quarta-feira, 3 de julho de 2013

AS VELAS DE SADE (de Bosco Silva)



Após alguns minutos, Renata reaparece na sala, com os cabelos emaranhados e vestindo apenas uma calcinha. Dirige-se para a cozinha. E durante sua volta, com uma garrafa de bebida na mão direita, estende sua mão esquerda para Moreira, convidando-o para se juntar à festinha:
- Vamos, não fique aí sozinho.
Ao chegar ao quarto, Moreira vê o corpo nu de Kamy sobre a cama, um corpo escultural e moreno sob a leve luz da tarde, que ainda teimava em entrar pela janela. Renata segue então em direção a ela, enquanto Moreira prepara um drinque. E enquanto degusta a bebida, observa aqueles dois corpos que se entrelaçam, compondo linhas e formas dignas de uma obra de arte.
Kamy o chama, quer um gole da bebida. E enquanto Moreira se aproxima com a bebida, Renata o toma pelos braços, deitando-o sobre a cama, beijando-o e despindo-o.
Logo, os três corpos se entrelaçam seguindo os movimentos eufóricos do desejo. As bocas movem-se em todas as direções e em todos os lábios; as mãos, cegas, tateiam a superfície do desejo. Uma onda de calor parece irradiar de todos os corpos.
Renata, então, abre a gaveta do criado-mudo, tirando uma vela vermelha, e diz baixinho: “agora é a vez das velas de Sade”. Acende. E enquanto Moreira penetra Kamy, Renata põe-se a pingar cera de vela, sobre o corpo da amiga que, dominado pelo desejo, se contorce de prazer, com gemidos e gritos esfuziantes de prazer e dor. Os pingos caem sobre suas costas, seios, coxas, nádegas... Pingos vermelhos como sangue que, quentes, caem coagulando sobre a carne. A inversão é inevitável e, logo, também estaria Kamy pingando as velas de Sade sobre o corpo da amiga...

A festa continuaria ainda durante algumas horas. E exauridos pelo desejo, todos finalmente dormem.

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