A chuva continuava a cair
sem parar. A água rodopiava pelos esgotos trazendo à tona o fétido cheiro de
nossas excreções e pesadelos.
Os pingos, trazidos pelo
vento, molhavam nossos pés, aos poucos.
A garçonete, com frio,
guardava as últimas cadeiras e, por fim, nos avisava que o estabelecimento já
iria fechar. Tentei comprar mais uma cerveja, enquanto esperava a chuva passar,
mas o Mauro, o dono do bar, nos diz, em tom ríspido de quem não lucrou com a
noite, que não daria mais para esperar. Fomos então para frente do bar, nos
protegendo dos grossos pingos de chuva, enquanto ele apagava as luzes dizendo
que a energia estava cara demais. Seguimos, aproveitando os telhados vizinhos
para algum lugar que pudesse nos oferecer um teto e algumas garrafas de
bebidas. Por fim, logo encontramos um lugar que poderia nos proporcionar alguns
tragos em troca de doses não homeopáticas de dinheiro.
Vejo então uma prostituta
solitária, que com a chuva estava sem clientes. Eu e João entabulamos conversa,
lhe oferecemos bebida e companhia, mas tudo que parecia animá-la era apenas
dinheiro.
Um carro para na pista enfrente,
ela corre. Mas após alguns minutos ela volta com o semblante de que o programa tão
esperado não viria tão cedo.
Um viciado se a conchega,
conta sua história, enquanto oferecíamos bebida e também algumas doses de
companhia.
Após horas, a chuva, por
fim, para. O espeço véu da noite é aos poucos desfeito pela claridade do dia.
Partimos embora. À frente a prostituta sem clientes; lhe proponho um programa
de consolo, João também, mas por morar perto, este vence.
- Bem, não se pode ganhar
todas – disse eu a ele.
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