O telefone já devia
estar tocando a alguns minutos naquela manhã quando fui, cambaleando de sono,
atendê-lo. Do outro lado da linha, minha tia dizia- me que meu tio, seu irmão,
acabara de falecer. O choque da surpresa fez meu sono passar instantaneamente.
Fui para um dos quartos, o qual estava fechado com a chave para o lado de fora
da porta, para pegar algo, talvez uma caneta. Ao sair do quarto, noto que a
chave não se encontrava. Procuro-a na sala, no corredor, na cozinha, etc. Volto
novamente para o mesmo quarto. Procuro-a debaixo da cama, ao redor da mesma, em
cima das prateleiras, etc. Não a encontro. Olho para o criado-mudo e vejo um
papel dobrado, cuidadosamente em forma de quadrado, que chama minha atenção.
Pego-o, desdobro-o, lentamente... E qual não foi minha surpresa ao descobrir
que a chave se encontrava cuidadosamente embrulhada no mesmo papel! A dúvida,
misturada ao espanto, invadiu minha mente, naquele momento, sóbria. Como a
chave teria ido parar lá?! Se não havia outra idêntica e eu estava só! Teria
sido eu que a teria embrulhado, cuidadosamente, naquele papel, e não lembrava? Ou
seria este mais um dos ditos fenômenos sobrenaturais, em que não encontramos
explicações óbvias? Bem, sempre há espaços para dúvidas.
Contudo, não era a
primeira vez que fatos estranhos, como esse acontecia. Fatos, assim, são comuns
em minha família: sons de passos, quando não há ninguém por perto, espectros
humanos desconhecidos, descrições semelhantes sobre fenômenos estranhos, sobre
nossa casa, por pessoas de dentro e fora da família, etc.
Para um cético, como
eu, tais fenômenos poderiam ser explicados pela extrema crença adotada por tais
pessoas, por sua imaginação, ou por processos inconscientes, o que em muitos
casos parecem se confirmar, por exemplo, quando pessoas ditas médium, durante
estados de transe, supostamente recebem entidades de personalidades e
comportamentos extremamente diferentes do próprio médium. Porém, quando
analisadas por pessoas que conhecem bem a personalidade e o comportamento do
dito médium, percebe-se que a tal entidade se resume a fatos vividos pelo
próprio médium. Como o exemplo, que tive oportunidade de observar, em que uma
pessoa conhecida, durante um estado de transe, teria supostamente recebido o
espírito de um malandro. Porém, tal entidade ao verbalizar palavrões ou gírias,
não ia além dos palavrões e gírias conhecidas pelo próprio médium, o que no
mínimo soa como estranho, já que as expressões de gírias e palavrões possuem
uma variedade extremamente grande. No entanto, se resumia a uma quantidade
pequena que o próprio médium, sendo uma pessoa educada e não afeito a ambientes
e atos de malandros, conhecia.
Ou a sensação que
algumas vezes podem ocorrer, quando, algum tempo após deitarmos e fecharmos os
olhos sentimos a sensação de parte do colchão atrás de nós afundar, pouco a
pouco, como se alguém cuidadosamente se deitasse ao nosso lado, não querendo
nos acordar. E ao sentirmos isso, viramos a cabeça para verificar quem é, e ao
olharmos verificamos que não há ninguém! O medo e o espanto apoderam-se de nós,
nesse momento e nos persegue durante outras noites. O medo que dá próxima vez
se repita e que a visão seja terrível. O medo poderia se desfazer ao
percebermos que tudo não passou de sonho. E que a sensação de estar acordado ou
dormindo, não possui nenhuma diferenciação, nem mesmo ínfima! O que gera toda a
confusão entre estar acordado ou dormindo.
Há ainda os chamados
corpos incorruptíveis: corpos humanos mortos que após dezenas ou mesmo centenas
de anos, permanecem no mesmo estado como se estivessem vivos. Como o de Santa
Bernardette, morta em 1879, tendo o seu corpo, de modo natural, sido preservado
intacto até aos nossos dias. Assim como os de vários outros santos.
Santa Bernardette, morta em 1879.
