão fechado por um velho cadeado enferrujado, de onde se pode ver um busto feminino em mármore branco sobre a ampla tampa do túmulo abandonado; e, fixado à parede, uma pequena imagem emoldurada de uma mulher vestida de preto; em sua lápide pode-se ler a inscrição: 

Aqui jaz

Camille Marie Monfort (1869 – 1896),

A voz que encantou o mundo.

Mas há aqueles que, ainda hoje, dizem que seu túmulo está vazio, que sua morte não passara de encenação para acobertar seu caso de vampirismo, e que Monfort ainda vive na Europa, aos 155 anos de idade.

Hoje, sua história se resume apenas a uma obscura lenda urbana: “Que aquele que depositar uma rosa vermelha sobre seu túmulo, à noite, não se assuste se, ao amanhecer, a rosa tenha se tornado sangue”.

Camille Marie Monfort, cuja a vida logo fora tomada pelas brumas do tempo, foi uma dessas enigmáticas criaturas que deixou de ser história para se tornar lenda.

Aqui é contada um pouco de sua história (**).

* Devido a água da região ser barrenta e amarelar as roupas. 

** Prólogo do Romance “Após a Chuva da Tarde”.

Pedidos Pelo Link: https://loja.uiclap.com/titulo/ua53303/

Nenhum comentário:

Postar um comentário