JANTAR SECRETO (RESENHA)
Quatro amigos de infância, Dante, Miguel, Hugo e Leitão, vindos do interior do Paraná para cursar faculdade no Rio de Janeiro, descobrem que estão devendo os últimos pagamentos do aluguel do apartamento que dividem entre si, devido um deles, Leitão, o responsável pelo pagamento, ter gasto os últimos pagamentos com uma garota de programa. Então, passam a procurar uma forma de conseguir dinheiro para saldar a dívida, e encontram em um site gastronômico que organiza encontros para jantares, a forma viável de arrumarem dinheiro. Só que Leitão, o amigo responsável por inscrever os amigos no site, decide, por pura brincadeira, dizer que o jantar será feito de carne humana. E para a surpresa deles, há pessoas que aceitam e que depositam uma boa soma de dinheiro para realizar a bizarra experiência. O que leva os quatro amigos a se verem tentados a realizar tal jantar secreto e a planejar uma forma de encontrar um cadáver para servir como prato principal da noite.
Esta é a sinopse do romance Jantar Secreto, lançado em 2016, do mais famoso escritor brasileiro da atualidade, Raphael Montes.
Raphael Montes é um escritor corajoso, por seus livros tocarem em temas pesados e cheios de gatilhos (suicídio, perversidade, violência contra mulher e canibalismo), temas que, na era do politicamente correto, poderiam tê-lo feito ser rejeitado pelas editoras brasileiras ou cancelado, o que surpreendentemente não aconteceu; em grande parte isso se deve a sua escrita leve e fluída que ajuda a amenizar a brutalidade e seriedade de seus temas; mas, por outro lado, possui seus inconvenientes.
No romance Jantar Secreto o autor utiliza imagens bastante nojentas, grotescas e gráficas que lembram filmes como O Massacre da Serra Elétrica e O Albergue e, mais uma vez, encontramos uma escrita fluída, que explora fatos curiosos sobre seus personagens, quanto a gostos e comportamentos particulares, despertando o interesse do leitor.
O livro possui um bom ritmo, uma trama que pega o leitor logo nas primeiras páginas, sendo pura adrenalina, com seus diálogos soando familiar, se assemelhando bastante aos diálogos que lembram filmes juvenis da Sessão da Tarde e novelas da Globo. No entanto, essa forma de diálogo tem seu inconveniente: aparenta muito distante da realidade, pois ninguém realmente fala daquele jeito, soando extremamente artificial, principalmente quando o diálogo tem como foco assuntos pesados e bizarros, como o canibalismo, prejudicando a imersão do leitor à trama do livro, já que os diálogos tratam o ato de devorar pessoas como um assunto corriqueiro, do dia a dia.
Em um de seus capítulos, por exemplo, o autor utiliza o recurso de emular uma conversa via WhatsApp, o que é uma ótima ideia e bem atual, porém ele insere nos diálogos os habituais memes engraçados mesmo quando o assunto da conversa entre os quatro amigos é o roubo de um cadáver de hospital para ser servido como jantar.
O motivo que levou os quatro amigos a se envolverem com canibalismo, o pagamento do aluguel atrasado do apartamento, também não parece ser tão sério (com a mãe de um deles se oferecendo a pagar e sendo negado pelo filho por questão de orgulho) ao ponto de justificar a atitude tão drástica tomada por eles, o que dá à trama um tom forçado.
Raphael Montes |
Há também o excesso de expressões gordofóbicas direcionadas ao personagem Leitão, um rapaz com obesidade mórbida, que ganha um tom ainda mais irônico quando se sabe que Leitão não é um apelido, mas seu sobrenome. O narrador usa a todo momento termos depreciativos, recorrendo a expressões que remete a mal cheiro, preguiça excessiva e a falta de interesse provocado nas mulheres, quando quer se referir a sua obesidade, que me incomodaram mesmo eu sendo magro.
Mais, sem dúvida, Jantar Secreto tem seus méritos.
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