quinta-feira, 20 de junho de 2024

HELLRAISER - RENASCIDO DO INFERNO (RESENHA)




Hellraiser - Renascido do Inferno (Resenha)

Finalmente li um clássico do horror contemporâneo: “The Hellbound Heart”, do inglês Clive Barker, que passou a ser mais conhecido por Hellraiser --- nome de sua adaptação pro cinema, feito pelo próprio autor (diretor e roteirista), que deu origem a uma série de filmes que seguiram com outros diretores e roteiristas até a 11ª produção.



A pequena novela (de 150 páginas pela edição da editora Darkside), saiu originalmente em 1986, numa coletânea com outros autores, tornou-se a obra prima do autor.


Sinopse



Hellbound Heart conta a história de Frank que, após ter experimentado toda forma de prazeres sexuais, busca encontrar novos e intensos prazeres por meio da lendária Caixa de LeMarchand --- uma espécie de quebra-cabeça que, uma vez resolvida, levaria seu portador a ter contato com os cenobitas, monges capazes de oferecer intensas experiências ao portador da caixa. 


De posse da caixinha e do segredo dela, Frank descobre, tarde demais, que o que os cenobitas consideram como prazer é a mais pura dor. 


A novela se concentra toda na tentativa de Frank refazer seu corpo, destruído pelos cenobitas, e fugir do domínio deles.


Leitura



Minha experiência com a leitura da famosa obra foi muito prejudicada por eu ter assistido antes sua adaptação para o cinema, contendo muito mais descrições gráficas sanguinárias e com maior papel atuante do famoso cenobita Pinhead (nome dado ao personagem pela produção das versões cinematográficas pós Clive Barker), que fez com que a versão original me parecesse apenas uma pálida versão do filme. Contudo abriu espaço para a escrita do autor que me chamou atenção por ser poética apesar do clima de horror e violência da trama --- um ponto positivo para o livro.


Estilo



A novidade de Clive Barker é que, além de sua escrita poética, ele trouxe para o horror a estética sadomasoquista, o que fica melhor evidenciado na versão cinematográfica de Hellraiser, com os ganchos rasgando carne humana, correntes e o visual dos monges sadomasoquistas dos cenobitas. Sua associação de desejo sexual e violência, lembra muito as obras do Marquês de Sade --- com toda certeza Clive Barker leu Os 120 Dias de Sodoma, de Sade, em que a associação entre sexo e violência chega ao seu ponto máximo na última parte de seu livro, em que o gozo sexual, o assassinato e a destruição do objeto do desejo torna-se uma só coisa. É aqui, que se torna claro o porquê dos cenobitas encontrarem na dor máxima o máximo prazer, pois eles sabem que, uma vez experimentados todos os prazeres da terra, como fez Frank, em que um prazer intenso exige doses cada vez mais fortes de prazer para causar a satisfação anterior, apenas a dor pode renovar o prazer anterior, ao ponto deste se tornar prazer.



Contudo, o autor de Hellraiser trouxe para sua mistura de sexo e violência, elementos sobrenaturais alheio ao sadismo de Sade (um materialista radical, antirreligioso e antisobrenatural convicto, até mesmo na ficção) que dá a dimensão de terror ao clima sadomasoquista de seus livros e filmes.


terça-feira, 18 de junho de 2024

ROMANCE PARAENSE DIVULGA MAGIA, MITOS E LENDAS DA AMAZÔNIA





Encantaria Marajoara

A encantaria marajoara é um conjunto de crenças religiosas de origem africana e indígena da ilha de Marajó/Pa, profundamente relacionada com a natureza, compostas de lendas e narrativas orais, que tem como ideia principal a crença de que, ao lado do mundo em que vivemos, existem mundos paralelos habitados por seres mágicos. Para essa crença a morte não existe para alguns indivíduos, que se tornam “encantados”, tornando-se seres lendários: curupiras, botos, sereias. Ou  seres da natureza: animais, plantas ou objetos inanimados, que passam a viver entre o mundo dos humanos e dos seres encantados.


Curiosamente, lendas amazônicas possuem muitos pontos em comum com lendas europeias, apesar de toda a distância e diferença cultural entre seus povos. Seria por que as lendas trazem em si uma gramática universal dos anseios humanos, como acreditava o antropólogo Lévi-Strauss? Ou porque trazem símbolos elementares de um inconsciente coletivo presente em todos os indivíduos, produto de nossa evolução, que conta nossa história evolutiva, como pensava o psicólogo Carl Jung?; eis algumas delas:


Encantados



Assim como na encantaria amazônica, em que os “encantados” são transportados para outro mundo sem passar pelo advento da morte, o mesmo pode ser encontrado em lendas europeias, na lenda portuguesa do rei Dom Sebastião (1554 - 1578) que, dizem, teria se “encantado” em plena batalha contra os muçulmanos no ano de 1578, no Marrocos, e transportado para um mundo encantado --- lenda que deu origem ao Sebastianismo, movimento messiânico que professa a crença de que um dia Dom Sebastião voltará para tomar para si o trono de Portugal.


