ATENÇÃO: este texto é desaconselhável a pessoas sensíveis.
A
criatividade humana para a maldade parece mesmo não ter limites: no Paraguai o
castigo para delatores ou para quem vende drogas para atravessadores
concorrentes, são de várias formas, mas duas são as formas prazerosamente
preferidas: “Amarrar o condenado com as mãos numa mula e os pés em outra. Os
animais são espantados para correr em direções opostas. Apreciam, também,
amarrar o sentenciado pelo pescoço num cabo de náilon na traseira de uma
caminhonete e acelerar por cerca de trinta quilômetros, em média. Quando o
veículo pára de puxar o esfolado vivo, pouco resta do que foi um ser humano.” E
ainda: “Nas rebeliões orquestradas passaram a ser vistas cabeças cortadas
exibidas como se fossem troféus. [...]. Cabeças espetadas em pontas de ferro
nas lajes de presídio. Corações arrancados do peito, fritos e comidos pelos
principais inimigos no interior de São Paulo. Olhos extirpados, forçando-se o
novo cego a comê-los para, em seguida, decepar-lhe a cabeça e atravessá-la por
uma corda fina, entrando por um ouvido e saindo pelo outro, a fim de exibi-la
para presos e reféns apavorados.”1
AS
DUAS FORMAS DE ASSASSINOS
Com
relação à legalidade, há duas formas de assassinos: uma legalizada pelo estado,
pelos governos, ou por instituições, como a religião, em que tais assassinos
transferem de si, para uma instituição, a responsabilidade por seus atos.
Assim, temos soldados de guerra, policiais, homens-bomba, etc. E outra, uma
forma ilegal, não acolhida pelas instituições, aqui referidas, como os soldados
do tráfico:
A ESCOLA DA MORTE:
UMA
AULA DE VIOLÊNCIA
O
jornalista Percival de Souza, ainda nos brinda com uma fria, bizarra e
sangrenta descrição de um acerto de contas:2 “...Um homem, com um
saco de estopa enterrado na cabeça e que o cobria até a cintura surgiu dos
fundos da casa, sendo conduzido aos empurrões até a entrada da propriedade,
repleta de árvores, de vários tamanhos. Os convidados foram informados de que
poderiam se acomodar porque a surpresa, conforme o prometido, seria muito boa.”
“A
surpresa estava ali. Seria um espetáculo.”
“Lentamente,
o saco de estopa foi retirado da cabeça do tal homem, revelando – surpresa
mesmo! – quem era aquela enigmática pessoa, identidade oculta durante longos
sete minutos.”
“Ali
estava, manietado no centro de uma platéia, o traidor do carregamento de uma
tonelada de drogas que caíra nas mãos da polícia. O anfitrião conduziu um
rápido interrogatório, [...].”
“-
Merece morrer?”
“-
Peço perdão. Uma chance. Não vai acontecer nunca mais.”
“A
voz suplicante não sensibilizou o anfitrião, que balançou a cabeça negativamente
e consultou a platéia.”
“-
Ele merece uma chance?”
“Uma
longa vaia marcou a posição dos convidados, que começaram a se aproximar mais,
escolhendo uma boa posição para contemplar as cenas seguintes. [...]. A um
gesto que o anfitrião fez com a mão direita foi chegando, a passos curtos,
compondo uma coreografia aparentemente ensaiada, um homem vestindo avental
branco impecavelmente engomado, brandindo nas mãos um punhal reluzente. O homem
do pedido negado, que já se sabia ser um condenado, foi colocado de joelhos,
enquanto quatro troncos de madeira eram arrastados. O carrasco ficou de pé, do
lado esquerdo, aguardando instruções, enquanto o anfitrião mandava servir uma
nova porção de carne, que o indiferente churrasqueiro, virando-se rapidamente e
por instantes, anunciava estar pronta. A surpresa excitava os convidados, que
dispensaram pratos e talheres, apanhando a carne do espeto com as mãos e
comendo animalescamente. O condenado foi amarrado com a barriga para cima, sem
camisa, sobre os quatro troncos.”
“O
anfitrião fez sinal de negativo, com o polegar direito, como se fosse um
imperador poderoso no Coliseu do tráfico, o que bastou para o homem de avental
branco dar um corte, em diagonal, mas sem profundidade, no peito do condenado.”
“O
carrasco era mesmo habilidoso no manejo do punhal cintilante. Seus movimentos
eram lentos, espaçados, para dar tempo de cada convidado pegar sem olhar uma
nova porção de carne, não perdendo um só momento da execução, que prometia
empolgação e detalhes nunca vistos. A punhalada seguinte foi mais forte, na
altura do ombro, e a arma foi girando, penetrante, num vaivém circulante - o
que provoca dores terríveis -, enquanto o condenado berrava e gemia,
contorcendo-se, e o vermelho pingando na terra fazia contraponto ao vermelho do
céu. O matador, então, livrou o mal-aventureiro das amarras de couro nas mãos.”
