terça-feira, 15 de setembro de 2015

A BELEZA DA FEIURA: O GROTESCO NAS ARTES


O GROTESCO NAS ARTES OU A BELEZA DA FEIURA
É enorme a busca desenfreada pela beleza nos tempos atuais: padrões de beleza são impostos às mulheres pela indústria da beleza, e muitas chegam a sacrificar a própria saúde em busca da beleza ideal; clínicas de beleza e de cirurgias plásticas ganham milhões vendendo a promessa de que ser belo é a chave para a felicidade; em fotos, como forma de preencher os requisitos quase impossíveis dos padrões de beleza atuais, investe-se cada vez mais nos efeitos do photoshop; nas redes sociais ostentar beleza é muito mais importante do que ser companheiro, sincero, amigo etc.,
para se fazer novas amizades; em programas de televisão e teatro ser belo passou a ser uma exigência para o sucesso, bem mais importante que o talento para artes cênicas; em anúncios de empregos anuncia-se a exigência de que o candidato tenha “boa aparência”, mesmo que ele trabalhe em ambiente fechado e só. A beleza passou a ser a qualidade mais importante dos tempos modernos, a pedra filosofal buscada por todos.
Porém, esta busca desenfreada pelo belo não é nenhuma novidade nas artes, tanto que a arte já foi definida como a representação do belo, do sublime.


Gregos antigos buscavam a beleza ideal do corpo humano
Os antigos gregos tinham uma verdadeira obsessão pela beleza, tanto que padronizaram o belo, matematicamente, descobrindo que o que era belo no mundo obedecia a certas regras de proporção, dirigida pela chamada Lei Áurea. Assim um rosto belo obedecia tanto a esta regra quanto uma bela árvore. E daí não custaram a passar esta regra para as obras de arte.
Este ideal grego permaneceu até o período da Renascença quando vozes geniais se levantaram contra a ditadura da beleza nas artes.


"Uma Velha Grotesca" de Quinten Massys. 
Um quadro extremamente belo da feiura.
Leonardo da Vinci foi um destes gênios que embora cultuasse o belo em seus quadros famosos, cultuava também, em segredo, figuras desproporcionais, feias, que eram minunciosamente desenhadas e estudadas por ele em seus famosos cadernos de desenhos.


Estudos de desenho, de Leonardo da Vinci

Contrariando a cultura grega, ele sabia que o desproporcional, o feio, é importantíssimo, pois é ele que serve de contraste a beleza, é justamente o feio que dá valor de beleza ao belo, servindo de comparação, de fundamento, pois em um mundo onde houvesse apenas coisas belas, a beleza perderia o sentido, se diluiria no nada.
Neste momento a filosofia passou a questionar qual seria a verdadeira função das artes, seria mesmo apenas a descrição do que é belo, descartando o feio como algo sem valor?
Nas artes plásticas, assim como na literatura, para muitos pintores e escritores, a arte devia espelhar a realidade, e muitas vezes - talvez em sua maior parte -, a realidade, o comum, não seria composto daquilo que os gregos definiam como a beleza suprema; por isso o feio não deveria ser descartado como poeira para baixo do tapete.



O grotesco moral retratado por Marquês de Sade em suas histórias

Na França, em pleno século XVIII, o escritor Marquês de Sade usa do grotesco, das perversões mais repulsivas, para chocar e criticar a moral descabida da hipócrita sociedade de sua época.
Aos poucos, como vemos, o grotesco passou a ter seu valor artístico reconhecido.
Em terras brasileiras Augusto dos Anjos nadou contra a maré dos que cultuavam a beleza nas Belas letras. Sua escrita, muitas vezes carregada de termos científicos, trazia temas considerados por demais horrendos e mórbido para a poesia nacional, como cadáveres pútridos, entranhas e o mais tétrico sentimento perante a morte, descrito por meio de expressões nem um pouco belas, pelo menos para as letras nacionais.


Acima, o uso do grotesco em aviso contra o ato de fumar

Recentemente, fiz uma estória com base em um tema bastante usado em poesia, NECROFILIA, como um teste para saber como as pessoas reagiriam ao ler um tema relativamente comum a literatura romântica, porém sem expressões bonitas, sem tom poético, como encontramos em Álvares de Azevedo, e em escritores consagrados internacionalmente como Lord Byron, tentando ser realista ao máximo sobre o tema. E o resultado é que pessoas acostumadas com o tema, ficaram HORRORIZADAS, ele chegou a ser apagado do Facebook.


É interessante como o tom poético acaba fazendo tudo ser mais aceito, inclusive um ato tão monstruoso quanto a necrofilia. Se eu tivesse usado expressões poéticas, floreados adocicados, como pude comprovar vendo trabalhos recentes no Facebook, que não espelham e camuflam a realidade, o conto não teria sido apagado. Mas como o conto foi monstruoso, porém realista, ele foi rejeitado. MORAL DA HISTÓRIA: as pessoas tentam sempre fugir da realidade, e a busca desenfreada pela beleza parece ser um velho modo.
Abaixo, obras de alguns artistas que tem o grotesco como forma de expressão:


"Big Boy" de Van Minnen

"O Homem Porco" de Liu Xue

Beau White

"Mulher Parindo" de Mueck

Anton Semenov

Mat Tusenfot



Giovani Bortolani

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