A
MORTE DE EURONYMOUS: UMA HISTÓRIA SOBRE ROCK, SATANISMO E HOMOFOBIA
O ANO ERA 1990. E
nas frias terras da Noruega um estilo de música, áspera, com letras que pareciam
invocar o próprio inferno, tomava conta da juventude rebelde de Oslo, capital da
Noruega. E entre jovens cabeludos que se acotovelavam em shows de bandas que
abusavam da distorção de seus instrumentos nascia o “Inner Circle”, grupo
formado por jovens músicos noruegueses que tinham em comum o gosto por bandas
de Heavy Metal como BLACK SABBATH, MERCYFULL FATE e VENOM, e pela admiração
pelo satanismo, assim como o desejo de voltarem a uma época em que os valores
de sua terra não haviam ainda sido destruídos pela religião cristã.
A pequena loja de
materiais de música, na cidade de Oslo, de sugestivo nome Helvete (“Inferno” em
norueguês) era o ponto de encontro para onde iam jovens com estranhos nomes de
bandas estampadas em suas camisas negras e cabelos longos. Se reuniam antes ou
depois de irem a suas escolas. E enquanto ouviam os novos álbuns tão esperados
do BLACK SABBATH e VENOM e repudiavam novas bandas como SEPULTURA, ou comentavam
sobre o último show na cidade, era natural incluírem em suas conversas a
mitologia nórdica mastigada em livros como “O Senhor dos Anéis”, ou comentários
sobre demônios bíblicos.
Euronymous |
A loja era propriedade de Øystein Aarseth, um jovem
guitarrista de uma futura famosa banda de Black Metal, chamada MAYHEN, que
possuía o nome artístico de um demônio babilônico, chamado Euronymous. Por ser
dono da gravadora Deathlike Silence e da loja de Rock mais frequentada da
cidade, e por estar sempre por dentro das novidades musicais daqueles, hoje, longínquos
anos 90 e por fazer parte de uma promissora banda de Black Metal, Euronymous
possuía certa liderança na cena do Metal local produzindo bandas como a banda
de um homem só, a famosa BURZUM, de Varg Vikernes.
Mayhen |
Com o tempo o que
era ingenuidade na vida desses jovens rapazes foi tomando ares dramáticos e
recheando-se de atos de violência. Para começar em 8 de abril de 1991, o jovem
sueco Per Yngve Ohlin, mais conhecido por Dead (Morto, em inglês) vocalista da
banda do Euronymous, o MAYHEN, havia se suicidado.
Foto de Dead Morto Usada na Capa do Disco "Dawn of The Black Hearts" |
Fato que havia sido
presenciado pelo próprio Euronymous ao retornar para a casa de ensaio, que
também servia de moradia para os músicos, encontrado seu corpo com a garganta
cortada e morto por um tiro de espingarda que lhe estilhaçou o crânio fazendo seu
cérebro escorregar literalmente de sua cabeça e cair ao chão. Euronymous, antes
de chamar a polícia, iria fotografar a bizarra cena e usar uma de suas fotos
como capa de um dos discos do MAYHEN.
E entre os anos
de 1992/93, o movimento musical destes jovens músicos deixou de ser apenas
musica passando a tomar ares de movimento terrorista, pondo em prática suas
ideias e seu ódio ao cristianismo, e se concretizando na queima de igrejas
centenárias de sua cidade.
Um nome logo
ficaria ligado a tal ato. Varg Vikernes fora apontado como um dos principais
lideres do movimento. Sim, o mesmo cara que Euronymous havia ajudado em lançar o
seu projeto solo Burzum.
Varg e Euronymous |
Nesse período a
rivalidade entre Euronymous e Varg Vikernes se acirrava. Ambos se confrontavam
por mais poder e influência na cena Black Metal da Noruega.
Após a tragédia
do suicídio de Dead, o MAYHEN lança o álbum 'De Mysteriis Dom Sathanas', com
Átila Csihar, nos vocais, em lugar de Dead, e, curiosamente, Varg Vikernes no
baixo.
'De Mysteriis’ fora um sucesso mas Varg estava
descontente, não lhe agradava as ideias de Euronymous, que era partidário do
Satanismo, já que para Varg conceber uma união entre o Satanismo e uma postura
anti-cristã era algo contraditório pelo fato de Satã pertencer a mitologia
judaico-cristã, e só fazer sentido em sua oposição com o deus cristão, fazendo
com que o deus cristão fosse algo necessário para a compreensão de Satã, de
modo que o Satanismo de Euronymous se mantinha dependente do cristianismo, daí
sua contradição. Por outro lado, Varg queria voltar a cultuar a cultura original
de seu povo, que fora abandonada em favor do cristianismo. Varg por isso
defendia o Odinismo, que venera o Deus Nórdico Odin, pai do Poderoso Thor, a
antiga religião de seus ancestrais Viking. O que o levou a sair do MAYHEN e se
dedicar a sua banda composta por ele apenas, o Burzum.
