George Brassaï |
Miguel
recebe uma carta de um amigo (Batista) do passado marcando um encontro em um
bar, se despede de sua esposa Iolanda que está dormindo na cama e segue para o
encontro.
No bar,
Batista está fumando um cigarro sentado em uma mesa com uma garrafa de cerveja
e dois copos sendo um vazio. Uma maleta
preta está no chão ao lado da cadeira e um casal está conversando em uma mesa
próxima.
Miguel entra
no bar e segue em direção ao velho amigo. Batista esboça um leve sorriso,
levanta. Os dois ficam frente a frente e num gesto rápido Batista abraça Miguel
e diz: Obrigado por vir amigo.
Os dois
sentam, Batista enche o copo mas deixa o de Miguel vazio, este percebe a falha
mas não comenta, apenas olha para o copo.
Batista olha
triste para Miguel: Perdão, amigo.
Batista
baixa a cabeça para não olhar Miguel nos olhos.
Miguel:
Perdão por quê?
Batista:
Carrego comigo o que antes era uma grande alegria e hoje em dia é um imenso
pesar.
Miguel: Faz
muito tempo que não nos falamos, o que aconteceu com você?
Batista:
Como disse, fui vítima de uma grande alegria. Conheci uma mulher.
Miguel:
Vítima? Porque vítima?
Batista: Não
me interrompa!
Batista bate
com as mãos fechadas na mesa.
O casal
próximo se espanta.
Miguel
também se espanta, mas não diz nada.
Batista bebe
toda a cerveja do copo e enche novamente e o copo de Miguel continua vazio.
Batista:
Perdão, amigo.
Miguel
apenas observa.
Batista com
um leve sorriso: Ela é linda, a mulher mais linda que já vi na vida. Um rosto
perfeito com traços delicados, uma boca desenhada, perfeita, sabe, e olhos...ah
os olhos...me perdi no infinito daqueles olhos.
Miguel
acende um cigarro.
Miguel diz
apagando o fósforo: Ela deve ser linda mesmo.
Batista:
Como o mais belo dos anjos jamais será. Me perdi amigo, me perdi naquela
mulher...por isso que sou vítima dessa alegria, antes de conhecê-la não existia
razão nenhuma em minha vida. Como uma sombra vagando sem corpo, porque isso nos
acontece? Talvez seja por isso que existimos, somos meros bobos da corte onde
um rei barbudo e gordo se entope de vinho despejando em nós todo tipo de desgraça para seu divertimento. Fica ali,
em seu trono, apático, esperando...e a o chegar o ápice da ópera...ele...ri.
Batista
levanta o copo e olha em seu interior e depois para Miguel.
Batista: É
justo meu amigo?
Miguel em tom irônico: Você me chamou para me falar
de uma mulher que te faz sofrer? Não é a primeira vez e nem a última que isso
acontecerá com um homem.
Batista se
irrita e grita: NÃO ZOMBE DE MIM MIGUEL!!!
Copo da mesa
do casal próximo cai no chão e quebra.
Casal
próximo olha assustado para a mesa de Batista.
Batista:
Desculpe...desculpe.
Miguel: O
que aconteceu depois?
Batista: O
que aconteceu? Ela se casou meu amigo. E não tive a coragem para lhe dizer o
que sentia, ou melhor, para que ela pelo menos soubesse que existo. Sou um
fantasma para a mulher que amo...um fantasma...Não sou nem isso...
Miguel: Por
que me chamou aqui?
Batista:
Para lhe pedir perdão...perdão.
Batista
arrasta a maleta na direção de Miguel.
Miguel impaciente:
Perdão pelo que? Me diga logo homem.
Batista:
Perdão pelo que irei fazer, pois não
agüento mais o pesar de amar a esposa de meu amigo.
Miguel fica
espantado.
Miguel:
Como? Mas que história é essa?
Batista: No
seu casamento amigo, não tive coragem de entrar na igreja pois ao chegar vi
aquela mulher, Iolanda. Ela sorriu para
mim...e foi como...como se um raio tivesse me atravessado naquele momento.
Fiquei sem ar, sem pulso, sem nada, então corri...corri para longe daquele
lugar. Mas aquela visão continuou a me atormentar e me assombra até hoje.
Chamei você aqui porque tomei uma decisão...a mais difícil de minha vida.
Batista se
levanta e saca uma arma e aponta para Miguel.
Batista:
Perdão, amigo.
Miguel se
levanta espantado: Batista Nã...
O tiro.
Miguel está
paralisado e coberto de sangue.
Batista está
sentado na cadeira com um tiro na cabeça.
As pessoas
correm assustadas.
O Barmam se
aproxima.
A imagem de
Iolanda deitada na cama vem à mente de Miguel.
Miguel se
levanta e esbarra na maleta.
Está perplexo
e não entende o que aconteceu.
Miguel pega
a maleta e sai do bar seguido por uma mulher aos prantos.
Miguel entra
no carro, limpa o sangue do rosto e olha a maleta no banco do carona.
Miguel abre
a maleta. Existe um papel dentro escrito: Perdão, amigo.
Três bip´s,
a bomba explode.
Iolanda
deitada na cama abre os olhos.