sábado, 2 de janeiro de 2016

O DIABO E O ROCK - Parte I: As Origens



                  OS ANTECEDENTES
O Rock, desde suas origens, teve sua imagem ligada a rebeldia e a sexualidade. Por exemplo: a expressão Rock’n’Roll — significando na língua inglesa balançar e rolar — era usado pela juventude da época como gíria para relação sexual; e, posteriormente, por meio de alguns de seus subgêneros, passou a ser relacionado a ideias diabólicas.
O que para muitas pessoas — fãs e principalmente religiosos —, é algo extremamente perturbador. Contudo, tal característica não é exclusividade de músicos de Rock, podendo ser encontrada até mesmo na respeitada música clássica, como na obra do compositor italiano Giuseppe Tartini (1692 – 1770), que compôs, após um suposto sonho inspirador com o próprio Diabo, o famoso TRILO DO DIABO:




"Uma noite sonhei que tinha feito um pacto com o Diabo, o qual se dispôs a me obedecer, em troca de minha alma. Meu novo servo antecipava meus desejos e os satisfazia. Tive a ideia de dar-lhe meu violino para ver se ele sabia tocá-lo. Qual não foi meu espanto ao ouvir uma Sonata tão bela e insuperável, executada com tanta arte. Senti-me extasiado, transportado, encantado; a respiração falhou-me e despertei. Tomando meu violino, tentei reproduzir os sons que ouvira, mas foi tudo em vão. Pus-me então a compor uma peça — a Sonata Trilo do Diabo — que, embora seja a melhor que jamais escrevi, é muito inferior à que ouvi no sonho."



Outro famoso compositor italiano que foi associado ao Diabo foi Niccolò Paganini (1782 – 1840), cujo modo revolucionário de tocar seu instrumento, originou a crença em um pacto deste com o Diabo, pois seu virtuosismo era tanto que mesmo após as cordas de seu violino arrebentarem-se este podia terminar seu concerto tocando apenas em uma única corda que lhe restara.


Muitos, por sua vez, juravam terem visto o próprio satanás segurando e guiando seus dedos sobre seu diabólico violino.
Enveredando para o blues, um dos ritmos inspiradores do rock, temos a famosa história de um dos pais do blues moderno, Robert Johnson.


Conta-se a lenda que certa vez em troca de dons musicais, teria feito um pacto com o demônio. Sob a luz da lua nova, Johnson teria aguardado em uma encruzilhada o próprio Diabo que, chegou sob forma de homem, e afinou seu violão. E desde esse dia todos se encantariam com seus acordes diabólicos! Principalmente as mulheres, cujo ciúme de um dos maridos, seria a causa de sua morte, por envenenamento.

OS PIONEIROS: BLACK SABBATH e ALICE COOPER
Sendo o blues um dos pais do rock, e tendo, aquele, origem negra com forte influência da alma mística africana, seria natural que o Rock tenha herdado suas lendas. O que, certamente, tenha aumentado com sua chegada em terras britânicas. Ali encontrando uma terra rica em crenças célticas, com uma rica cultura pagã que se mantivera forte, apesar do cristianismo.
Entre brumas e o forte nevoeiro, com seus castelos medievais, e com a cultura pagã nórdica, a Inglaterra foi o berço de uma das primeiras bandas de rock a trazer a temática da cultura obscura, oculta, para o mesmo, influenciando músicos posteriores.


Em plena época do Flower Power (1969), época em que se cultuava a paz, o amor e o não à guerra, a banda Black Sabbath causa polêmica e fascinação com seus temas sobre bruxaria e satanismo: “Não achava legal cantar sobre paz quando eu vivia numa bosta de cidade (Birmingham), poluída e violenta, onde todo mundo ganhava mal e passava as noites enchendo a cara. Nossa música refletia nossa raiva. Depois que misturamos temas de bruxaria e satanismo, o som da banda mudou para uma coisa totalmente nova, que foi chamada de Heavy Metal.” 1 — Ozzy Osbourne.


