terça-feira, 19 de junho de 2012

ENTREVISTA SOBRE O LIVRO “SEXO, PERVERSÕES & ASSASSINATOS”



ENTREVISTA SOBRE O LIVRO “SEXO, PERVERSÕES & ASSASSINATOS”
O que lhe motivou a escrever o livro “Sexo, Perversões e Assassinatos”?
BOSCO SILVA: Sempre ouvimos alguma história sobre alguém que possui comportamento sexual que para muitos é tido como “estranho”: da mulher que, durante suas relações sexuais, implora por tapas (há até música sobre o tema), de outra que se masturba ao andar de bicicleta, do homem que prefere ter relações sexuais com mulheres menstruadas fantasiando tê-las desvirginado, etc. O engraçado é que tais gostos sexuais são sempre atribuídos a terceiros, nunca a si próprio. É um mundo que acontece sob o anonimato, mas que com o advento da internet, com seus milhares de sites dedicados ao tema, vemos que há um grande público sedento por esta forma de conteúdo. E que também tem reflexo na literatura, basta citar que um dos mais recentes sucessos literário mundiais é o livro “Cinquenta Tons de Cinza”, da inglesa E. L. James, que conta a história de uma mulher que tem sua curiosidade despertada, por seu amante, pelo mundo do sadomasoquismo. E assim o que julgávamos estranho é muito mais comum do que se pensa. Este mundo sexual anônimo sempre me causou interesse, com suas histórias impressionantes, então pensei, já que também causa interesse a outros, por que então não unir questões sobre o tema a outra de minhas paixões, histórias policiais, com elementos reais que superam a mais fantasiosa ficção, aproveitando temas atuais, como a pedofilia, descrevendo e analisando várias formas de perversões por meio de perfis psicológicos e sexuais de vários personagens, tendo como instrumento as ideias do maior ícone de todos os pervertidos, Marquês de Sade. Seria uma história explosiva! Então a criei.
Qual o objetivo do livro?
BOSCO SILVA: O livro “Sexo, Perversões & Assassinatos” tem como objetivo levar o leitor a uma viagem sem preconceito ao alucinante e obscuro mundo do sadomasoquismo; um mundo composto de pessoas que só obtém plena satisfação sexual com práticas não consideradas “normais”: são pessoas que precisam de algo além do que o sexo convencional pode lhes dar, este algo pode ser a dor ou o desejo sexual voltado para objetos ou partes específicas do corpo humano, ligados indiretamente ao sexo, como botas de couro, pés, etc. Uma viagem que parte de inocentes jogos sexuais, envolvendo cordas, chicotes e algemas, que apimentam um relacionamento a dois, em que um dos parceiros assume uma postura submissa, a um sadomasoquismo mais extremo (hard), onde há também desejos por secreções e excrementos humanos; e por fim, a um último estágio que tem a morte como sua finalidade, como é o caso extremo dos necrófilos. E embora o livro passei por várias formas de atividades sexuais, que em muitos casos tem como modelo a obra de Sade, ele se concentra em uma forma específica de atividade sexual que é importante para a trama policial, a asfixia erótica.
Qual a característica principal desta forma de fetiche?
BOSCO SILVA: A asfixia erótica é uma atividade sexual relativamente comum em grupos de pessoas que praticam o sadomasoquismo, pode ser praticada em duplas, durante o ato sexual, ou sozinha, durante a masturbação, tem como finalidade a intensificação do prazer sexual por meio da privação de oxigênio.
Em seu livro você toca em dois casos famosos de suspeita de asfixia erótica, que são os casos do ator americano David Carradine e do vocalista da famosa banda de rock australiana da década de 80, Michael Hutchence do INXS. Comente um pouco sobre isso.
BOSCO SILVA: São dois casos já bastante famosos na internet, ambos foram encontrados nus com corda e cinto, envolta do pescoço, respectivamente. É uma atividade perigosa, só nos Estados Unidos, por exemplo, estima-se que entre 500 a mil pessoas morram por ano praticando-a. Contudo, na maioria das vezes, são interpretadas como homicídio ou suicídio.
Embora o livro seja classificado como policial, ele possui outros aspectos importantes?
BOSCO SILVA: Sim, possui dois aspectos que para mim são bem mais importantes que a trama policial, e que são usados como pano de fundo: um em que é discutida a sexualidade humana, principalmente sobre a questão “o que é normal em matéria de sexo?”, em que são analisadas algumas “perversões” sexuais e discutida o porquê de alguns casos serem proibidas; qual a parcela de culpa da sociedade naquilo que tentam justamente proibir; e a outra, uma concepção filosófica que toma o escritor Marquês de Sade como uma das personalidades fundamentais para o entendimento da sexualidade humana, visão que é contraposta, por sua vez, ao senso comum que vê este autor apenas como um pensador pornográfico e pervertido, incapaz de outro mérito a não ser o de ter servido de modelo para a psiquiatria, como um modelo por excelência de sádico.