Seu corpo permanece incorruptível até nossos dias
Durante a exumação de
seu corpo em 1909, a comissão encarregada de investigar sua santidade, encontrou
seu corpo intacto, como no dia de seu sepultamento, com uma única diferença,
seu hábito estava molhado. “Sepultada, foi novamente exumada em 1919, sob as
vistas de testemunhas leigas e religiosas. Os médicos que examinaram o corpo
escreveram: ‘Quando o caixão foi aberto o corpo parecia estar absolutamente
intacto e sem nenhum odor post mortem. Não havia cheiro de putrefação e
nenhum dos presentes experimentou qualquer desconforto’. Uma terceira exumação
foi feita em 1923 e o cadáver encontrava-se nas mesmas condições. Desta vez, o
corpo foi aberto (necropiciado) e os órgãos internos estavam flexíveis. Um
médico escreveu: ‘O fígado estava leve e sua consistência era praticamente
normal’.”1
Antes, porém, que possam
demonstrar ceticismo, convém esclarecer que tal fato não acontece apenas com
santos católicos, embora alguns afirmem o contrário, ou de outros credos, mas
também com pessoas comuns, acometidas pelo processo natural chamado adipocere,
em que um corpo estando protegido de insetos, como moscas e larvas, em ambiente
com pouco oxigênio e úmido, com certa dose de alcalinidade e temperatura
constante, começa ter seu tecido transformado, lentamente em sabão. O que
protege o resto do corpo, lhe mantendo preservado. Como o ocorrido na cidade de
Acapetahua no México. Foi uma grande surpresa para a família do morto, durante
a exumação, constatar que apesar deste ter sido assassinado há 65 anos, seu
corpo permanecia intacto como se acabara de morrer, sem exalar qualquer mau
cheiro. Durante a tentativa de abrir a sepultura, os coveiros ainda feriram o
pé do morto, o qual não sangrou, mas ficou em carne viva!2
Acma, foto de Victor Chamlatti em vida
Foto durante a exumação
Acima, outro caso de adipocere:
criança sepultada em 1912, exumada em 1995
Porém, há fatos que nos
desafiam e que questionam nosso ceticismo. Até mesmo de um cético, como eu!
Casos, por exemplo, de visões - vistas até por mim próprio -, de imagens
humanas bem delineadas, que foram atestadas por mim, como não sendo o reflexo
de nenhum objeto ou formação casual dos mesmos, e que foram vistas somente por
mim. Caso como o acontecido comigo, há muitos anos atrás, quando era menino. Ao
acordar assustado em meio à imensa escuridão ao qual se encontrava o quarto,
procurei incessantemente algum sinal luminoso que demonstrasse não estar cego,
e afastasse tão desagradável sensação. Ao procurar por todos os lados, notei a
presença, ao meu lado esquerdo de uma figura com traços humanos a segurar uma
luz. Não podia ver toda a figura, mas podia visualizar um dos braços, o qual
segurava a luz, e parte de seu vestido branco com fita vermelha, o rosto e outras
partes do corpo não me era possível ver, estavam tomados pela escuridão. Até
esse momento não havia temor. Porém, ao tentar identificá-lo, chamando-o pelos
nomes de meus familiares e não obtendo resposta, a sensação de medo apossou-se
de mim. Imediatamente levantei-me da cama e fui para outra, da qual olhava
assustado para o mesmo lugar onde tal figura aparecera. Porém, ela já não
estava lá. Da cama verifiquei a total ausência de reflexos ou objetos que poderiam
explicá-la.
Sonho? Alucinação?
Talvez. Alguns dizem que é preciso adaptar a mente a fatos
novos, desde que comprovados pelos sentidos ou pela razão. E, assim, mesmo que
um dia uma xícara, por exemplo, nos dizer bom dia, devemos respondê-la, sem
nenhum choque de surpresa. Mas a verdade é que nossa primeira reação é duvidar
de nossos sentidos ou de nossa mente, ou ainda de nossa sanidade mental. Pois,
foi o que aconteceu, segundo o que nos conta uma conhecida revista de
divulgação científica3, com Maurício Casagrande:
No rádio tocava Oceano,
de Djavan. Maurício ia de São Paulo a Santos e acabava de entrar no primeiro
túnel da Rodovia dos Imigrantes. Foi quando sentiu um calafrio e ouviu:
– Ai, gosto tanto dessa
música.
– Tia, o que a senhora
está fazendo aqui? Disse Maurício, reconhecendo a voz.
– Ué, estou indo para a
praia, responde a tia, com naturalidade.
– Mas a senhora não
pode. A senhora está morta faz uma semana.
Dona Rosa, a tia de
Maurício que apareceu no carro de repente, reclamava de que estava perdida e
ninguém tinha ido buscá-la. “Só vi o Zé [o irmão dela], mas parecia que ele
estava de fogo”, disse. Sem saber o que fazer, o sobrinho sugeriu que ela
aguardasse para seguir seu caminho. Antes de sumir do veículo, a mulher
agradeceu a coroa de flores e só não deixou mais perplexo o administrador e
engenheiro eletricista Maurício Casagrande porque essa não era a primeira vez
que algo parecido acontecia. As primeiras manifestações estranhas apareceram na
infância, mas foi depois dos 27 anos que ele passou a protagonizar cenas de
horror: acordava durante a noite e via figuras cadavéricas no quarto, ouvia
vozes e começou a adivinhar data e hora da morte de pessoas próximas. Entre o
susto e o incômodo, buscou ajuda médica com psicólogos, psiquiatras,
neurologistas. Nunca encontrou nada errado.