Portais Mágicos




Na Amazônia há toda uma mística oriunda dos povos originários que comporta portais mágicos, em que gigantescas árvores de samaúma são tidas como passagens místicas para seres encantados da floresta; portais que uniria o mundo dos humanos ao mundo dos seres encantados --- nada tão diferente da crença europeia de que velhos carvalhos seriam moradas de duendes.


Para povos originários da Amazônia, rios e igarapés também são considerados portais mágicos para cidades submersas dos caruanas --- seres espirituais, mediadores entre os pajés e os poderes da floresta.




Por seu poder de reflexo e brilho, rios e lagos também podem ser associados a espelhos (espelhos d’água”, cujas lendas europeias os concebem como portais mágicos capazes de tornar cativos espíritos dos mortos --- daí o antigo costume inglês de cobrir com tecido os espelhos da casa após a morte de um familiar.


Vampiros



Entidades vampíricas estão presentes em quase todas as culturas. E nesse imenso caldeirão de lendas e mitos, que é a Amazônia, não poderia faltar um de seus representantes: o boto.


A característica vampiresca do boto, em geral, é pouca conhecida da maioria, porém está presente nos relatos de ribeirinhos, que afirmam que botos são atraídos pelo sangue menstrual de passageiras em pequenas embarcações, ao ponto de vir até o barco para virá-lo.


O que gerou a tradição que ensina a amassar dentes de alho e a jogar no rio, a fim de afugentar botos e impedi-los de que, transformados em um belo rapaz, entrem nas casas de ribeirinhos, seduza mulheres presentes e as leve para o fundo do rio, como se pode ver pelo relato da tese de mestrado “Cosmologias da Encantaria da Ilha de Marajó”, de Dione Leão:


“Quando eu era criança e a gente morava no interior, meu pai viajou e ficou eu, minha mãe e meus três irmãos. Uma noite a gente tava dormindo e a mamãe assustada acordou a gente, pois ela sentia que tinha gente dentro da casa, no corredor. Quando ele fez o barulho, a coisa correu pela cozinha, desceu ao redor da casa e pulou na água. No outro dia, minha mãe amanheceu com muita dor de cabeça, febre, vômito e, em frente a casa um monte de boto boiando.. Foi preciso bater um monte de dente de alho dentro de uma cuia e meu irmão mais velho foi jogar lá no meio do rio pra espantar os bichos e, nós fomos pra casa da vovó pra ela cuidar da minha mãe.”


A mesma tradição também aconselha pôr “cruzes nas portas, jogar água benta no rio, dentre outras técnicas, além do tratamento com benzedores”.


É impossível não identificar os mesmos procedimentos usados em lendas europeias para afugentar vampiros.


Romance de Realismo Mágico Amazônico



O romance “Após a Chuva da Tarde --- A Lenda de Camille Monfort, a “Vampira da Amazônia” nasceu do interesse do autor, Bosco chancen, pelas curiosas semelhança entre lendas europeias e lendas amazônicas, da busca de entender o que são as lendas e o porquê de povos tão distantes entre si possuir lendas tão semelhantes, e também do desejo de extrair delas conhecimentos sobre a estrutura narrativa das lendas --- da magia da encantaria amazônica (hoje em vias de  desaparecer), da mitologia grega (particularmente do simbolismo iniciático do mito de Orfeu e Eurídice) e também da famosa lenda dos vampiros, que serve de referência entre lendas europeias e amazônicas (vampiro = matinta perera).


Para tanto, o romance aborda a breve estadia da enigmática cantora lírica francesa Camille Monfort (1869 - 1896) em Belém do Pará, para concertos no ano de 1896, em plena explosão da riqueza proporcionada pela venda da borracha amazônica para o mundo.. E de como sua estadia deixou um rastro de lendas e boatos nascidos não apenas de seu talento musical e grande beleza (que provocou interesse em ricos senhores e ódio em suas esposas), também por seu comportamento de mulher independente (ela incentivava o direito das mulheres ao conhecimento, algo incomum na época) e por seus misteriosos passeios noturnos à beira do rio Guajará; mas, sobretudo, por sua doentia palidez que, junto com desmaios de jovens mocinhas durante seus concertos e a chegada do surto de cólera à região, levou a suspeita de seu vampirismo e de sua misteriosa morte.




