Longe do tempo em que a
vida me era amiga, em que os dias me sorriam, e em que o sol clareava docemente
meus dias, vivo, hoje, como um triste coveiro.
Vivia antes cercado de
vivos, hoje tenho apenas os mortos por companhia. Eis a vida de um pobre coveiro. E o que antes era feito de
carne e alegria, hoje é apenas pó e tristeza. Eis a triste sina de um pobre coveiro.
Eleonora, minha doce e
vivaz Eleonora, de semblante rosado, olhos vivos, que alegravam meus dias, jaz,
em seu sono, eterno e profundo: o sono dos mortos.
Onde está seu belo
sorriso?, seus olhos brejeiros?, seus belos cabelos, que tanto lhe embelezavam, e
que tratava com tanto carinho? Sob a terra, no reino da podridão da morte. Eis
o fim da fútil e frágil vida humana: em que ambicionando conquistar o mundo,
terminamos ocupando apenas um mísero espaço.
Eleonora era uma mulher de
poucas palavras, com seus longos cachos dourados que brilhavam como pés de
trigo ao sol, quando se dispunha a caminhar sobre os verdejantes prados; seu
corpo cheio de curvas voluptuosas era capaz de levar qualquer um ao mais puro êxtase;
porém em meio a tantos atrativos, Eleonora guardava um mistério, um terrível segredo:
Eleonora dizia-se falar com os mortos.
E estando ela hoje morta,
e tendo sido meu único amor verdadeiro, tornei-me pois coveiro.
Hoje, além de seu, outrora, poder de falar com os mortos, torço para que também tenha adquirido o poder de falar com os vivos.
Eis a sina de um pobre
coveiro.
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