POEMAS PARA A DEFUNTA
de Braulio Tavares
Quando sua noiva Alice
morreu, depois de meses de luta contra uma doença implacável, Karl pensou que
iria enlouquecer. Durante o velório e os preparativos para o sepultamento,
parentes se revezaram ao seu lado, atentos a qualquer gesto de desespero. Sabiam
o quanto ele era emotivo, melodramático, precisava externalizar tudo que
sentia. Viram com alívio, contudo, que ele dedicou aquela última e interminável
noite à compilação de todos os poemas que escrevera para Alice, principalmente
durante as semanas de sua agonia final. Na manhã seguinte, na hora das últimas
despedidas antes de fechar o caixão, ele aproximou-se, ficou alguns minutos
murmurando algo em voz baixa, e por fim colocou entre as mãos postas dela o
grosso maço de folhas manuscritas, atadas com uma fita de seda: os poemas, sem
cópia, que pertenciam a ela e só a ela. E assim foi enterrada.