EMBORA
LENDAS URBANAS sejam frutos da imaginação popular, do ato de acrescentar
detalhes assombrosos cada vez que a mesma história é contada por pessoas
diferentes, sempre há algo de verdadeiro nelas; e é este algo verdadeiro que,
sem dúvida, origina as Lendas Urbanas; como o caso de uma das mais famosas
lendas urbanas de nosso país que, nascida na cidade de Belém, atravessou suas
fronteiras, e passou a ser conhecida em outras cidades de nosso país,
principalmente após ter servido de inspiração para uma assustadora brincadeira
televisiva, em que desavisados taxistas foram levados a participar dela, feita
pelo programa do Silvio Santos há alguns anos.
AS VERSÕES DA LENDA DA
“MOÇA DO TÁXI”
Trata-se
da lenda da “Moça do Táxi”, cujo suposto fantasma teria o hábito de pegar táxi,
e encaminhar-se até a casa de sua família. O taxista, impaciente por esperar a
moça retornar da casa e também por querer receber seu justo pagamento, vai até
a casa, e é surpreendido ao ser informado pelos moradores que ninguém com as características
da moça mora alí; e se surpreende ainda mais quando, ao ver um retrato na
parede, reconhece que se trata da mesma moça, porém, para seu espanto, é
advertido que ela já falecera há muitos anos atrás.
Como
a maioria das lendas, esta também teria várias versões, apresentando pequenas
mudanças em seu itinerário fantasmagórico: algumas afirmando que ela pega o
táxi próximo ao cemitério onde está sepultada indo até a casa de sua família;
outras afirmando que ela pegaria o táxi em qualquer ponto de Belém tendo o
cemitério de Santa Isabel seu destino de chegada; contudo, a viagem
fantasmagórica de táxi, e o susto do taxista ao descobrir que a moça já havia
morrido, são uma constante em todas as versões.
QUEM FOI JOSEPHINA CONTE?
A
“Moça do Táxi” existiu realmente, trata-se da jovem Josephina Conte, que nasceu
em 19 de abril de 1915 e faleceu no dia 16 de agosto de 1931, e que, portanto,
morreu com a idade de 16 anos.
Josephina,
que hoje está sepultada no cemitério de Santa Isabel, pertencia a uma família
de posses e bastante influente, foi uma das filhas de Nicolau Conte, empresário
italiano que havia montado na cidade de Belém a fábrica de sapatos “Boa Fama”.
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Há
uma história de que ela havia sido morta próximo ao Largo da Sé, quando o carro
em que se encontrava não parou para uma barreira militar, tendo o carro sido
alvejado por tiros, e ela morta. Contudo, esta versão foi desmentida por uma de
suas irmãs, que afirmou que Josephina Conte, mesmo com a ajuda de um médico que
teria vindo da Europa especialmente para socorrê-la, havia falecido devido a
tuberculose. Nesse ponto, um detalhe sobre sua doença ajudou a dar a história de
Josephina aspectos misteriosos: sua irmã Itália dizia que em sua chapa de raio
x de seus pulmões aparecia estranhas marcas como se fossem alfinetes.
A
lenda nos informa que em todo aniversário de Josephina seu pai costumava dar de
presente uma corrida de táxi por alguns lugares de Belém. O que teria feito ela
continuar a pegar táxi mesmo depois de morta.
O Escritor Walcyr Monteiro Segurando seu Livro "Visagens e Assombrações de Belém" |
O
escritor Walcyr Monteiro nos lembra que a expressão “Moça do Táxi”, foi criada
por ele como forma de modernizar o nome que se dava aos táxis daquela época,
que eram chamados de “carro de praça”, ou “carro de aluguel”, isto significa
que a lenda da “Moça do Táxi” foi primeiramente conhecida por “A Moça do Carro
de Praça”, ou “A Moça do Carro de Aluguel”, na época em que surgiu, durante a
década de 1930. Cabe também lembrar aqueles que acham estranho “um pai dar de
presente pra uma filha uma corrida de táxi” que estamos falando de uma história
que se passou durante a década de 1920, em que existia pouquíssimos carros em
Belém, e que táxis eram novidades.
