Após o quarto ecstasy, Paula foi ao banheiro da boate. Arriou as calças e
sentou-se no vaso sanitário; acendeu um cigarro e ficou a olhar as paredes
cobertas de frases obscenas. Uma lhe causou risos incontidos:
“Para curar um amor platônico, só mesmo uma foda homérica.”
Tragou mas uma vez o cigarro enquanto ouvia o cair de sua urina na privada, embalada pelo som enervante da música eletrônica que vinha da pista de dança.
-
Um trago, desejo um trago – disse sua vagina.
-
O que está acontecendo comigo? – disse Paula consigo mesma, passando as mãos
sobre o rosto e olhando, atordoada, sua genitália.
-
Vamos, rápido – continuou a vagina.
-
O que você quer?
-
Já disse: um trago – respondeu a vagina impaciente.
-
Não acredito que estou conversando com minha própria vagina!
E
com a insistência da mesma, Paula acendeu um cigarro e levou até sua vagina. E
esta tragou com voracidade.
-
Sabe, nunca gostei do termo vagina, prefiro xoxota – disse a própria, tragando
o cigarro, e soltando a fumaça, como as vaginas daquelas praticantes de pompoarismo
da Tailândia. – É bem mais carinhoso. E, além disso, você sabe, nenhum namorado
seu me chamou, naquelas horas, de vagina; sempre foi "deixa eu ver, meu amor, essa buceta... essa perseguida... essa xoxota". Lembro que um me chamava de moqueca.
-
O Marcos.
-
Que Marcos? O Salvatore?
-
Sim. Ele era tão carinhoso e engraçado.
-
Mas havia aquele outro, aquele engraçadinho que me chamava de pata de camelo.
-
Ah, o Teco.
-
Mas pior que ser chamada de vagina, era quando aquele outro sujeito me chamava
de vulva, que nome feio.
-
Ah, esse era o Haroldo, o Brandão. Ele era tão metódico; mas o que esperar de
um psicólogo, né?
-
Pois é, então porque me chamar de vagina. Vagina é dito quando alguém não quer
ter intimidade, como um ginecologista, mas eu sou íntima de você, por isso me
chame de xoxota, meu bem.
-
Mas eu sei como você ficou na minha última visita ao ginecologista, sua
danadinha.
-
Também pudera com aquele homem lindo. Fiquei toda molhadinha!
-
E se fosse uma fantasia – argumentou Paula, sentada novamente, com as calças
arriadas na latrina, dividindo o cigarro com sua vagina -, digamos que alguém
me pedisse para irmos às vias de fato, fantasiando ser um ginecologista?
-
Bem, toda regra tem exceções, minha querida.
-
Ahã!, te peguei agora sua safadinha – disse Paula dando leves palmadas em sua
vagina.
-
Tudo bem, tudo bem, eu me rendo, mas não faça como aquela vez em que
encontraste outra xana pra se esfregar.
-
Foi mais uma experiência. E que tal? Você não gostou?
-
Bem, sabe quando você quer calabresa mas lhe dão salsicha?
-
Ahã.
-
Foi assim que eu me senti: não me contentei com dedos, querida. Falando nisso, não
estamos esquecendo de algo?
-
Maurício! – exclamou Paula levantando-se e vestindo rapidamente as calças.
-
Ele parece ser tão bem dotado! – comentou a vagina satisfeita.
-
Não me admira que não se contenha com salsichas, larga como estás, sobra espaço
– comentou uma voz grave.
-
Quem disse isso? – inqueriu Paula, assustada, antes de abrir a porta do
banheiro.
-
É ele – respondeu a vagina.
-
Ele quem?
-
O seu cu.
-
Ele também fala?!
-
Bem, ouço mais do que falo, mas dou meus palpites também, querida – disse o cu de Paula.
-
Vamos, vamos, meu bem, não ligue para as opiniões de alguém que nunca lhe encarará de frente – comentou a vagina enquanto Paula abria a porta e seguia
enfrente.
- O que você sente é inveja, já que no final eles sempre acabam procurando por mim - retrucou o cu a vagina, enquanto esta lhe mostrava a língua, ou algo parecido.
- O que você sente é inveja, já que no final eles sempre acabam procurando por mim - retrucou o cu a vagina, enquanto esta lhe mostrava a língua, ou algo parecido.
-
Ah é? Eu juro que irei atrapalhar da melhor forma possível: merda – disse o cu
irritado, enquanto Paula seguia para mais um encontro amoroso, sendo imediatamente interrompida, e retornando ao banheiro, mas desta vez por outros motivos.
Um texto do caralho. Valeu me colocar na parada, Bosco. E a fotografia é sensacional.
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