Já tivemos a era dos vampiros, com centenas de filmes abordando o tema das mais diferentes maneiras, marcando época e gerações. Porém, agora, podemos dizer que vivemos a era dos zumbis, dessas criaturas que, ao mesmo tempo causa repulsa, medo, mas, acima de tudo, atração e fascínio. E nenhuma outra criatura de filmes de terror tem se beneficiado tanto do momento atual de enorme proliferação dos meios de comunicação, quanto os zumbis. Constatando isso, nada melhor do que uma breve amostra da evolução destes seres pútridos e fascinantes, desde as telonas do cinema aos streamings e demais formas de mídias.
Zumbi: A Origem
A palavra zumbi é oriunda de crenças religiosas vindas do Haiti. Era dado a pessoas que, por meio de feitiços feitos por um feiticeiro, supostamente, após morrerem, voltavam à vida para servirem ao feiticeiro que, por meio de seus poderes sobrenaturais, tornava-se senhor de seus corpos, que já não possuía mais vontade própria e obedeciam cegamente as ordens de seu senhor.
Curiosidade
Por incrível que pareça, na década de 70, cientistas norte-americanos confirmaram que tal crença era em parte verdadeira. Eles descobriram que pessoas que haviam supostamente falecido, não haviam falecido verdadeiramente, mas sido dopadas por substâncias preparadas por supostos feiticeiros, que fazia com que entrassem em um estado físico semelhante a morte, com pouquíssimos sinais vitais; e após terem sido enterradas, depois dos efeitos da substância ter passado, o suposto feiticeiro ia até a cova e retirava a vítima, e convencia ela de que havia verdadeiramente morrido, e que seu corpo já pertencia a ele; e assim escravizava-os.
O primeiro Filme de Zumbis
Diferentemente da realidade, a saga dos zumbis na telona dos cinemas teve início com o filme White Zombie (1932), estrelado pelo famoso ator romeno Béla Lugosi, este foi o primeiro filme de zumbi da história, e se baseava na concepção de zumbi clássica, de morto-vivo reanimado por meio de poderes sobrenaturais, como os pertencentes às crenças religiosas do Haiti.
A Noite dos Mortos Vivos
Agora, se você gosta de zumbis devoradores de suculentos pedaços de carne humana (uma característica que, definitivamente, estará presente em futuras concepções de zumbis), dê graças ao diretor George Romero e ao seu filme A Noite dos Mortos Vivos (The Night of The Living Dead), de 1968, que modernizou a ideia de zumbi, tornando-os canibais.
Curiosamente, em entrevista, Romero declarou que nunca pensou em suas criaturas como zumbis, já que para ele zumbi se referia às criaturas de filmes mais antigos, aos zumbis clássicos, mas os concebia como ghouls, criaturas oriundas de crenças árabes pré-islâmicas que frequentam cemitérios e se alimentam de carne humana.
O Retorno dos Mortos-Vivos
Se A Noite dos Mortos Vivos trazia zumbis bem diferentes dos zumbis clássicos, haitianos, contudo eles ainda eram inspirados em forças sobrenaturais. Porém, talvez por influência do conto Reanimator, do escritor norte-americano H.P. Lovecraft --- em que um médico cria uma substância capaz de trazer mortos à vida ---, filmes da década de 80 passaram a conceber causas não sobrenaturais para o surgimento dos zumbis.
Como em O Retorno dos Mortos-Vivos (The Return of Living Dead), de 1985, em que, por acidente, um desconhecido gás vaza, e a chuva o traz para a superfície de um cemitério, fazendo com que os mortos ganhem vida. Também aqui os zumbis são canibais mas possuem preferência, única e exclusivamente, por cérebros humanos.
The Walking Dead
A série de The Walking Dead, de 2010 --- que começou primeiro como história de quadrinho ---, popularizou definitivamente o conceito de Apocalipse Zumbi, em que um vírus seria capaz de tornar grande parte da humanidade zumbi.
Esta ideia já estava presente no romance Eu Sou a Lenda, de 1954, do escritor estadunidense Richard Matheson, que conta que um surto de vírus transformou quase que a totalidade das pessoas do mundo, não em zumbis, mas em vampiros, que temem a luz do sol, momento em que o protagonista do livro aproveita para sair de seu esconderijo. Portanto, o Apocalipse Zumbi tinha, originalmente, uma roupagem vampírica.
The Last of Us
A série, que primeiro surgiu como um jogo de vídeo game, The Last of Us, de 2023, trouxe mudanças fundamentais para a concepção de zumbis. Primeiro, devido a causa do fenômeno não ser de origem sobrenatural, nem contágio de vírus, mas por um fungo que teria evoluído de um fungo comum que na natureza ataca insetos, tirando deles a autonomia, e os transformando em alimento vivo e instrumentos de locomoção para o fungo, em busca de um melhor lugar para sua proliferação. Portanto, tecnicamente, tais criaturas não seriam zumbis, já que não estariam mortos e retornados à vida --- razão pela qual na série eles são chamados de “infectados” e nunca de zumbis ---; as criaturas também não atacam as pessoas saudáveis com o desejo de se alimentar de carne humana, pelo menos não na forma tradicional, mas teriam o objetivo de infectar as pessoas saudáveis com o fungo.
Mas a concepção de zumbi passou por tantas mudanças, tornando-se a cada passo tão diferente da sua forma original, que creio que não há nenhum problema em incluir as criaturas de The Last of Us no grupo dos zumbis, até porque muito antes do surgimento da série e mesmo do jogo, o termo zumbi já era usado para descrever as cenas assustadoras de carcaças de insetos se arrastando na natureza contaminados pelo fungo cordyceps, que deu origem a mutação do fungo da série referida. Além disso, o termo já era usado para se referir a pessoas que, por alguma razão, incluindo o uso de drogas, perderam a autonomia de seus corpos e vida, uma característica presente em todas as concepções de zumbis.
The Last of Us inovou ao mostrar diferentes tipos de zumbis (infectados), de acordo com o tempo de evolução do fungo em seus corpos. Destaque para o chamado Rei dos Ratos, uma criatura formada por um amontoado de humanos infectados que se transformaram em um só indivíduo.
Tal concepção também foi inspirada em outro fenômeno real, chamado de Rei dos Ratos, em que ratos se embolam por meio de suas caudas, fraturando-as e calcificando os ossos, de forma a mantê-los presos pelo resto de suas vidas, e fazendo-os a aprender a agir como se fossem um só indivíduo. Já foi relatado Rei dos Ratos contendo mais de trinta indivíduos.