sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

BLACK SABBATH E O ROMANCE GÓTICO



O ROMANCE GÓTICO


Suspenso no cume de uma íngreme montanha, cercada abaixo por escuros bosques de pinheiros, cuja luz do sol não consegue vencer sua escuridão, e em que um estranho silêncio parece dominar tal lugar, que é quebrado apenas por sons de corvos que parecem anunciar a vinda de uma terrível tempestade, jaz o solitário castelo, de onde se pode ouvir imensos lobos uivando a noite para a lua. O castelo possui longos corredores que levam a inúmeros quartos, alguns que nunca são abertos; e velhas escadas levam a torres negras que estão constantemente interditadas; passagens secretas conduzem a subterrâneos, em que alguns velhos esqueletos testemunham velhas histórias; e rajadas de vento fazem bater repentinamente janelas nos andares superiores, e pesadas portas que fazem ranger suas velhas dobradiças, em antigos cômodos que conduzem a câmaras de tortura. Acrescenta-se a isso fatos sobrenaturais, como fantasmas que arrastam correntes pelas longas noites no castelo, e, claro, uma bela donzela em perigo, perseguida por um sádico senhor, e protegida por um virtuoso mocinho que, embora disfarçado de plebeu, possui sangue real.

      Esta é a fórmula que desde então tem encantado o mundo até os dias de hoje. Estória que teve inicio com o romance O Castelo de Otranto, publicado em 1764, do escritor inglês Horace Walpole; que é apontado como o primeiro romance gótico; que marca o início da literatura de terror.
PESADELOS E ROMANCE GÓTICO

Horace Walpole

       Horace Walpole (1717 – 1797), um escritor especialista na idade média, concebeu seu romance através de um sonho, ou melhor, de um pesadelo, em que uma gigantesca mão, revestida por uma armadura, o aguardava sobre a escada de um velho castelo. À noite, inspirado pelo pesadelo, pôs-se a escrever sem saber bem o que escreveria; seguia uma leitura automática; sua mão escrevia rapidamente como se fosse conduzida por algo desconhecido, e mais forte que ele: seu inconsciente; passando horas ininterruptas a escrever, só terminando quando seu corpo exausto era vencido pelo cansaço.


Ann Radcliff

      Pesadelos passaram então a ser a principal fonte de inspiração para tais escritores. Ann Radcliff (1764 - 1830), famosa escritora gótica inglesa, costumava provocá-los por meio de pesados jantares. H. P. Lovecraft (1890 - 1937) costumava anotá-los imediatamente após acordar. O que explica em grande parte a atmosfera mórbida e noturna de tais escritos; mas certamente não tudo, pois falta a parte mística.
Para muitos escritores de romances góticos, suas estórias cheias de fantasmas, demônios, vampiros, possessão, etc., não seriam apenas ficção, mas estórias que contariam uma outra realidade, tão real quanto a que supostamente vivemos. Alguns destes escritores pertenceram mesmo a sociedades de magias, como a Ordem Hermética da Golden Dawn, como os escritores Arthur Machen, Algenor Blackwood, Lord Dunsany.

Arthur Machen
      Para o escocês Arthur Machen (1863 – 1947), autor da famosa novela O Grande Deus Pan, haveria uma outra realidade independente da que vivemos, e que seria a verdadeira realidade, a que nós verdadeiramente pertenceríamos. Sua famosa novela conta a estória de um cientista que busca uma forma de manter contato com esta realidade paralela, por meio de uma desastrosa operação cerebral em uma voluntária, que por meio desta cria uma passagem de contato entre o nosso mundo e o mundo do “grande Deus Pan”.

O Necronomicon, o livro dos mortos, em Lovecraft é a passagem para um outro mundo

       Já para muitos fãs do famoso escritor americano H. P. Lovecraft, seus textos esconde em si um conhecimento perdido, sobre as origens do homem. Ele nos conta dos antigos habitantes da Terra, que teriam vindo de outros planetas, e que seriam os verdadeiros criadores dos homens; nossa verdadeira história teria sido distorcida pelas antigas religiões, que passaram a interpretar estes antigos seres como deuses. Tais seres se comunicariam com os homens por meio de sonhos, ou por meio do antiquíssimo livro Necronomicon, o livro dos mortos, escrito por um dos últimos conhecedores da verdadeira história. A literatura de H.P. Lovecraft deu origem mesmo a algumas seitas religiosas, como a Cientologia. O engraçado é que misteriosos fenômenos atuais, captados por modernos meios tecnológicos, se assemelham bastante com algumas descrições dadas nas estórias de Lovecraft.

