segunda-feira, 26 de março de 2018

QUEM FOI JOSEPHINA CONTE, A “MOÇA DO TÁXI”. SANTA OU ALMA PENADA?

QUEM FOI JOSEPHINA CONTE, A “MOÇA DO TÁXI”. SANTA OU ALMA PENADA?

EMBORA LENDAS URBANAS sejam frutos da imaginação popular, do ato de acrescentar detalhes assombrosos cada vez que a mesma história é contada por pessoas diferentes, sempre há algo de verdadeiro nelas; e é este algo verdadeiro que, sem dúvida, origina as Lendas Urbanas; como o caso de uma das mais famosas lendas urbanas de nosso país que, nascida na cidade de Belém, atravessou suas fronteiras, e passou a ser conhecida em outras cidades de nosso país, principalmente após ter servido de inspiração para uma assustadora brincadeira televisiva, em que desavisados taxistas foram levados a participar dela, feita pelo programa do Silvio Santos há alguns anos.


AS VERSÕES DA LENDA DA “MOÇA DO TÁXI”
Trata-se da lenda da “Moça do Táxi”, cujo suposto fantasma teria o hábito de pegar táxi, e encaminhar-se até a casa de sua família. O taxista, impaciente por esperar a moça retornar da casa e também por querer receber seu justo pagamento, vai até a casa, e é surpreendido ao ser informado pelos moradores que ninguém com as características da moça mora alí; e se surpreende ainda mais quando, ao ver um retrato na parede, reconhece que se trata da mesma moça, porém, para seu espanto, é advertido que ela já falecera há muitos anos atrás.

Como a maioria das lendas, esta também teria várias versões, apresentando pequenas mudanças em seu itinerário fantasmagórico: algumas afirmando que ela pega o táxi próximo ao cemitério onde está sepultada indo até a casa de sua família; outras afirmando que ela pegaria o táxi em qualquer ponto de Belém tendo o cemitério de Santa Isabel seu destino de chegada; contudo, a viagem fantasmagórica de táxi, e o susto do taxista ao descobrir que a moça já havia morrido, são uma constante em todas as versões.



QUEM FOI JOSEPHINA CONTE?
A “Moça do Táxi” existiu realmente, trata-se da jovem Josephina Conte, que nasceu em 19 de abril de 1915 e faleceu no dia 16 de agosto de 1931, e que, portanto, morreu com a idade de 16 anos.

Josephina, que hoje está sepultada no cemitério de Santa Isabel, pertencia a uma família de posses e bastante influente, foi uma das filhas de Nicolau Conte, empresário italiano que havia montado na cidade de Belém a fábrica de sapatos “Boa Fama”.


Imagem da Fábrica de Calçados "Boa Fama". Nos Altos Morava a Família de Josephina Conte

Há uma história de que ela havia sido morta próximo ao Largo da Sé, quando o carro em que se encontrava não parou para uma barreira militar, tendo o carro sido alvejado por tiros, e ela morta. Contudo, esta versão foi desmentida por uma de suas irmãs, que afirmou que Josephina Conte, mesmo com a ajuda de um médico que teria vindo da Europa especialmente para socorrê-la, havia falecido devido a tuberculose. Nesse ponto, um detalhe sobre sua doença ajudou a dar a história de Josephina aspectos misteriosos: sua irmã Itália dizia que em sua chapa de raio x de seus pulmões aparecia estranhas marcas como se fossem alfinetes.

A lenda nos informa que em todo aniversário de Josephina seu pai costumava dar de presente uma corrida de táxi por alguns lugares de Belém. O que teria feito ela continuar a pegar táxi mesmo depois de morta.


O Escritor Walcyr Monteiro Segurando seu Livro "Visagens e Assombrações de Belém"

O escritor Walcyr Monteiro nos lembra que a expressão “Moça do Táxi”, foi criada por ele como forma de modernizar o nome que se dava aos táxis daquela época, que eram chamados de “carro de praça”, ou “carro de aluguel”, isto significa que a lenda da “Moça do Táxi” foi primeiramente conhecida por “A Moça do Carro de Praça”, ou “A Moça do Carro de Aluguel”, na época em que surgiu, durante a década de 1930. Cabe também lembrar aqueles que acham estranho “um pai dar de presente pra uma filha uma corrida de táxi” que estamos falando de uma história que se passou durante a década de 1920, em que existia pouquíssimos carros em Belém, e que táxis eram novidades.

