segunda-feira, 7 de maio de 2012

A FILOSOFIA DO ORGASMO - Parte #1



RESUMO: O presente trabalho tem como finalidade demonstrar as terríveis consequências religiosas, morais, psicológicas e, principalmente, sexuais da mudança de mentalidade de um mundo calcado na ideia de IMANÊNCIA, para a mentalidade de um mundo moderno, baseado na noção religiosa de TRANSCENDÊNCIA, por meio da sexualidade humana.
INTRODUÇÃO
Houve uma época em que o homem era tido como uma parte da natureza, mantendo uma profunda e insolúvel harmonia com esta, fazendo tanto parte desta quanto os leões, os carvalhos, ou mesmo os minerais. Era uma época que ainda não se tinha inventado o pecado, e que o sexo não era visto como algo pecaminoso, mas divino, um dom da natureza ou um caminho que levava aos deuses: um meio de conhecimento e iluminação pessoal, capaz de mostrar ao homem uma parte então desconhecida de si próprio: sua identidade profunda com a natureza, com suas forças fundamentais. Foi a época das grandes religiões panteístas que concebiam Deus, não como um ser agindo fora do mundo, mas de dentro do mesmo, um ser imanente ao mundo, à natureza. Foi também a época dos grandes cultos a Afrodite, com suas sacerdotisas que em seus templos copulavam com os devotos da grande deusa; das bacantes, que por meio do vinho, e em nome do deus Baco, embriagavam os homens e os levavam a serem absorvidos por seus instintos sexuais, copulando com estes durante o culto de seu deus nos campos, bosques e prados; e do deus Príapo com seu grande falo, o deus da fertilidade, responsável pela fertilização dos animais e vegetais. Enfim, era uma época em que o sexo era tão sagrado quanto as religiões, e em que o sagrado feminino dominava o mundo e onde não se rejeitava nossa animalidade, nem nossos instintos.
Mas hoje tudo isso parece ser apenas uma velha história perdida em algum livro amarelado pelo tempo. Pois o homem passou a se sentir um ser superior e independente da natureza; um ser feito, erroneamente, à imagem de um deus, que assim como este, transcenderia a natureza, e a qual esta existiria apenas para lhe servir.
E assim, logo nos vimos divididos entre dois mundos, um natural e material, governado pelas leis naturais do corpo, e o outro, sobrenatural, comandado por leis superiores, imateriais, que não pertenceriam ao nosso mundo, nos levando a renegar nossa origem animal, como algo inferior e impróprio do homem, um arcabouço de sentimentos bestiais e bárbaros - mas devemos lembrar que os mais baixos sentimentos humanos não pertencem aos animais. Disso surgiram a moral e as proibições religiosas ao sexo, e a ideia de que devemos privilegiar nosso lado transcendente, tido como superior, em detrimento de nosso lado animal. Não admira, portanto, que o sexo como aquilo que mais uniria os homens aos outros animais tenha sofrido tanto com esta forma de pensar, transformando-se em algo indigno do homem. E assim criaram novas formas de conduta, passaram a nos ensinar a termos vergonha de nossos corpos, a odiarmos o que nós próprios somos, a termos vergonha de nossa própria natureza. Nossa moral e religião passaram a nos ensinar a associar rigor sexual à dignidade e liberdade, a não acatarmos os desejos do corpo, a mortificá-lo para não sermos escravos do mesmo, de seus apetites e desejos; o homem soberano, para esta forma de pensar, passou a não se deixar levar por seus impulsos e instintos.
Porém tal mudança não deixou de ter consequências terríveis para a humanidade, já que por trás de tal concepção se escondia uma luta ferrenha e doentia entre cada indivíduo consigo próprio: uma luta entre os impulsos mais naturais do homem e o desejo inútil de abafá-los, de calá-los; gerando assim sentimentos de culpa desnecessários ou, no mais das vezes, gerando o efeito contrário, já que tudo que é proibido tende a ser muito mais procurado, estimulando, assim, o que justamente tentam limitar. E sendo a transgressão e o sadismo elementos inerentes à sexualidade humana, o proibido tende não apenas a estimulá-los como distorcer o sexo, gerando por meio do sadismo e da transgressão comportamentos sexuais destrutíveis - como os modernos adeptos do bareback, que buscam, movidos pelo prazer da transgressão, serem contaminados pelo vírus da AIDS, em suas relações desprotegidas. Originando também as mais terríveis perseguições religiosas ao sexo e tornando as mulheres suas principais vítimas, como na Inquisição católica, em que mulheres que demonstrassem seus desejos e sua independência em relação a estes eram tidas como possuídas por um espírito demoníaco e como tal eram mortas.
E assim, a mesma mulher que provocou a expulsão do homem do paraíso ainda era uma ameaça presente, com sua natureza diferente, com seu sexo que atraia a natureza reprimida dos homens “santos”. Transformando a Inquisição na conclusão perfeita da longa história de preconceitos, de repressão, de intolerância, a mulher e ao sexo.
Por meio disso, dá para imaginar o grande choque que acometeu os portugueses ao descobrirem que em novas terras havia pessoas que viviam de outra forma: nus, e que não viam no sexo um sinal de pecado.
Todavia, para tais colonizadores, educados sob a visão de que a nudez devia ser ocultada pelo pecado, a culpa fazia parte de seu imaginário, sendo o corpo considerado como templo do diabo; e uma vez que as índias nuas eram objeto de extrema beleza e sedução para os brancos colonizadores. Havia apenas uma solução: vesti-las e impô-las sua falsa moralidade, calcada no terrível e degradante sentimento de culpa.
Porém onde há culpa, há também castigo e logo tal moralidade foi lhes imposta com total severidade.
Não admira, por isso, que as igrejas estejam abarrotadas de pessoas obcecadas com os sentimentos de culpa e de pecado, já que aprendem desde que nascem a identificarem em todas as coisas naturais expressões de pensamentos pecaminosos.
O afastamento do homem da natureza trouxe-lhe também doses desnecessárias de sofrimento psicológico, já que sendo o homem uma parte da natureza - e como a parte só tem sentido quando vista em seu todo - o afastamento do homem da natureza, não o deixaria se ver como parte de um grande todo, de um grande “plano”, gerando-lhe sensação de abandono e incompletude. Não admira, por isso, que após afastarem o homem da natureza, muitos religiosos digam que lhes falta algo, como um deus ou algo parecido.
Todavia, por meio da FILOSOFIA DO ORGASMO demonstraremos, nos próximos artigos, que, ao contrário do que nos é imposto, o homem verdadeiramente livre é aquele que segue a natureza, que não luta consigo próprio, contra sua própria natureza; não é alguém dividido entre o que se é e o desejo de negar a si próprio; enfim, ser livre jamais implica em renúncias, mas ao contrário, o verdadeiro escravo é aquele que ao reprimir seus impulsos naturais torna-se carrasco de si mesmo. Em suma, o presente trabalho, tenta, como no passado, harmonizar o homem à natureza por meio de sua sexualidade, tida como um meio de autoconhecimento, e ao harmonizar o homem com a natureza, harmonizará também consigo próprio, com que verdadeiramente somos. Demonstrando, enfim, que um maior grau de harmonia entre o homem e sua própria natureza é proporcional também a um maior grau de felicidade.

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