Maurício chegou a
dormir duas noites no Hospital São Paulo, vigiado por equipamentos de
mapeamento cerebral, e a tomar ansiolíticos, que não o impediram de continuar
acordando com presenças fantasmagóricas. Apesar das inúmeras tentativas, não se
descobriu nenhum transtorno mental.
As consultas médicas
também fizeram parte da adolescência de Regina Braga, hoje com 52 anos. Aos 15,
ela começou a acordar rodeada de estranhos. “Eram figuras grotescas. Eu via
pessoas com os olhos esbugalhados em cima de mim. Comecei a entrar em parafuso”,
diz.
Os
pais passaram a levá-la a médicos, que receitavam calmantes. “O tranqüilizante
era uma porta de acesso maior. Eu relaxava, ficava indefesa e os ataques à
noite eram mais ferozes.”
E o que pode a ciência,
esse deus de ateus, dizer sobre tais fenômenos. Para a ciência tudo se resume a
mero fruto da imaginação ou a alucinações provocadas pelo próprio funcionamento
de nosso cérebro.
Apesar dos vários meios
inventados, como a ressonância magnética, a tomografia computadorizada e
outros, a capitação do que provoca estes estados de consciência está muito
aquém do que se deseja. Tal é a explicação para que estados como o de Maurício
não possam ser explicados, segundo os cientistas.
Contudo, a epilepsia
passou a ser um ponto chave para tentativas de explicá-los.
Os ataques epiléticos
podem provocar alucinações semelhantes a experiências sobrenaturais. O que
levou alguns pesquisadores a conceberem a possibilidade que reações semelhantes
às epiléticas possam ser a causa das chamadas experiências sobrenaturais.
O médico Olaf Blanke, da Escola Politécnica de
Lausanne, na Suíça, criou em laboratório aquela sensação desagradável de ter
uma presença parada às costas. A cobaia foi uma mulher de 22 anos, com
epilepsia, que se submetia a uma cirurgia para retirar a lesão que provocava as
crises4.
A equipe de Blanke
aplicou estímulos elétricos em pontos do lado esquerdo do cérebro. A reação foi
sinistra: a mulher sentiu que alguém estava atrás dela. Empolgados, os médicos
estimularam ainda mais a área e a paciente foi capaz de descrever o ser
invisível como uma pessoa jovem. Os pesquisadores, então, pediram que ela
tentasse abraçar os joelhos. Ao se abaixar, a mulher podia jurar que a presença
que sentia tinha segurado seus braços5.
No entanto, tais
sensações também podem ser produzidas por outros meios. Como por ondas
eletromagnéticas. O neurologista
canadense Michael Persinger faz testes com ondas eletromagnéticas em pessoas
normais. A experiência consiste em colocar capacetes, que geram uma espécie de
campo magnético, em voluntários vendados, dentro de uma sala escura e com
isolamento acústico. À medida que o pesquisador estimula o lobo temporal, os
voluntários têm sensações de fazer inveja a qualquer usuário de alucinógenos:
olhos que se mexem e viram luzes roxas, visões de incêndios, demônios,
deslocamento do corpo e cenas da infância como se acontecessem no presente6.
Para a neurologia, ver
espíritos é resultado de uma disfunção cerebral ainda não diagnosticada. Os
sintomas são parecidos com os de doenças como epilepsia, esquizofrenia (que
provoca alucinações auditivas e delírios de perseguição), tumores cerebrais
(que podem causar alucinações) e transtorno de identidade dissociativa, quando
o doente tem dupla identidade, ouve vozes e muda sua caligrafia. Mas a causa
seria bem diferente da dessas doenças e estaria relacionada a erros de sinapse
do cérebro. “Se há áreas do cérebro capazes de fazer contatos por telepatia, a
ciência simplesmente não tem como refutar ou comprovar”, diz a neurologista
Kátia Lin. Talvez nem mesmo o cérebro
abrigue todas as explicações.7
Contudo, esses são
apenas uma parcela de fenômenos descritos como sobrenaturais. Como explicar
cientificamente fatos como o do tecladista do conjunto Mamonas Assassinas que
horas antes, em uma gravação de vídeo, demonstrou preocupação com um sonho, em
que um avião se acidentava, que tivera uma noite antes, do acidente aéreo que
vitimou suas vidas.
Coincidência? Ou o
poder misterioso de prever a própria morte?
A verdade é que, embora
sejamos crentes por natureza, ainda sabemos muito pouco sobre tais fenômenos, e
enquanto as brumas que os envolvem, não si dissiparem mantenho-me cético,
porém, com reservas!
FONTES:
1. sobrenatural.org
3. Revista Super
interessante: Eles Vêem Espíritos / edição 237 – Março 2007
4. Idem
5. Idem
6. Idem
7. Idem
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