“Um
corte no pescoço. Uma punhalada nas pernas. A arma aproximou-se do umbigo e
penetrou. Fortemente. Foi deixada ali por alguns minutos, tempo suficiente para
cada convidado saborear uma nova dose de uísque e preparar-se para o que
haveria de vir, enquanto o anfitrião sussurrava entre os convidados que aquela
cerimônia tinha o nome de estripamento, embora o nome correto seja estripação.
O condenado se esvaía em sangue, balbuciava por clemência, e sua dor provocava
apenas gargalhadas. Nenhuma compaixão. Nada de misericórdia. Os intestinos
foram sendo puxados pela ponta da faca, lentamente. O condenado assistia sua
própria agonia. O carniceiro-executor, com concentrada expressão glacial no
rosto, examinava sem pressa o corpo, escolhendo onde iria desferir, se
necessário, o próximo golpe, sendo aplaudido a cada movimento em que seu punhal
penetrava um pouco mais, girava e era retirado do corpo do homem soltando
pingos vermelhos. A arma era limpa no avental, o executor era impecável e
elegante, sem movimentos bruscos e nenhum gesto que pudesse ser interpretado
como constrangimento e, menos ainda piedade.”
“Foi
aí, então, que o carrasco ensaiou o bote final. Passou a rodear o condenado, e
seus passos foram sendo acompanhados por palmas e gritos ferozes (“uh! Vai
morrer!, uh! Vai morrer!”). O matador segurou a vítima pelos cabelos, dando a
impressão de que pretendia arrancar um escalpo. Segurou firme o punhal, olhou
de perto para a barriga do condenado, já com as vísceras totalmente para fora,
e nela foi colocando marcações a ponta de faca. Deu seis golpes sucessivos, com
toda a força, sendo aplaudido de pé pelo bando ensandecido. Depois, ergueu-se e
colocou as mãos para trás, segurando o punhal mais uma vez limpo no avental.
[...].”
“Voluntários
carregaram o corpo com vísceras expostas para um lago atrás da casa. O
anfitrião fez sinal para todos a acompanharem. O corpo foi arremessado no lago,
de onde emergiram jacarés até então imperceptíveis. Caudas e mandíbulas
agitaram as águas, [...]”
O
ALUNO
Fernandinho Beira-Mar: um Matador à Brasileira |
GUERRA:
A GRANDE
LEGITIMADORA
DE ASSASSINATOS
E
não é apenas entre Países pobres, ou
entre traficantes, que a crueldade e o desprezo pela vida são praticados, mas
também em países cultos e poderosos, como na Alemanha nazista.
Doutores
nazistas, como Josef Mengele, eram encarregados de pesquisar novos modos de
aliviar ou reanimar soldados alemães, que se feriam em batalha, bem como de
encontrar evidências da superioridade do povo alemão. Para tanto, usou
prisioneiros como cobaias para as suas experiências. Experiências responsáveis
por 400 mil mortes em Auschwitz. Injetou
tinta azul nos olhos de crianças, jogou pessoas em caldeirões com água
fervente, para testar suas reações, dissecou corpos de prisioneiros ainda
vivos, fez centenas de experiências com gêmeos, que logo após eram mortos e
dissecados, etc.
Homens
como Heinrich Himmler, 2° na escala do poder na Alemanha nazista, considerado
como a encarnação do mal, e um dos grandes responsável pelo genocídio judeu,
capaz de proferir pérolas como em seu discurso à soldados alemãs: “Se na
construção de uma trincheira 10000 mulheres russas morram ou não de exaustão,
isso só me interessa na medida que a trincheira fique pronta para a Alemanha.”4
Vinha de uma boa formação, culta e civilizada, não provinha de um sub-mundo
pobre e sem estrutura. Educado numa das melhores escolas alemãs, que tinha como
base as grandes qualidades do espírito humano, freqüentada por futuras grandes
personalidades da poesia e filosofia alemã.
Torna-se
difícil sabermos se homens como Josef Mengele e Heinrich Himmler, manteve, ou
manteriam, seu sadismo e seus atos cruéis em tempos de paz. Contudo, é certo
que são nas guerras que homens comuns, não criminosos, tornam-se assassinos.
Porém, são justamente nestas em que o número de assassinatos e atrocidades
cresce de modo exponencial, superando, em barbaridade, crimes cometidos por uma
pequena minoria tida como genuinamente criminosa, como os psicopatas.
E
por que justamente nestas, feitas em sua grande maioria por pessoas comuns, não
criminosas, se instalaria os genocídios e as grandes atrocidades?
