segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

A MORTE DE EURONYMOUS: UMA HISTÓRIA SOBRE ROCK, SATANISMO E HOMOFOBIA



A MORTE DE EURONYMOUS: UMA HISTÓRIA SOBRE ROCK, SATANISMO E HOMOFOBIA
O ANO ERA 1990. E nas frias terras da Noruega um estilo de música, áspera, com letras que pareciam invocar o próprio inferno, tomava conta da juventude rebelde de Oslo, capital da Noruega. E entre jovens cabeludos que se acotovelavam em shows de bandas que abusavam da distorção de seus instrumentos nascia o “Inner Circle”, grupo formado por jovens músicos noruegueses que tinham em comum o gosto por bandas de Heavy Metal como BLACK SABBATH, MERCYFULL FATE e VENOM, e pela admiração pelo satanismo, assim como o desejo de voltarem a uma época em que os valores de sua terra não haviam ainda sido destruídos pela religião cristã.


A pequena loja de materiais de música, na cidade de Oslo, de sugestivo nome Helvete (“Inferno” em norueguês) era o ponto de encontro para onde iam jovens com estranhos nomes de bandas estampadas em suas camisas negras e cabelos longos. Se reuniam antes ou depois de irem a suas escolas. E enquanto ouviam os novos álbuns tão esperados do BLACK SABBATH e VENOM e repudiavam novas bandas como SEPULTURA, ou comentavam sobre o último show na cidade, era natural incluírem em suas conversas a mitologia nórdica mastigada em livros como “O Senhor dos Anéis”, ou comentários sobre demônios bíblicos.

Euronymous

A loja era propriedade de Øystein Aarseth, um jovem guitarrista de uma futura famosa banda de Black Metal, chamada MAYHEN, que possuía o nome artístico de um demônio babilônico, chamado Euronymous. Por ser dono da gravadora Deathlike Silence e da loja de Rock mais frequentada da cidade, e por estar sempre por dentro das novidades musicais daqueles, hoje, longínquos anos 90 e por fazer parte de uma promissora banda de Black Metal, Euronymous possuía certa liderança na cena do Metal local produzindo bandas como a banda de um homem só, a famosa BURZUM, de Varg Vikernes.

Mayhen
Com o tempo o que era ingenuidade na vida desses jovens rapazes foi tomando ares dramáticos e recheando-se de atos de violência. Para começar em 8 de abril de 1991, o jovem sueco Per Yngve Ohlin, mais conhecido por Dead (Morto, em inglês) vocalista da banda do Euronymous, o MAYHEN, havia se suicidado.

Foto de Dead Morto Usada na Capa do Disco "Dawn of The Black Hearts"

Fato que havia sido presenciado pelo próprio Euronymous ao retornar para a casa de ensaio, que também servia de moradia para os músicos, encontrado seu corpo com a garganta cortada e morto por um tiro de espingarda que lhe estilhaçou o crânio fazendo seu cérebro escorregar literalmente de sua cabeça e cair ao chão. Euronymous, antes de chamar a polícia, iria fotografar a bizarra cena e usar uma de suas fotos como capa de um dos discos do MAYHEN.


E entre os anos de 1992/93, o movimento musical destes jovens músicos deixou de ser apenas musica passando a tomar ares de movimento terrorista, pondo em prática suas ideias e seu ódio ao cristianismo, e se concretizando na queima de igrejas centenárias de sua cidade.
Um nome logo ficaria ligado a tal ato. Varg Vikernes fora apontado como um dos principais lideres do movimento. Sim, o mesmo cara que Euronymous havia ajudado em lançar o seu projeto solo Burzum.

Varg e Euronymous
Nesse período a rivalidade entre Euronymous e Varg Vikernes se acirrava. Ambos se confrontavam por mais poder e influência na cena Black Metal da Noruega.
SATANISMO X ODINISMO



Após a tragédia do suicídio de Dead, o MAYHEN lança o álbum 'De Mysteriis Dom Sathanas', com Átila Csihar, nos vocais, em lugar de Dead, e, curiosamente, Varg Vikernes no baixo.
 'De Mysteriis’ fora um sucesso mas Varg estava descontente, não lhe agradava as ideias de Euronymous, que era partidário do Satanismo, já que para Varg conceber uma união entre o Satanismo e uma postura anti-cristã era algo contraditório pelo fato de Satã pertencer a mitologia judaico-cristã, e só fazer sentido em sua oposição com o deus cristão, fazendo com que o deus cristão fosse algo necessário para a compreensão de Satã, de modo que o Satanismo de Euronymous se mantinha dependente do cristianismo, daí sua contradição. Por outro lado, Varg queria voltar a cultuar a cultura original de seu povo, que fora abandonada em favor do cristianismo. Varg por isso defendia o Odinismo, que venera o Deus Nórdico Odin, pai do Poderoso Thor, a antiga religião de seus ancestrais Viking. O que o levou a sair do MAYHEN e se dedicar a sua banda composta por ele apenas, o Burzum.
O ASSASSINATO DE EURONYMOUS