Enquanto isso, do outro lado do oceano, em terras americanas, Vincent Furnier, inspirado certamente em festas folclóricas de seu país, como o halloween — que representa resquícios de crenças pagãs herdado de seus colonizadores ingleses — misturado com doses de brincadeiras infantis, como a brincadeira do tabuleiro de ouija (semelhante a “brincadeira do copo”), diz ter entrado supostamente em contato com o espírito de uma velha bruxa, que o aconselha a denominar sua banda com seu nome, Alice Cooper. O qual o tomará, não apenas como nome de banda, mas de si mesmo. E estimulado pelas brincadeiras infantis de sua época, mistura rock com contos de terror, obtendo, assim, enorme sucesso.
         O DIABO COMO SÍMBOLO DE REBELDIA
A rebeldia sempre foi uma característica essencial do rock, com suas frases sobre sexo e quebra de modelos morais, tendo na religião cristã um obstáculo óbvio a liberdade e inspiração musical, pois a religião cristã sempre foi o símbolo do conformismo, da falta de liberdade mental, da limitação dos desejos do corpo, da moral repressora, etc. Seria, portanto, natural que o rock a tomasse como alvo. E o demônio como símbolo de rebeldia viria bem a calhar, como símbolo de tudo que a igreja detestava como o carnal, o instintivo, o individual, etc. O que não pode, de modo algum, ser concebido como um ato religioso (satânico), mas meramente artístico, como um bom filme de terror.
E embora isto já transparecesse na temática do Sabbath, tendo seu nome sido copiado do título de um filme de terror — “ideia de Butler, um grande fã dos romances de terror de autores como Dennis Wheatley.


Butler tinha visto o filme de 1963, Black Sabbath de Mario Bava, e escreveu uma canção que incorpora o título do filme.” 2 Canção que levava para a música a atmosfera sinistra e perturbadora de um filme de terror, com seu clima macabro traduzido em acordes e visões mórbidas, acompanhados por sinos e gritos de terror, que os acompanharão ao longo de suas carreras. Porém, tal título tinha um sentido bastante familiar a um país com forte tradição medieval: significava uma reunião de bruxas. O que significava não apenas familiaridade com a idade média como também com o passado pagão da Inglaterra. Passado que despertava a curiosidade de seus membros.  
No entanto, como para a cultura cristã tudo o que não é cristão é considerado satânico. Fato que teria motivado ainda mais a cultura pagã em suas letras, e encorajado muito mais com o uso excessivo de drogas. Bem como estimulado a confusão entre ficção e realidade feitas por grupos cristãos opositores.
Simultaneamente a isso, Alice Cooper trilha pelo mesmo caminho, tanto que se torna praticamente impossível diferenciar quem começou tudo isso. Embora este confesse “Eu comecei a fazer no final dos anos 60, antes que o Black Sabbath lançasse seu primeiro disco. Mas como o Sabbath ficou popular primeiro, eles ficaram com a fama3.
Com sua maquiagem e performance teatral, Alice Cooper levou para seus shows um conceito muito popular de diversão em seu país, o chamado teatro horror, em que corpos humanos deformados atraem o público com imagens sinistras e bizarras. Criando, deste modo, o show de rock horror, que seria logo apontado pelos religiosos de plantão como uma forma de culto satânico.
Contudo, embora a temática de suas canções, tanto em Alice Cooper, quanto no Black Sabbath, sejam semelhantes, o que os diferenciam verdadeiramente é a sonoridade de suas canções. O Sabbath traz para o rock, como já foi dito, um elemento até então novo, uma sonoridade macabra que reflete com perfeição o clima sombrio de suas letras. O que certamente tenha sido herdado de suas influências cinematográficas.

Leia Também "O DIABO E O ROCK - Parte II: As 'Coincidências Diabólicas' do Rock

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