Bá preparava-se para deitar
quando ouviu a voz cuidadosa de Manguinha entrando pela fresta da janela. Falou
que já ia, depois de vê-lo no portão pela porta entreaberta.
- Quantas vai, meu
filho?
- Eu só queria uma
trouxa, só, mas aí: tô meio caído, morou? Se a senhora me vender, amanhã, antes
do meio-dia, eu trago a grana.
- Fiado eu não vendo,
não, mas se você quiser fumar um comigo é só entrar - disse a velha.
Seu pensamento num
segundo tramou sedução. Havia muito tempo só fazia sexo sozinha. Manguinha
sentou-se no sofá encardido, observou a sala: são Cosme, Do Um e são Damião
iluminados pela lamparina de azeite; uma cristaleira antiga com alguns copos
coloridos; um jogo de chá; a mesinha de centro cheia de objetos domésticos;
teias balançando ao mínimo vento. Bá preparou com capricho o cigarro de maconha
do tamanho de um bonde, mirando endoidá-lo o suficiente para facilitar a
sedução. Acenderam o baseado. A velha afirmou que aquele fumo era especial. Ofereceu
uma dose de uísque ao viciado, disse-lhe que tinha uma rapinha de brizola para
depois de fumarem. Manguinha adorou a idéia. Fumava rápido para poder consumir
a cocaína tão cara e rara de ser encontrada.
A velha sugeriu que
fossem para o seu quarto, alegou que poderia chegar uma de suas filhas, não
queria que elas a vissem cheirando. Desenrolou as cortinas, derramou a droga
num prato quente, apanhou uma lâmina de barbear em cima do guarda-roupa para
trabalhar a cocaína. Enquanto transformava em pó as pedrinhas da brizola, dizia
a Manguinha que não sabia o porquê de ter-lhe tanto afeto, que jamais tinha
cheirado com esse ou aquele freguês, ele era o primeiro e único. Sempre que
quisesse cheirar ou fumar era só dar um toque nela.
- Por que tu não tira
essa calça molhada? Bota ela atrás da geladeira. Seca rapidinho.
- Podes crer! -
concordou.
Aproveitou para tirar a
camisa. Dava corda ao jogo da velha. A pele branca de Manguinha era iluminada
pela luz da lamparina do santo que atravessava a cortina de tecido ralo. Bá
apanhou mais maconha.
- Vamo fumar outro pra
quando a gente cheirar ficar ligadão de uma vez?
A velha pediu que
Manguinha apertasse o baseado, fez dez carreiras de coca no prato. Enquanto
fumava deixava a mão escorregar na perna do viciado, fez isso várias vezes. A
mudez de Manguinha fez com que ela repousasse a mão definitivamente em sua coxa
direita.
- Sua perna é cabeluda! -
disse com voz macia e alongando o som da penúltima sílaba do predicativo.
Manguinha manteve-se
calado. A velha apertava os dedos, aproximou a mão para perto do pau duro do
maconheiro, deixou que ela repousasse ali, o baseado ia pela metade. Num lance
lento segurou o pênis por cima da cueca.
- Hum... o lulu tá
durinho!
Apertava, friccionava
para cima e para baixo. Manguinha agia como se tudo estivesse correndo
normalmente. A velha sabia que ele tinha energia para arrepiá-la com vontade.
"A vida é muito boa", pensou quando fez desabrochar de dentro das garras
da cueca o caralho do viciado. Abocanhou-o no primeiro segundo. Manguinha
sentiu nojo no começo, mas o apetite da velha o fez gozar em pouco tempo. Ao se
recuperar, pediu-lhe que fizesse novamente. Esqueceram a cocaína no prato, o baseado
no cinzeiro, a chuva no telhado. Carcou fundo na velha. O maconheiro, não sabia
por quê, se lembrava de sua mãe, da namorada, dos amigos... Tentou parar com
aquilo, mas não conseguiu, sentia prazer de verdade em encenar aquele ato.
Aos poucos foi ficando
ali como se estivesse perdidamente apaixonado.
Bá se esparramava nos
quatro cantos da cama, nem suas filhas, que eram novas, não tinham varizes,
peito caído, possuíam dentes, tinham conseguido um jovem tão bonito. Quem sabe
um dia poderia sair com ele abraçada pela rua, apresentá-lo às amigas como seu
marido, mas não, era sonhar alto. Se continuasse assim estaria bom demais.
Atingiu o orgasmo várias vezes. Quando sentia que o viciado ia gozar, mesmo
sabendo que ele se recuperava na rapidez dos seus dezoito anos para mandar ver
de novo, diminuía os movimentos para que ele ficasse o maior tempo possível em
cima dela. Quando Manguinha gozava, Sebastiana abocanhava-lhe o pau com
apetite. Era feliz.
*O título não pertence a obra; história extraída do livro "Cidade de Deus". Espero que este trecho estimule a leitura do livro.
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