O GROTESCO NAS ARTES OU A BELEZA DA FEIURA
É enorme a
busca desenfreada pela beleza nos tempos atuais: padrões de beleza são impostos
às mulheres pela indústria da beleza, e muitas chegam a sacrificar a própria
saúde em busca da beleza ideal; clínicas de beleza e de cirurgias plásticas
ganham milhões vendendo a promessa de que ser belo é a chave para a felicidade;
em fotos, como forma de preencher os requisitos quase impossíveis dos padrões
de beleza atuais, investe-se cada vez mais nos efeitos do photoshop; nas redes
sociais ostentar beleza é muito mais importante do que ser companheiro,
sincero, amigo etc.,
para se fazer novas amizades; em programas de televisão e teatro ser belo passou a ser uma exigência para o sucesso, bem mais importante que o talento para artes cênicas; em anúncios de empregos anuncia-se a exigência de que o candidato tenha “boa aparência”, mesmo que ele trabalhe em ambiente fechado e só. A beleza passou a ser a qualidade mais importante dos tempos modernos, a pedra filosofal buscada por todos.
para se fazer novas amizades; em programas de televisão e teatro ser belo passou a ser uma exigência para o sucesso, bem mais importante que o talento para artes cênicas; em anúncios de empregos anuncia-se a exigência de que o candidato tenha “boa aparência”, mesmo que ele trabalhe em ambiente fechado e só. A beleza passou a ser a qualidade mais importante dos tempos modernos, a pedra filosofal buscada por todos.
Porém, esta busca
desenfreada pelo belo não é nenhuma novidade nas artes, tanto que a arte já foi
definida como a representação do belo, do sublime.
Gregos antigos buscavam a beleza ideal do corpo humano |
Os antigos gregos tinham
uma verdadeira obsessão pela beleza, tanto que padronizaram o belo,
matematicamente, descobrindo que o que era belo no mundo obedecia a certas
regras de proporção, dirigida pela chamada Lei Áurea. Assim um rosto belo
obedecia tanto a esta regra quanto uma bela árvore. E daí não custaram a passar
esta regra para as obras de arte.
Este ideal grego
permaneceu até o período da Renascença quando vozes geniais se levantaram
contra a ditadura da beleza nas artes.
"Uma Velha Grotesca" de Quinten Massys.
Um quadro extremamente belo da feiura.
|
Leonardo da Vinci foi um destes
gênios que embora cultuasse o belo em seus quadros famosos, cultuava também, em
segredo, figuras desproporcionais, feias, que eram minunciosamente desenhadas e
estudadas por ele em seus famosos cadernos de desenhos.
Estudos de desenho, de Leonardo da Vinci |
Contrariando a cultura
grega, ele sabia que o desproporcional, o feio, é importantíssimo, pois é ele
que serve de contraste a beleza, é justamente o feio que dá valor de beleza ao
belo, servindo de comparação, de fundamento, pois em um mundo onde houvesse
apenas coisas belas, a beleza perderia o sentido, se diluiria no nada.
Neste momento a filosofia
passou a questionar qual seria a verdadeira função das artes, seria mesmo
apenas a descrição do que é belo, descartando o feio como algo sem valor?
Nas artes plásticas,
assim como na literatura, para muitos pintores e escritores, a arte devia
espelhar a realidade, e muitas vezes - talvez em sua maior parte -, a
realidade, o comum, não seria composto daquilo que os gregos definiam como a
beleza suprema; por isso o feio não deveria ser descartado como poeira para
baixo do tapete.
O grotesco moral retratado por Marquês de Sade em suas histórias |
Na França, em pleno
século XVIII, o escritor Marquês de Sade usa do grotesco, das perversões mais
repulsivas, para chocar e criticar a moral descabida da hipócrita sociedade de
sua época.
Aos poucos, como vemos, o
grotesco passou a ter seu valor artístico reconhecido.
Em terras brasileiras
Augusto dos Anjos nadou contra a maré dos que cultuavam a beleza nas Belas
letras. Sua escrita, muitas vezes carregada de termos científicos, trazia temas
considerados por demais horrendos e mórbido para a poesia nacional, como
cadáveres pútridos, entranhas e o mais tétrico sentimento perante a morte,
descrito por meio de expressões nem um pouco belas, pelo menos para as letras
nacionais.
Acima, o uso do grotesco em aviso contra o ato de fumar |
Recentemente, fiz uma
estória com base em um tema bastante usado em poesia, NECROFILIA, como um teste
para saber como as pessoas reagiriam ao ler um tema relativamente comum a literatura
romântica, porém sem expressões bonitas, sem tom poético, como encontramos em
Álvares de Azevedo, e em escritores consagrados internacionalmente como Lord
Byron, tentando ser realista ao máximo sobre o tema. E o resultado é que pessoas
acostumadas com o tema, ficaram HORRORIZADAS, ele chegou a ser apagado do
Facebook.
É interessante como o tom poético acaba fazendo tudo ser mais aceito,
inclusive um ato tão monstruoso quanto a necrofilia. Se eu tivesse usado
expressões poéticas, floreados adocicados, como pude comprovar vendo trabalhos recentes
no Facebook, que não espelham e camuflam a realidade, o conto não teria sido
apagado. Mas como o conto foi monstruoso, porém realista, ele foi rejeitado.
MORAL DA HISTÓRIA: as pessoas tentam sempre fugir da realidade, e a busca
desenfreada pela beleza parece ser um velho modo.
Abaixo, obras de alguns artistas que tem o grotesco como forma de expressão:"Big Boy" de Van Minnen |
"O Homem Porco" de Liu Xue |
Beau White |
"Mulher Parindo" de Mueck |
Anton Semenov |
Mat Tusenfot |
Giovani Bortolani |
Nenhum comentário:
Postar um comentário