sábado, 26 de janeiro de 2013

NA CALADA DA NOITE (de Bosco Silva)



A chuva continuava a cair sem parar. A água rodopiava pelos esgotos trazendo à tona o fétido cheiro de nossas excreções e pesadelos.
Os pingos, trazidos pelo vento, molhavam nossos pés, aos poucos.
A garçonete, com frio, guardava as últimas cadeiras e, por fim, nos avisava que o estabelecimento já iria fechar. Tentei comprar mais uma cerveja, enquanto esperava a chuva passar, mas o Mauro, o dono do bar, nos diz, em tom ríspido de quem não lucrou com a noite, que não daria mais para esperar. Fomos então para frente do bar, nos protegendo dos grossos pingos de chuva, enquanto ele apagava as luzes dizendo que a energia estava cara demais. Seguimos, aproveitando os telhados vizinhos para algum lugar que pudesse nos oferecer um teto e algumas garrafas de bebidas. Por fim, logo encontramos um lugar que poderia nos proporcionar alguns tragos em troca de doses não homeopáticas de dinheiro.
Vejo então uma prostituta solitária, que com a chuva estava sem clientes. Eu e João entabulamos conversa, lhe oferecemos bebida e companhia, mas tudo que parecia animá-la era apenas dinheiro.
Um carro para na pista enfrente, ela corre. Mas após alguns minutos ela volta com o semblante de que o programa tão esperado não viria tão cedo.
Um viciado se a conchega, conta sua história, enquanto oferecíamos bebida e também algumas doses de companhia.
Após horas, a chuva, por fim, para. O espeço véu da noite é aos poucos desfeito pela claridade do dia. Partimos embora. À frente a prostituta sem clientes; lhe proponho um programa de consolo, João também, mas por morar perto, este vence.
- Bem, não se pode ganhar todas – disse eu a ele.

Maldito capitalismo!!!


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