Foi, sem dúvida, durante a Revolução Francesa que a maior quantidade de cabeças humanas foram decepadas em menor período de tempo, e com eficiência nunca visto antes; eficiência garantida com a volta de um antigo instrumento de morte, que já havia sido usado desde o império romano, mas que havia sido esquecido na França, porém, estava de volta desta vez muito mais aperfeiçoado, que ficou conhecido pelo nome daquele que foi o responsável por sua reutilização no ofício da morte: a guilhotina, nome derivado do médico francês Joseph-Ignace Guilhotin (1738 - 1814).
Joseph-Ignace
Guilhotin após ter verificado que grande parte dos condenados à morte por
enforcamento não morriam instantaneamente, com seu sofrimento se prolongando
por um longo tempo; e mesmo pessoas que tinham a cabeça decepada por machado ou
espada, em geral, não morriam ao primeiro golpe, necessitando de golpes a mais
para terminar com seu sofrimento, o que o motivou a ver no antigo instrumento
da guilhotina o instrumento ideal para dar uma morte instantânea com o mínimo
de sofrimento possível aos condenados.
A
guilhotina se constituía de uma armação de madeira onde o condenado era posto
de bruço com a as mãos amarradas à suas costas, e tinha o pescoço preso por uma
pequeno orifício entre duas tábuas de madeira que se fechavam o
impossibilitando de mexer a cabeça, tendo uma pesada e grande lâmina içada por
uma corda por uma trave de madeira logo acima de seu pescoço, e, em seguida,
solta, e pela ação da gravidade, decepava sua cabeça fazendo-a cair em um
cesto, e posteriormente levantada pela mão do carrasco e mostrada para o
público.
A
guilhotina mostrou-se tão eficaz que até 1977 ainda era usada na França como
instrumento usado em prisioneiros condenados à morte.
De
fato, a guilhotina se demonstrou tão eficaz e tão rápida que durante as
milhares de execuções durante a Revolução Francesa muitas pessoas passaram a
observar que logo após as cabeças terem sido decepadas estas ainda conservavam
os olhos e lábios em movimento, como se olhassem para o público e tentassem
balbuciar algumas palavras com expressão de ódio estampado em seus rostos. O
que gerou relatos monstruosos sobre prisioneiros que mantiveram expressões
faciais mesmo após terem suas cabeças separadas do corpo, como os casos famosos
contados sobre famosas personalidades da época.
Há o
relato sobre a assassina do revolucionário francês Jean-Paul Marat, morto
durante a Revolução Francesa por Charlotte Corday; este relato afirma que após
a decapitação pela guilhotina, e durante a exibição de sua cabeça ao público,
sua cabeça recebeu um tapa do assistente do carrasco ao que a cabeça corou e
respondeu com “uma última expressão de repúdio a esta ofensa a sua dignidade”.
Antoine
Lavoisier foi um importante químico e um nobre rico que durante a Revolução
Francesa caiu sob o poder de seus inimigos políticos, o que lhe valeu conhecer
bem de perto a lâmina afiada da guilhotina. Dizem que Lavoisier era um homem
tão afeito a experiências científicas que mesmo perante sua execução pela
guilhotina aproveitou para realizar sua última experiência. Lavoisier combinou
com um amigo que após sua decapitação continuaria piscando para provar que
ainda estava vivo, fato que seria acompanhado pelo amigo. Lavoisier teria
piscado por aproximadamente 15 segundos após sua cabeça ter sido decapitada.
Contudo,
mesmo em decapitação não provocada pela guilhotina, mas por outros meios como
em acidentes ou explosões, os relatos se assemelham como o relato proferido em
1986 por um soldado que relatou após ter sofrido um acidente ao lado de um
amigo que perdeu a cabeça, descreveu a expressão do colega: “Primeiro foi um
choque ou uma confusão, depois foi terror e tristeza”. Ele ainda relatou que o
colega movimentou os olhos, direcionando-os em direção ao amigo, ao próprio
corpo e ao amigo novamente, olhando-o diretamente nos olhos.
E já
durante a Revolução Francesa perguntas morbidamente curiosas tomaram conta do
público: “As cabeças decepadas ainda continuavam vivas, a observar o carrasco e
o público a festejar sua morte?”, “E por quanto tempo?”.
Na
época, a ciência ainda não possuía conhecimento suficiente para responder a
tais perguntas, o que motivou alguns escritores a achá-las dentro dos limites
de sua arte; foi quando tais perguntas passaram a ser temas de contos de
terror.
No
conto “Pensamentos e Visões de um Decapitado”, o pintor e escritor belga
Antoine Wiertz (1806 - 1865) descreve as sensações sentidas por alguém que
acaba de ser decapitado na guilhotina; já na obra prima do conto de horror “O Segredo da Guilhotina”, o escritor Villiers de L’isle Adam descreve o acordo
que um médico, a fim de saber se uma cabeça decepada permanece consciente por
alguns minutos, faz com um prisioneiro, também médico, prestes a morrer
decapitado na guilhotina; o acordo é de que após ele ter a cabeça decepada,
pisque três vezes como prova de que a cabe humana decapitada ainda se mantém
vivo e consciente por alguns momentos.
Hoje
ainda há muitas dúvidas mas já sabemos algumas coisas. Sabemos, através de
pesquisas realizadas em 2011 pela universidade holandesa de Radboud Nijmegen em
cérebros de ratos decapitados que o cérebro desses animais mantém ondas
cerebrais de até 100 Hz suficiente para manter a consciência viva por 4
segundos. E há estudo com outros animais que sugere que estes podem sentir e
pensar por até 26 segundos.
Embora
isto possa parecer um tempo bastante pequeno, porém temos que reconhecer que
mesmo 4 segundos parece ser bastante tempo para quem estiver sentindo muita dor
e desconforto como parecer ser o caso dos decapitados, o que dirá 26 segundos!
E com os humanos aconteceria o mesmo? Por quanto tempo? Estas perguntas ainda
se mantém sem respostas precisas ainda hoje.
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