Recentemente, a senhora Rita Conte, sobrinha de Josephina Conte, afirmou que seu avô, Seu Nicolau, pai de Josephina, tinha também o hábito de durante o aniversário de sua mãe - filha de um outro casamento do senhor Nicolau e nascida três anos após a morte de Josephina -, ir buscá-la de táxi no colégio Santa Catarina, colégio onde também estudou Josephina como estudante interna, e passeavam por alguns pontos da cidade. Vê-se então, pelo relato, que o hábito de passear com as filhas de táxi no dia de aniversário era um costume que se aplicava a todas as suas filhas, incluindo Josephina.


Foto Original com o Broche em Forma de Calhambeque

A senhora Rita Conte também ajudou a desmentir uma ideia que se popularizou bastante junto com a lenda da “Moça do Táxi”, de que ao chegar a foto que hoje se encontra em seu túmulo, percebeu-se que, misteriosamente, havia aparecido um broche em forma de carro em seu vestido. Na verdade, a foto de Josephina que hoje está em seu túmulo, foi feita a partir de uma foto original tirada aqui em Belém, em que podemos ver que o broche em forma de um calhambeque já se encontrava em seu vestido; o broche, sim, teria vindo da Itália durante uma viagem de seu pai, que o ofertou a Josephina como presente. Este fato ilustra bem sobre o que dissemos no começo, como fatos assombrosos que são acrescentados posteriormente as histórias ajudam a dar mais mistério a lenda.

JOSEPHINA CONTE SANTA OU ALMA PENADA
A lenda da “Moça do Táxi” tornou-se popular através do livro “Visagens e Assombrações de Belém” do escritor paraense Walcyr Monteiro que coletou e publicou lendas e histórias de assombração em 1972, através do jornal Província do Pará. Antes disso a lenda da “Moça do Táxi” era conhecida apenas oralmente, ou seja, daquela forma comum que se transmitem as lendas, de que teria acontecido com um conhecido de um primo de um amigo do amigo de quem contara a história. Seja como for, há ainda hoje pessoas - inclusive o ex prefeito da cidade de Belém, Duciomar Costa, que foi taxista -, que juram de pés juntos que a lenda é verdadeira e que já até fizeram corrida para o fantasma de Josephina Conte até a casa de um de seus familiares.



Rita Conte, perguntada se chegou a conhecer alguma pessoa que teria transportado o fantasma de Josephina, afirmou desconhecer tal fato, e que, para ela, tudo não passa de lenda, afirmando que “muitos relatos existiram, mas que a família não confirmou”; porém o apresentador Natan, do canal do youtube “Belém de Arrepiar”, durante entrevista com a mesma, afirmou que ela teria lhe contado que ouviu de uma tia que tal fato aconteceu uma vez realmente, quando um taxista  foi até ela lhe cobrar pela corrida pela qual teria levado uma moça até seu prédio.


Acima, Plaquetas no Túmulo de Josephina Conte com Frases de agradecimentos

A senhora Rita Conte, sobrinha de Josephina Conte, também afirma que até a morte de seu avô, pai de Josephina, a lenda da “Moça do Táxi” não tinha ainda tomado a proporção de hoje, o que nos leva a uma questão interessante: o escritor Walcyr Monteiro afirma que antes da popularização da lenda da “Moça do Táxi” por meio de seu livro, ainda não havia surgido o culto de vê-la como uma santa milagreira, fato que pode ser notado através das inúmeras lembranças de agradecimentos a milagres alcançados que se encontra em seu túmulo, alguns vindo de motoristas que acreditam que ela os protegeu de assaltos.

6 comentários:

  1. Muito interessante,eu fiz uma rápida pesquisa sobre essa lenda e em nenhuma delas a explicação foi tão boa.


    Parabéns pela reportagem!

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  2. Excelente trabalho. Ótima qualidade e esclarecedor. É de literalmente se arrepiar 😆

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  3. Parabéns amei ,muito interessante a história dela ,parabéns

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  4. gastei sou fã dessa lenda,a Josephina conte.

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  5. Belém da belle Époque dos bondes e luzes dos lampiões do início do século XX.Talvez o chofer, frente ao guidão: não infartara ao ver uma jovem sem acompanhante algum, ser possível à época ? Uma lenda !

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