Como surgiu o interesse por Sade?
BOSCO SILVA: Cheguei a Sade como a maioria: o conheci por meio de matérias sobre sua literatura ácida, que mistura sexo, dor, morte e excrementos, e também de suas ideias extravagantes e comportamentos de vida excessivos, como, por exemplo, o seu famoso prazer em chicotear prostitutas. Mas, ao contrário da maioria, que permanecem nesse aspecto somente, me senti muito mais atraído por suas ideias e história quando percebi o que há por trás de tudo isso, as ideias que justificavam seus atos.
E o que há?
BOSCO SILVA: Há um grande pensador, que foi o primeiro a questionar e conceber uma nova interpretação de liberdade, independente da tradição de 25 séculos de pensamento grego. Um pensador injustiçado, que, ao ter misturado, revolucionariamente, pornografia e filosofia, jamais - mesmo que cada vez mais seja valorizado - será devidamente respeitado. Mas esta mistura explosiva era necessária ao seu pensamento, pois ele foi um dos primeiros a ver a grande influência da sexualidade na mentalidade humana, por isso ele foi o grande catalogador das perversões sexuais de seu tempo. E por meio delas ele queria entrever os limites do humano. Uma das grandes sacadas de Sade, que creio exemplifica bem seu trabalho, é a afirmação de que as sociedades humanas ganhariam muito se liberassem mais modos do ser humano extravasar seu sadismo e masoquismo naturais; e isto é a pura verdade, e já era sabido pela antiguidade, pelo menos de modo inconsciente, por isso sempre vemos na história humana atividades ligadas a esse modo de pensar, desde os antigos espetáculos de sangue do coliseu romano, aos vídeos games violentos e, por sua vez, as lutas de vale tudo de hoje; tudo isso são meios de liberar o sadismo, não são apenas “pão e circo”.   
Quando você comenta sobre seu livro, quais são as perguntas mais frequentes sobre ele?
BOSCO SILVA: Quando se fala sobre sexo, é comum que apareça logo alguém com algum comentário engraçado ou pergunta ofensiva, eu não fui exceção a esta regra. É como se fosse impossível falar com seriedade a respeito de sexo, talvez isso demonstre que o sexo ainda é um assunto bastante polêmico e tabu para muitos, e justamente por isso alguns tentam descontrair o assunto fazendo estas piadas, por isso o livro traz suas pitadas de humor também, eu diria de um humor negro e ácido, para torná-lo mais descontraído, um humor que aparece desde sua primeira página. Mas a pergunta que mais me fazem a respeito do livro, é o quanto de experiência própria foi necessário para sua feitura.
Então aproveitando o ensejo, quanto de sua experiência há no livro?
BOSCO SILVA: Eu diria que o mais importante foi minha vivência com uma população que tem por hábito frequentar a noite, as casas noturnas de shows eróticos e também as minhas conversas com prostitutas. Na noite, há uma tendência maior à liberação das paixões, dos desejos. É como se o dia fosse dedicado aos compromissos sociais e a noite fosse dedicada às paixões do corpo. Nisso há certa semelhança entre a noite e as guerras, tomada as devidas proporções, claro, pois assim como aquelas, nestas, uma vez afrouxadas as regras sociais, impera os desejos mais primitivos dos homens.
Em tempos de tanta liberdade sexual ainda é necessário um livro que debata a repressão sexual?
BOSCO SILVA: Como é citado no livro, um elemento importante do sexo, que é muito negligenciado, é a transgressão; ela também é fonte de prazer, que tanto pode gerar atos de vandalismo quanto prazer sexual. É ela que na maioria das vezes está por trás, por exemplo, de casais que gostam de praticar atos sexuais em público ou pessoas que possuem interesse pelo incesto. Sendo assim, mesmo que haja uma maior liberdade sexual, sempre haverá aqueles que procurarão ir além dos limites, que procurarão transgredir as regras, que nunca estarão satisfeitos com elas, sejam em que grau de liberdade for. O que não quer dizer que terão sempre atitudes extremas, poderão ter também atitudes conservadoras, já que o importante para essas pessoas é transgredir as regras vigentes. Assim sendo a transgressão poderá gerar casos de pessoas que agridem aquelas que se beneficiem de uma maior liberdade sexual, como os homossexuais. Deste modo o livro fala não apenas de repressão sexual mas também de liberdade sexual e de sua relação com a transgressão.