Contudo a
rivalidade entre Varg Vikernes e Euronymous só fazia crescer, até chegar ao
auge com o assassinato deste, ocorrido em 10 de agosto de 1993.
A versão de Varg
para o assassinato de Euronymous:
"Fui para
Oslo pegar uns discos e levar um contrato para o Aarseth, nunca com a intenção
de matá-lo. Eu sempre levo armas comigo. Tinha três facas e mais quatro
punhais, um machado, uma baioneta e um taco de beisebol no carro. Sempre
carrego um monte de armas para o caso de algo acontecer. Toquei a campainha e
Aarseth abriu a porta. Parecia cansado, vestia apenas uma cueca. Entreguei o
contrato e, de repente começamos a discutir. Entre outras coisas, ele me
acusava de dizer merdas sem sentido. Começou a bater em mim. Os covardes
ameaçam, os fortes agem. Ele chutou meu peito. Me assustei e o empurrei. Quando
se levantou, Aarseth começou a correr em direção a cozinha. Tenho certeza de
que procurava uma faca, então peguei uma das minhas e o esfaqueei para que ele
não chegasse até a cozinha. Gritou por socorro. Fiquei louco. Ele correu para a
entrada da casa e eu fui atrás. Continuei a esfaqueá-lo para que calasse a
boca. Meti a faca nele porque estava com raiva. Ele gritava por socorro ao
invés de lutar". Sabe-se que um dos motivos para as desavenças entre Varg
e Euronymous diz respeito ao lançamento de "Aske", um mini-EP do
Burzum, pelo selo de Aarseth. Conta Varg: "Quando o EP foi lançado, eu dei
uma entrevista com o propósito de promover o disco. O resultado disso foi que
acabei sendo preso pelo incêndio das igrejas. Quando saí da cadeia, Aarseth
ainda não tinha lançado o EP."
O Sorridente Varg Vikernes Durante seu Julgamento |
Porém temos A
versão do cúmplice Snorre W. Ex-guitarrista do Mayhem:
"Ele
(Vikernes) falava muito em matar o Aarseth. Um dos planos dele era dar uma
machadada assim que ele abrisse a porta. Eu disse que era estupidez andar com
um machado numa área tão cheia de prédios. Outra alternativa era pedir para que
ele nos mostrasse algo no computador. Poderíamos golpeá-lo no pescoço enquanto
estivesse sentado e de costas para nós. Eu estava no carro e após alguns
minutos me dirigi à porta do apartamento. Cheguei mais perto, ouvi barulhos lá dentro.
De repente, a porta se abriu e Aarseth veio correndo em minha direção. Vi
sangue na sala e também Vikernes esfaqueando-o. Então, ambos desapareceram pela
escada. Depois de alguns segundos e sem saber o que fazer, corri escada abaixo,
passei por eles e saí pela rua. Saímos de Oslo e paramos no lago Opplan, onde
Varg tomou banho nu. Ele pegou suas roupas sujas de sangue, amarrou-as numa
pedra e atirou tudo na água. No caminho, Varg disse que o atingira na cabeça,
no pescoço e nas costas, só que errou a jugular. Disse ainda que era desonroso
para um líder da comunidade Black Metal ter morrido de cueca."
O que até hoje
tem sido exaustivamente contado como causa para o assassinato de Euronymous por
Varg Vikernes é que houve desentendimento em relação aos contratos de gravação
dos discos de Varg, e que este o matou como auto-defesa, porém outro elemento
pode ter feito parte desse grande coquetel que levou Varg Vikernes ao
assassinato de Euronymous: a Homofobia.
É sabido que a
homofobia era um elemento bastante forte entre os membros do “Inner Circle”, tanto
que em 21 de agosto de 1992, Bård “Faust” Eithun, da banda EMPEROR, assassinou
um homem no parque olímpico de Lillehammer pelo simples motivo de “era homossexual”.
Acabou preso e condenado a 14 anos de encarceramento.
Em entrevista
Varg Vikerne disse: “Ele (Euronymous) era ridículo, via filmes pornô o tempo
todo, e nós até mesmo desconfiávamos que ele era bissexual ou homossexual! Eu
não queria saber de nada que tinha a ver com ele, e eu nunca fiz nada para
esconder meu ódio por ele”.
Em sua obra Vargsmål,
Varg Vikernes relembra: “Nós zombamos e fazemos piada sobre o Euronymous. Nós
não gostávamos dele e ele nos deu vários motivos para isso. Nosso 'amigo'
examinou as gavetas do banheiro dele e descobriu um vibrador sujo de merda lá.
Se isso não é um bom motivo pra odiar alguém, então me diga qual é então?”
Portanto, a
homofobia, ao contrário da pouca importância dada a ela na época, teve papel importante no assassinato de Euronymous.
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