quinta-feira, 7 de março de 2013

A MARIPOSA (de Bosco Silva)



Angélica era assim: possuía olhos grandes, frios e foscos de insetos, como aquelas mariposas que contornam lâmpadas sempre pronta a roubar-lhe seu calor e sua luz. E a mim, não foi diferente...
Lembro-me que a conheci em uma noite chuvosa em que, como gatos, buscamos aquecermos em alguém, mesmo que esse alguém nada saiba disso.
Chegou a mim como uma aranha em busca de enrolar-me em suas imperceptíveis teias.
Sem dúvida era bela. Sua beleza tornava-se um chamariz para suas finas teias.
Pediu-me uma bebida. Conversamos. E em questão de minutos eu estava desesperadamente perdido por seus encantos. Levei-a para a intimidade de meu lar. Ali, cheirei-a pela primeira vez. Era tão bom, tão gostoso e viciante. Voltei outras noites para aquele lugar em busca de encontrá-la novamente. Até que isso se tornou uma rotina constante.
Nada mais me importava no mundo, apenas ela, sua doce presença. Angélica tornou-se minha companheira constante. Até que por fim abandonou-me: sugou-me tudo que podia levar consigo e partiu numa noite fria. Hoje, vejo-a a espreitar novos companheiros, em busca de roubar-lhe a luz e o brilho.

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