A internet teve alguma influência em seu trabalho?
BOSCO SILVA: Sim, claro, graças a ela tornou-se viável a pesquisa para o livro, já que ninguém sai por aí contando, livremente, sobre suas fantasias, principalmente se essas fantasias fogem do convencional: o mundo do sadomasoquismo é bastante fechado. Assim prestei bastante atenção em redes sociais, fóruns, comunidades, etc. de sites sadomasoquistas. E pesquisando algumas dezenas de sites, e sendo sites pagos, que oferecem a seus clientes todas as formas de fetiches, desde o mais usual ao mais escatológico, vemos logo que o que achávamos ser algo incomum é bastante comum, sendo bastante praticado sob a penumbra do anonimato, com sites tendo milhares de acessos diários.
E o que você encontrou que lhe chamou mais atenção?
BOSCO SILVA: A indústria pornô japonesa, pois é bastante interessante. Os japoneses são responsáveis pela criação de atividades sexuais que fogem totalmente do convencional, que chega até ser engraçado. Isso tem uma explicação simples: como a indústria pornô japonesa é tolhida por uma lei que proíbe que órgãos sexuais sejam mostrados sem tarjas eletrônicas que dificulta a visualização destes, o jeito foi encontrar formas de sexo que fugisse deste empecilho investindo mais nos fetiches, assim há filmes de mulheres vestidas que se esfregam em objetos caseiros, como maçanetas, quinas de mesas, etc., como substituto para pênis. O que originou, por sua vez, o famoso bukakke, que é o banho no rosto de mulheres com o esperma de dezenas de homens. E embora haja esse limite, a indústria pornô japonesa é bastante diversificada havendo até mesmo filmes que beiram o crime, como filmes com mulheres pequenas e de rostos infantis, em cenários imitando móveis caseiros enormes, para que dei a impressão de ser um filme com crianças, sem falar dos filmes com coprofilia (sexo com fezes humanas), enema (sexo com lavagens intestinais) e vômitos. Mas saindo da área dos japoneses, vi um site que a atração principal é a ejaculação nos olhos das atrizes; um outro que beira a necrofilia, já que mostra a extração de vaginas de cadáveres. E há também aqueles em que anônimos tornam-se famosos mostrando suas aventuras sexuais, como um em que o sujeito enfia um vidro de maionese no ânus, quebrando-o em seguida e expelindo bastante sangue. Isto tudo apenas na internet convencional, mas há também a chamada Deep Web, uma parte obscura da internet, em que os Googles da vida não conseguem identificar os sites e seus conteúdos, aí a coisa pega fogo, havendo desde sites ligados a terrorismo à pedofilia e ao canibalismo. Bem, em suma, há espaço na internet para todos os gostos imagináveis; coisas que nem mesmo Sade sonhou.
Em seu livro você também fala sobre as sociedades secretas ligadas ao sexo.
BOSCO SILVA: Sim, descrevo algumas delas. Em geral as pessoas associam sociedades secretas apenas com misticismo ou com o crime, como a Máfia ou a Yakuza, a máfia japonesa, embora estas, em alguns casos, trabalhem com o tráfico de mulheres para a prostituição, mas há também sociedades secretas ligadas exclusivamente ao sexo. No século XVIII, havia centenas delas, como a Ordre de Cythère e a Société du Moment. Elas possuíam códigos secretos e rituais de iniciação. Houve na França, no começo do século XX, sociedades secretas de estranguladores sexuais. No livro eu tento situar essas sociedades nos tempos de hoje. Especulo o quanto ganhariam estas sociedades com a discrição da modernidade, com a internet, por exemplo. Os pedófilos são um bom exemplo disso. Eu não me surpreenderia, nem um pouco, se houvesse uma grande sociedade secreta internacional de pedófilos.
Por último: O livro visa a que público?
O livro tem como leitor ideal pessoas que querem conhecer os extremos do sadomasoquismo, adornado por uma história policial, com suspense, horror e pitadas de história dos costumes sexuais, incluindo os gostos sexuais de importantes escritores. E também, claro, aqueles que sentem interesse em conhecer melhor o pensamento e a obra do Marquês de Sade. Portanto, ele não agradará aos que desejam uma história de amor envolvendo joguinhos sexuais picantes com chicote e algemas.
Acesse o link a seguir para ler os primeiros capítulos de “SEXO, PERVERSÕES & ASSASSINATOS”:
https://clubedeautores.com.br/book/130007--SEXO_PERVERSOES__ASSASSINATOS


          

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