O romance também conduz o leitor pela grande seara e de ensinamentos da boa relação do humano com a natureza, oriunda dos ensinamentos dos povos originários e da encantaria amazônica, com seus portais mágicos que são explorados pelo livro através de descrições de experiências com seres mágicos da natureza por meio da ayahuasca.


O livro é narrado, tendo em vista as diferentes formas que a artista assumiu para os mais diferentes segmentos da sociedade amazônica: uma grande artista para os jornais da época; uma mulher à frente de seu tempo para os influentes membros da sociedade; uma matinta perera para membros do povo; e uma vampira para excêntricos.


Por meio do conceito de lenda --- narrativa oral nascida de algum acontecimento que impactou uma comunidade, ao ponto de ser acrescentado a ela posteriormente elementos mágicos --- o romance conduz o leitor a separar o imaginário do mágico e do real.




Para Adquirir o Romance “Após a Chuva da Tarde - A Lenda de Camille Monfort”, Clique AQUI.


terça-feira, 4 de junho de 2024

BLOG BORNAL NO BELÉM DE ARREPIAR




BLOG BORNAL NO BELÉM DE ARREPIAR


QUEM É CAMILLE MONFORT, A VAMPIRA DA AMAZÔNIA?


Quem foi a cantora lírica francesa que viveu em Belém no início do século XX? Segundo a lenda, ela cantava e encantava no Theatro da Paz; seduzia a corte com sua beleza estonteante provocando o fascínio nos cavalheiros e ciúmes desproporcionais entre as damas! Era um reboliço entre a sociedade ultra conservadora daquela época! A era de ouro da borracha. 




O assunto veio à tona com o lançamento do livro “Após a Chuva da Tarde” que traz na capa e no enredo a história desta fascinante mulher e outras lendas incríveis da Amazônia! 


A imagem enigmática e encantadora de vampira explodiu na internet, viralizou em vários países do mundo, provocando curiosidade em dezenas de países e trazendo à tona o mistério que ronda Camille Monfort! 




No episódio de hoje Nathan de Moura conversa com Bosco Chancen, autor do livro “Após a Chuva da Tarde” e da lenda do “Cão Fantasma do Palacete Bolonha” que traz um apanhado de histórias reais, lendas, romance e vampirismo tendo como pano de fundo o glamour da Belle Époque, misturando à atmosfera sombria da floresta amazônica, após a chuva da tarde. 




E o que será que Magalhães Barata, Waldemar Henrique, Inglês de Sousa, Paulino de Brito, Josephina Conte, tem a ver neste relato?! Você conhece Philipe Kling David? Estamos falando de lenda ou ficção? Aflorou a sua curiosidade? Então assista o episódio que está realmente elucidador e provocante! Compartilhe com os amigos e fique por dentro dos mistérios que assombram a nossa cidade!


BELÉM DE ARREPIAR.


Coordenação e texto @meg_martins.

Livro “Após a Chuva da Tarde - A Lenda de Camille Monfort”.




Adquira o Livro Clicando AQUI


segunda-feira, 3 de junho de 2024

RELATO do LEITOR: A Sereia




RELATO do LEITOR: A Sereia

Há alguns anos, eu acolhi atrás do meu bar um velhinho abandonado por seus familiares, ele estava com graves problemas de saúde. Em nossas conversas, ele me confidenciou que todo dia, às 14h mais ou menos, um pretinho vinha chamar ele pra ir ao encontro de uma sereia em baixo do Trapiche Municipal, era uma mulher de cabelos longos, nua da cintura pra cima e seios pequenos, eles conversavam dentro da água, ela oferecia um líquido para ele tomar. Ele ficou com medo e então foi atrás de um benzedor, que disse pra ele não tomar esse líquido, se não ele ia vê o que ia acontecer com ele, ela ia levar ele pro fundo. Ela sempre pedia pra ele não contar nada pra ninguém a respeito da sua aparição. O velhinho acha que devido ele ter me contado tudo, ela parou de mandar o pretinho chamar ele. Eu nunca fui atrás pra vê se a história era real, mas estranhava o fato dele sumir de repente e voltar todo molhado*.


* Relato de moradora da cidade de Breves, colhido da tese de mestrado Cosmologias da Encantaria no Marajó-Pa, de Dione Leão, que mostra toda a beleza do imaginário amazônico, um verdadeiro Realismo Mágico real.