EVOLUÇÃO, GUERRAS E ASSASSINATOS
Nosso Bifinho de Todos os Dias |
E
se, portanto, não há o instinto assassino, o que levaria a alguns, mais facilmente
a matar, que a outros?
Ao
longo dos milhares de anos, a mente humana evoluiu muito pouco, uma grande
parte de nós ainda vive mentalmente, como na idade da pedra. Sentimentos como
dor, medo, ciúmes, inveja, solidão, ódio, vingança, etc... Se embatem em nós,
como há quinhentos mil anos. Nossa evolução material tem se dado à longos
passos, em quanto a evolução mental se dá a passos de formiga! Matamos, hoje,
por motivos tão primitivos como nos séculos passados, com armas extremamente
evoluídas. E em muitos casos a mente não somente não evoluiu, como regrediu. E
nos tornamos mais primitivos que o mais primitivo dos animais. Matar é tão
primitivo quanto respirar.
Somos
ainda, como a milhares de anos atrás, seres sociais, seres que vivem em grupos,
e se não há o instinto assassino, há, certamente, os instintos sociais. Um
desses instintos é uma predisposição para obedecer a líderes. O que,
certamente, foi de extrema importância para nossa sobrevivência, já que menos
brigas por status sociais, representava mais corpos saudáveis para a caça ou
para a proteção do grupo. “Era especialmente importante que machos solteiros,
entre 15 e 25 anos obedecessem ordens até mesmo quando essas ordens envolvessem
risco e matança. Estes solteiros eram os caçadores da tribo, guerreiros,
exploradores e aqueles que se arriscavam; um bando sobreviveria melhor se eles
fossem tanto agressivos para com estranhos de fora quanto amenos ao controle
social.” 6 O que tem ainda vigorado nas grandes guerras modernas,
pois, o instinto que tem facilitado as grandes atrocidades das guerras, não é
(e não foi) tanto o prazer em praticar o mal, mas, a submissão, sem nenhuma
crítica, a ordens de seus líderes. O que explica, por sua vez, que homens
comuns, sem nenhum instinto assassino, colaborem, em tempos de guerras, com
atrocidades, e se tornem assassinos, bastando que um pequeno punhado de líderes
os estimule, para tanto. Pois, “seres humanos não são assassinos natos; muito,
muito poucos aprendem a desfrutar do assassinato ou tortura. Porém, os seres
humanos são suficientemente dóceis para que muitos possam ser eventualmente
ensinados a matar, apoiar a matança ou consentir a matar sob o comando de um
macho alfa, dissociando-se completamente da responsabilidade pelo ato. Nosso
pecado original não é nenhuma vontade de assassinar--- é a obediência.” 7
O
que explica, em grande parte, que muitos médicos nazistas encarassem suas
pesquisas com naturalidade, como simples cumprimentos de ordens, não
relacionada com a responsabilidade pelos seus atos. E, por isso, mesmo, fora de
seu trabalho, ser pessoas extremamente éticas, carinhosas e respeitosas. O que,
por outro lado, também explica, como um país, com uma imensa tradição cultural
humanista, no nível, então, mais alto de civilização, tenha submergido na
barbárie nazista, pois, “O homem que vê todos seus vizinhos como assassinos em
potencial abdicará de quase qualquer coisa para ser protegido deles. Ele pedirá
por uma mão forte de cima; ele se tornará um instrumento disposto na opressão
dos seus companheiros. Ele pode até permitir ser transformado ele mesmo em um
assassino. A sociedade será atomizada em milhões de fragmentos medrosos, cada
um reagindo ao medo de violência individual fantasiada ao patrocinar as
condições políticas para uma real violência em grande escala.” 8 Em
suma, continuamos agindo como a quinhentos mil anos atrás.
HIRARQUIA
DE VALORES
Deste
modo, há um ponto em comum, entre assassinos legais, como assassinos de guerra,
e os ilegais, como os assassinos do tráfico de drogas: “no hábito de matar
sobre ordens”. O que, de modo geral, contrasta, essencialmente, com outras
formas de assassinos. Porém, talvez, excetuando os insanos, todos obedecem a
uma hierarquia de valores.
Hierarquizamos
nossos valores, priorizamos por importância uns mais que outros. E embora os
sentimentos não evoluam, por uma necessidade biológica, ao longo dos anos, sua
hierarquia, sim. E, quanto mais priorizamos valores egoístas, mais nos tornamos
aptos a crueldade, ou ao assassínio.
FONTES:
1.
O Sindicato do crime - PCC e Outros Grupos / Percival de Souza
2.
Idem
3.
Idem
4.
Discurso De Posen de Himmler
5.
O Mito do Homem Assassino / Eric Raymond
6.
Idem
7.
Idem
8.
Idem
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