terça-feira, 4 de junho de 2019

BANDIDOS NA TV (RESENHA)

BANDIDOS NA TV (RESENHA)
É espantoso como muitas vezes a realidade é capaz de ser mais bizarra que qualquer filme de terror. E é isso que penso toda vez que vejo notícias tão estranhas como a que trata o mais novo documentário sobre crimes da Netflix: BANDIDOS NA TV, que conta a história do apresentador Wallace Souza que foi acusado de encomendar assassinatos para aumentar a audiência de seu programa policial, “Canal Livre”, um campeão de audiência da cidade de Manaus durante os anos de 1990 a 2010.


Wallace Apresentando o Canal Livre

O programa, como tantos outros programas da TV brasileira, possuía uma pequena plateia, apresentava atrações musicais, possuía um ajudante de palco fantasiado de Mister M, fantoches e um tradicional anão a animar a plateia, tinha nas notícias de assassinatos sua atração principal, com direito a close nos cadáveres perfurados de bala, porém, escondia, supostamente, este bizarro diferencial.

O programa também era famoso por chegar primeiro às cenas de assassinatos, muitas vezes enquanto o corpo ainda estava quente, ou enquanto o bandido agonizava nas vias públicas de Manaus. Mais tarde uma bizarra explicação para tal feito seria defendida por autoridades policiais: seu apresentador, Wallace Souza, que também liderava o tráfico de drogas, aproveitava as execuções de seus concorrentes a seu mando para também apresentá-las em primeira mão em seu programa de televisão.


Wallace Souza

Wallace Souza era um ex-policial, que ainda mantinha bastante influência no meio policial, e em seu programa matinha uma verdadeira cruzada contra traficantes e pedófilos. Sua popularidade cresceu tanto que foi eleito como um dos deputados estaduais mais bem votados de nosso país. Contudo quando o traficante Moacir Jorge da Costa, vulgo: Moa, foi preso, com medo de ser morto na cadeia, resolveu revelar que seu chefe era nada mais nada menos do que o homem menos suspeito de Manaus: o deputado estadual Wallace Souza.

A partir da confissão de Moa, o documentário enche-se de reviravoltas, com novas evidências e testemunhas surgindo a todo momento para confirmar as suspeitas da polícia e sendo rebatidas pelo apresentador como sendo plantadas pela própria polícia a fim de condená-lo a mando de um complô político contra ele, e afirmando que as testemunhas foram torturadas para depor contra sua dignidade, algumas vezes foram as próprias testemunhas que confirmaram as torturas, o que levou a população de Manaus a dividir-se entre aqueles que sustentavam a inocência de Wallace e os que o condenavam. Até ao ponto de Wallace Souza ser julgado por seus colegas políticos e condenado a perder seu cargo de deputado estadual. Fato que o desgostou muito, levando-o a perder sua imunidade parlamentar, ser detido, ter sua saúde afetada, com idas para São Paulo para tratamento, e acabando por falecer em 27 de julho de 2010, na cidade de São Paulo.


Wallace e Moa, Foto Tirada na Residência do Apresentador

Sua história ganhou repercussão internacional quando foi exibida pelo programa Fantástico, o que, na época, despertou a atenção do diretor britânico, de origem paraguaia, Daniel Bogado, que viajou pela primeira vez para Manaus em 2017 para uma pesquisa preliminar para o documentário, e uma década depois convenceria a Netflix a produzir o documentário sobre o caso.


Para o diretor Daniel Bogado, a história de Wallace Souza e de seu programa Canal Livre, possui muitos atrativos: 
Se eu digo que é sobre um homem que matou para ter audiência na TV, não importa a nacionalidade, as pessoas estão automaticamente interessadas em saber mais. Mas é também sobre família, política e sobre a cidade de Manaus. De certa forma, a história do Amazonas nos últimos vinte anos é contada através do caso”.
Bandidos na TV, de Daniel Bogado, foi a primeira vez que a Netflix se dedicou a uma história brasileira (que ganhou legendas em 27 idiomas diferentes). O documentário é aconselhado não apenas para pessoas que adoram uma história policial verdadeira e cheia de reviravoltas, mas também é um importante registro da influência da mídia brasileira sobre nossa política e opinião pública, nele também podemos ver a influência crescente do crime organizado na política brasileira, que hoje parece dominá-la.



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