Recentemente,
a senhora Rita Conte, sobrinha de Josephina Conte, afirmou que seu avô, Seu
Nicolau, pai de Josephina, tinha também o hábito de durante o aniversário de
sua mãe - filha de um outro casamento do senhor Nicolau e nascida três anos
após a morte de Josephina -, ir buscá-la de táxi no colégio Santa Catarina,
colégio onde também estudou Josephina como estudante interna, e passeavam por
alguns pontos da cidade. Vê-se então, pelo relato, que o hábito de passear com
as filhas de táxi no dia de aniversário era um costume que se aplicava a todas
as suas filhas, incluindo Josephina.
Foto Original com o Broche em Forma de Calhambeque |
A
senhora Rita Conte também ajudou a desmentir uma ideia que se popularizou
bastante junto com a lenda da “Moça do Táxi”, de que ao chegar a foto que hoje
se encontra em seu túmulo, percebeu-se que, misteriosamente, havia aparecido um
broche em forma de carro em seu vestido. Na verdade, a foto de Josephina que
hoje está em seu túmulo, foi feita a partir de uma foto original tirada aqui em
Belém, em que podemos ver que o broche em forma de um calhambeque já se
encontrava em seu vestido; o broche, sim, teria vindo da Itália durante uma
viagem de seu pai, que o ofertou a Josephina como presente. Este fato ilustra
bem sobre o que dissemos no começo, como fatos assombrosos que são
acrescentados posteriormente as histórias ajudam a dar mais mistério a lenda.
JOSEPHINA CONTE SANTA OU
ALMA PENADA
A
lenda da “Moça do Táxi” tornou-se popular através do livro “Visagens e
Assombrações de Belém” do escritor paraense Walcyr Monteiro que coletou e
publicou lendas e histórias de assombração em 1972, através do jornal Província
do Pará. Antes disso a lenda da “Moça do Táxi” era conhecida apenas oralmente,
ou seja, daquela forma comum que se transmitem as lendas, de que teria
acontecido com um conhecido de um primo de um amigo do amigo de quem contara a
história. Seja como for, há ainda hoje pessoas - inclusive o ex prefeito da
cidade de Belém, Duciomar Costa, que foi taxista -, que juram de pés juntos que
a lenda é verdadeira e que já até fizeram corrida para o fantasma de Josephina
Conte até a casa de um de seus familiares.
Rita
Conte, perguntada se chegou a conhecer alguma pessoa que teria transportado o
fantasma de Josephina, afirmou desconhecer tal fato, e que, para ela, tudo não
passa de lenda, afirmando que “muitos relatos existiram, mas que a família não
confirmou”; porém o apresentador Natan, do canal do youtube “Belém de
Arrepiar”, durante entrevista com a mesma, afirmou que ela teria lhe contado
que ouviu de uma tia que tal fato aconteceu uma vez realmente, quando um
taxista foi até ela lhe cobrar pela corrida pela qual teria levado uma
moça até seu prédio.
Acima, Plaquetas no Túmulo de Josephina Conte com Frases de agradecimentos |
A
senhora Rita Conte, sobrinha de Josephina Conte, também afirma que até a morte
de seu avô, pai de Josephina, a lenda da “Moça do Táxi” não tinha ainda tomado
a proporção de hoje, o que nos leva a uma questão interessante: o escritor
Walcyr Monteiro afirma que antes da popularização da lenda da “Moça do Táxi”
por meio de seu livro, ainda não havia surgido o culto de vê-la como uma santa
milagreira, fato que pode ser notado através das inúmeras lembranças de agradecimentos
a milagres alcançados que se encontra em seu túmulo, alguns vindo de motoristas
que acreditam que ela os protegeu de assaltos.
Muito interessante,eu fiz uma rápida pesquisa sobre essa lenda e em nenhuma delas a explicação foi tão boa.
ResponderExcluirParabéns pela reportagem!
Excelente trabalho. Ótima qualidade e esclarecedor. É de literalmente se arrepiar 😆
ResponderExcluirParabéns amei ,muito interessante a história dela ,parabéns
ResponderExcluirMuito interessante!!
ResponderExcluirgastei sou fã dessa lenda,a Josephina conte.
ResponderExcluirBelém da belle Époque dos bondes e luzes dos lampiões do início do século XX.Talvez o chofer, frente ao guidão: não infartara ao ver uma jovem sem acompanhante algum, ser possível à época ? Uma lenda !
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