Acima, um dos personagens de Lovecraft
CINEMA E O ROMANCE GÓTICO
Com sua atmosfera sombria, mórbida e noturna, com noites que pareciam ser eternas, com espessas neblinas, O Castelo de Otranto, publicado em 1765, pelo escritor inglês Horace Walpole, influenciaria várias gerações de escritores, influenciando mesmo o famoso romance Drácula, do escritor Bram Stoker, com sua estória de um morto-vivo sugador de sangue que será incansavelmente copiado no cinema e na literatura futura. O cinema será outro meio de arte que sofrerá profundamente a influência do O castelo de Otranto, em grande parte por meio do romance Drácula, que terá sua versão cinematográfica, como um dos primeiros registros bem sucedido da arte do cinema; dando inicio, por sua vez, a uma longa série de filmes de terror, em especial ao filme “Black Sabbath – As Três Máscaras do Terror”, que terá, por sua vez, profunda influência sobre a banda-tema do presente texto ao ponto de rebatizá-la.
BLACK SABBATH – AS TRÊS MÁSCARAS DO TERROR


O filme Black Sabbath – As Três Máscaras do Terror, do diretor italiano Mario Bava, é composto de três estórias, estórias em que não faltam elementos góticos como na literatura do gênero, como fantasmas, vampiros, negros bosques, lobos uivando para lua e etc.; foi gravado em 1963, tendo o título I Tre Volti Della Paura, como título original; tendo seu título sido mudado na Inglaterra e nos Estados Unidos. E se o nome BLACK SABBATH é o escolhido para substituir o título original italiano de tal filme, é sinal que o significado do novo título já era bem conhecido do público inglês.
O SABÁ NEGRO
A palavra Sabbath, que tem origem no hebreu, e que originou, por sua vez, a palavra sábado, significa na cultura judia o sexto dia da semana, o dia que Deus descansou após criar o mundo; um dia dedicado a oração e a meditação. Porém, em lendas medievais europeias significava também a antiga reunião de bruxas, em que o próprio demônio aparecia para ser cultuado por elas. Daí a origem de Black Sabbath, tendo a palavra inglesa Black (negro), demonstrando se tratar de um Sabbath (Sabá) do mal. O Sabá negro, portanto, seria um termo bastante conhecido da cultura inglesa, um termo tradicional, ligado a estórias medievais, sobre contato com Demônios, e etc.
Fato é que, a Inglaterra, ainda hoje, mantem vivas muitas crenças pagãs, que tem influenciado muitíssimo sua literatura, principalmente sua literatura de terror e de fantasia, tanto que não é exagero afirmar que muito de Harry Potter é baseado em crenças religiosas pagãs.
GEEZER BUTLER E O NOME BLACK SABBATH


O baixista Geezer Butler era um alucinado fã de romances e filmes de terror, particularmente do escritor Denis Wheatley; um escritor que fazia parte de uma longa linhagem de escritores de terror, cujas estórias falavam de pacto com Demônio, magia negra e possessão demoníaca; portanto, um escritor que pertencia a uma forte tradição literária inglesa, que teve como origem O Castelo de Otranto, mantendo com este uma forte ligação.
Por meio de Butler tanto a literatura gótica quanto o cinema de terror teria uma profunda influência sobre sua banda, utilizando mesmo o nome do filme Black Sabbath – As Três Máscaras do Terror, como nome para o rebatismo de sua banda; influenciando também por meio de tais elementos seu som e seus temas (veja a matéria: Black Sabbath e as estórias de terror).

O ROCK E A LITERATURA GÓTICA
Portanto, finalmente, por meio da banda inglesa Black Sabbath, a literatura gótica, após influenciar profundamente a arte do cinema, invadia, de forma mais completa, também o rock com sua atmosfera noturna, mórbida, sepulcral, com seus temas falando sobre misteriosas estórias de fantasma, possessão, anjos caídos, morte, deuses e religiões pagãs, e um misticismo antigo, ou cultuando elementos que lembravam a idade média, como textos e músicas antigas, e filiando o rock a estilos de músicas antigas como a música celta, o canto gregoriano, etc., criando mesmo estilos diferentes, como o Gothic Metal e o Black Metal.
E se a atmosfera noturna e misteriosa da literatura gótica tinha definitivamente invadido o rock, seria natural a criação de uma estética ligada a mesma, uma forma de se vestir ligada a esses novos temas; e nada como a cor negra para transmitir a atmosfera de um Roman Noir (Romance Negro), título original dado à literatura gótica.       

Nenhum comentário:

Postar um comentário