Euronymous
Contudo a rivalidade entre Varg Vikernes e Euronymous só fazia crescer, até chegar ao auge com o assassinato deste, ocorrido em 10 de agosto de 1993.
A versão de Varg para o assassinato de Euronymous:
"Fui para Oslo pegar uns discos e levar um contrato para o Aarseth, nunca com a intenção de matá-lo. Eu sempre levo armas comigo. Tinha três facas e mais quatro punhais, um machado, uma baioneta e um taco de beisebol no carro. Sempre carrego um monte de armas para o caso de algo acontecer. Toquei a campainha e Aarseth abriu a porta. Parecia cansado, vestia apenas uma cueca. Entreguei o contrato e, de repente começamos a discutir. Entre outras coisas, ele me acusava de dizer merdas sem sentido. Começou a bater em mim. Os covardes ameaçam, os fortes agem. Ele chutou meu peito. Me assustei e o empurrei. Quando se levantou, Aarseth começou a correr em direção a cozinha. Tenho certeza de que procurava uma faca, então peguei uma das minhas e o esfaqueei para que ele não chegasse até a cozinha. Gritou por socorro. Fiquei louco. Ele correu para a entrada da casa e eu fui atrás. Continuei a esfaqueá-lo para que calasse a boca. Meti a faca nele porque estava com raiva. Ele gritava por socorro ao invés de lutar". Sabe-se que um dos motivos para as desavenças entre Varg e Euronymous diz respeito ao lançamento de "Aske", um mini-EP do Burzum, pelo selo de Aarseth. Conta Varg: "Quando o EP foi lançado, eu dei uma entrevista com o propósito de promover o disco. O resultado disso foi que acabei sendo preso pelo incêndio das igrejas. Quando saí da cadeia, Aarseth ainda não tinha lançado o EP."


O Sorridente Varg Vikernes Durante seu Julgamento
Porém temos A versão do cúmplice Snorre W. Ex-guitarrista do Mayhem:
"Ele (Vikernes) falava muito em matar o Aarseth. Um dos planos dele era dar uma machadada assim que ele abrisse a porta. Eu disse que era estupidez andar com um machado numa área tão cheia de prédios. Outra alternativa era pedir para que ele nos mostrasse algo no computador. Poderíamos golpeá-lo no pescoço enquanto estivesse sentado e de costas para nós. Eu estava no carro e após alguns minutos me dirigi à porta do apartamento. Cheguei mais perto, ouvi barulhos lá dentro. De repente, a porta se abriu e Aarseth veio correndo em minha direção. Vi sangue na sala e também Vikernes esfaqueando-o. Então, ambos desapareceram pela escada. Depois de alguns segundos e sem saber o que fazer, corri escada abaixo, passei por eles e saí pela rua. Saímos de Oslo e paramos no lago Opplan, onde Varg tomou banho nu. Ele pegou suas roupas sujas de sangue, amarrou-as numa pedra e atirou tudo na água. No caminho, Varg disse que o atingira na cabeça, no pescoço e nas costas, só que errou a jugular. Disse ainda que era desonroso para um líder da comunidade Black Metal ter morrido de cueca."
INNER CIRCLE E HOMOFOBIA


Euronymous
O que até hoje tem sido exaustivamente contado como causa para o assassinato de Euronymous por Varg Vikernes é que houve desentendimento em relação aos contratos de gravação dos discos de Varg, e que este o matou como auto-defesa, porém outro elemento pode ter feito parte desse grande coquetel que levou Varg Vikernes ao assassinato de Euronymous: a Homofobia.
É sabido que a homofobia era um elemento bastante forte entre os membros do “Inner Circle”, tanto que em 21 de agosto de 1992, Bård “Faust” Eithun, da banda EMPEROR, assassinou um homem no parque olímpico de Lillehammer pelo simples motivo de “era homossexual”. Acabou preso e condenado a 14 anos de encarceramento.
Em entrevista Varg Vikerne disse: “Ele (Euronymous) era ridículo, via filmes pornô o tempo todo, e nós até mesmo desconfiávamos que ele era bissexual ou homossexual! Eu não queria saber de nada que tinha a ver com ele, e eu nunca fiz nada para esconder meu ódio por ele”.
Em sua obra Vargsmål, Varg Vikernes relembra: “Nós zombamos e fazemos piada sobre o Euronymous. Nós não gostávamos dele e ele nos deu vários motivos para isso. Nosso 'amigo' examinou as gavetas do banheiro dele e descobriu um vibrador sujo de merda lá. Se isso não é um bom motivo pra odiar alguém, então me diga qual é então?”
Portanto, a homofobia, ao contrário da pouca importância dada a ela na época, teve papel importante no assassinato de Euronymous.

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