Quando se pensa na
maldade é natural que venha logo à mente a violência física desferida contra um
inocente ou a prepotência de um indivíduo em relação a outro por motivos que o
faz sentir-se superior aquele, inferiorizando e subjugando o outro. Mas a maldade
tem várias faces, e esquecemos que ela também está presente em atos que para muitos
são insignificantes, ou que, escondida em hábitos culturais, passa
despercebida.
E penso que a pior forma
de maldade é aquela que tem o poder de transvestir-se de bondade, ocultando-se
anonimamente, por meio da mentira, omissão e ganância, como a do grande comerciante que usa a frase "Você freguês em primeiro lugar!", como propaganda.
Nos últimos dias tivemos um
bom exemplo de quanto esta forma de maldade transvestida de pequenos atos "insignificantes" é capaz de grandes tragédias, chegando a ser comparada, em efeito, as câmaras de gás dos campos de concentração nazista (sendo este, sim, identificado imediatamente como um simbolo de maldade, embora não o outro):
FOTO DA BOATE KISS |
O incêndio de uma boate
na cidade de Santa Maria (RS) demonstrou, de um lado, a falta de vontade em
proteger vidas humanas por meio de um governo corrupto e incompetente, composto
por pessoas que só pensam em si próprio ou no lucro da próxima eleição,
deixando de lado sua função e só voltando a ela após o pior ter acontecido;
tomando ares de solidariedade com as vítimas mas evitando reconhecer que o
melhor remédio é a prevenção; e estimulando uma onda de preocupação das
prefeituras brasileiras apenas com a catástrofe da vez, esquecendo
que também mortes podem vir de muitas outras fontes, como prédios sucateados,
deslizamento de morros, enchentes, verbas públicas desviadas, etc.
Do outro, a ganância de
muitos empresários, que por meio do chamado “jeitinho brasileiro” criam meios
de lucrarem sempre mais ao trocarem equipamentos com maior poder de proteger
seus usuários por equipamentos de qualidade inferior e, por isso mesmo, mais
baratos. E para completar, uma imprensa sedenta por sangue; que explora as
catástrofes à exaustão; explorando o ocorrido na cidade de Santa Maria
diariamente, mesmo que suas matérias, não trouxesse nada de novo ou relevante;
que invadem, em nome de audiência cada vez maior, a intimidade das famílias das
vítimas com perguntas idiotas e irrelevantes como “O que você está sentindo
agora ao enterrar seus filhos?” Mas se há uma impressa sensacionalista é por
que também há um público sádico louco por ter seu sadismo satisfeito todos
os dias.
E como se tudo isso não
fosse suficiente, há ainda aqueles que em nome de crenças religiosas
irracionais chegam a culpar as próprias vítimas pela tragédia, pois, como dizem, em vez de estarem cultuando deus se entregavam a atividades erradas.
Bem, este é o Brasil; e o
que esperar de um país em que assuntos de futebol são mais importantes e obtém
mais espaço de ser discutido que assuntos ligados a saúde pública e a educação?
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