Ora, logo o pobre Napoleão
Dono de uma boca
inconsolável e mente arredia,
foi ter com a morte.
Gritava com ardor,
mas cheirava a desespero,
certo de que seu grito a espantaria.
Sorvia, a Morte, aquele grito.
Deliciava-se, a Morte, com tais sons.
E maior desespero, maior desespero,
despedaçava seus culhões.
Arrematava com uma argumentação de Estadista.
Sôfrego, piscava os olhos.
Detinha-se perigosamente a frente da foice.
Esquivava-se, como bom lutador
O bailar de suas pernas incomodava a Morte.
E sorvia-lhe mais um pouco da vida.
Sabedora que sua proposta final,
adentrar no abismo sem causa,
era o golpe derradeiro.
Já admitia, a Morte,
um fim para tão preparado homem.
Continuavam a digladiar-se.
Napoleão cruzava a espada no ar,
Timbalava um risco sem tons
Afastava um pouco da fumaça
O enxofre fumegava a certa distância
Ardia-lhe nas narinas
Dor, desespero, vertigem, traição,
e ainda 7 pragas capitais
combinando seu fim.
Pronto a argumentar a solução do abismo
(Lhe restavam forças ainda)
Bom lutador Napoleão...
Velho, velho, velho Napoleão.
Acordado de um sono insolente,
Despertado para ganhar o mundo,
mas sempre tão arrogante.
Apostas na arrogância tua mente.
E sofres com retidão
Mas acendes a dúvida no coração alheio.
Não te vais simplesmente,
queres antes teu reconhecimento.
Assim disse a morte.
Argumenta Napoleão:
- Tu prestas serviços ao mundo.
E julga, segundo teu argumento,
a tristeza, o ardor d’alma,
a alegria, como fins de meu tempo
ofegante, sondas a ultima maneira
de dizer que sobrevives...
sobrevives à palavra e na morte.
Oh MORTE!
sobrevives na Morte!
Enchente
Transbordante
Jogas a todos no mesmo lugar
Podes isso Napoleão!
És Senhor, e arrogante também!
Imperas sobre os mortais
Joga tua lança e amedronta-me!
Amedronta a alma alheia,
e serve-se como presente.
És um argumento forte
para eu partir.
Arrebata o som para ti
dos címbalos que ecoam
diante de um trono que já não pertence
à Zeus.
Usurpador de almas!
Toma-o! Toma-o!
Faz da vida a tomada da luz.
Mas não te cegas
Joga com as propostas e renasce!
Sem dizer nada
Sem questionar nada mais
Mas querendo muito arrebatar o mal de ti.
E o bem já te absolveu.
Julgo que o mal já te quer eterno...
Bem e Mal com vida dentro de tua morte.
Pede passagem Napoleão.
Seu suor tocou a areia fumegante
Suas pernas que bailavam
agora trêmulas, quedavam o Imperador.
O mal já lhe queria eterno.
Sobe.
Toma teu lugar.
Segue comigo.
A Sobrevida de Napoleão lembrou-me um sagaz delírio do Raskolnikov em Crime e Castigo, que ficou marcado pra mim:
ResponderExcluir" Não, aquelas pessoas são feitas de outra massa. Um verdadeiro conquistador, desses aos quais tudo se permite, bombardeia Toulon, por exemplo, organiza massacres em Paris, esquece seu exército no Egito, sacrifica meio milhão de homens na campanha da Rússia, livra-se de tudo com um trocadilho pronunciado em Vilna. Depois de sua morte, erguem-lhe estátuas. É que tudo isso lhe foi permitido. Mas esses homens são feitos de bronze e não de carne."
Merece correções. Olhando agora, dá pra melhorar. Mas já é...é assim mesmo.
ResponderExcluirA.P.