Já fazia uma hora que a
última estação de rádio havia ficado para trás, naquela pista longa e solitária,
quando alguém acena para o carro pedindo carona. O velho Chevrolet para e uma
bela mulher de camiseta e bermudas jeans entra e senta-se no banco do carona,
dando inicio a uma conversa amigável com o motorista, que por alguns momentos divide
a atenção entre a estrada e o belo par de coxas ao seu lado.
Após alguns minutos de sorrisos
e de inúmeras trocas de olhares, subitamente, o rádio do carro começa a
funcionar, tocando uma velha canção do Led Zeppelin; o que leva Elton a batucar
o guidom do carro com os dedos enquanto dirige...
“You need cooling
Baby, i’m not fooling
I’m gonna send, yeah
You back to schooling”
É Whole Lotta Love, uma música de amor, que o leva a cantar:
“Way down inside
Honey, you need it
I'm gonna give you my love
I'm gonna give you my love”
Em seguida, passa a traduzir
a letra para a mulher sentada no banco do carona, com gestos um tanto quanto
libidinosos, empurrando o guidom do carro para o meio de suas pernas, simulando
movimentos sexuais, enquanto a olha:
“Lá no fundo
Querida, você precisa disso
Eu vou te dar o meu amor
Eu vou te dar o meu amor...”
Ao término da canção, outra
música do Led Zeppelin se segue. Desta vez a música tem uma suave introdução,
acompanhada de violão e de um agradável som de flauta doce.
É Stairway To Heaven, uma bela melodia que
certamente embalou milhares de amores adolescentes. Era, portanto, um bom
momento para ele mostrar o que sentia por aquela mulher ao seu lado. Parou
então o carro, e ao som de
“There's a
lady who's sure all that glitters is gold
And she's
buying the stairway to heaven
When she gets
there she knows if the stores are all close
With a word
she can get what she came for…”
Encarou seus belos olhos
e, sem resistência, beijou-lhe a boca com um longo beijo, tão longo quanto a
canção que ouvia.
Imediatamente surgiu o
desejo de irem para algum ambiente onde pudessem ficar, confortavelmente, a
sós.
Seguiram então para o
primeiro motel que viram: um motel simples, bem popular, mas que parecia ser
aconchegante; e, afinal de contas, apenas o amor dos dois era o que importava
naquele momento.
Ao entrarem no quarto,
uma agradável surpresa o esperava: o rádio do motel também estava sintonizado na
mesma estação que tocava músicas de sua banda preferida. Era como se o destino escolhesse
a trilha sonora ideal para um encontro a dois; que só fez melhorar quando All My Love, que ele tanto adorava,
começou a tocar...
“… All of my love, all of my love
Oh all of my love to you now
All of my love, all of my love
Oh all of my love to you now…”
O ritmo de Black Dog fora um verdadeiro estimulante
para os movimentos sexuais frenéticos que se seguiram sobre a cama, até que
alguém, bruscamente, mudou de estação passando o rádio a tocar uma velha canção
estranhamente familiar, que sua mãe cantava para ele quando pequeno:
“Eu tenho tanto pra lhe falar
Mas com palavras não sei dizer
Como é grande o meu amor por você...”
Sim, sim, era o velho Robertão
em pessoa, ou melhor, em voz, que invadia sua trilha sonora, fazendo Elton
interromper seu momento idílico de amor para levantar-se e mudar de estação, ou
pelo menos desligar o rádio. Após algumas tentativas infrutíferas verificou que
não havia botões e muito menos um painel de controle que pudesse diminuir o som
do rádio, mas apenas os alto-falantes no teto, sobre a cama, despejando em seus
ouvidos aquela letra melosa e sentimental ao estremo.
E após gritar várias
vezes para que botassem novamente na estação anterior, e não ser atendido,
verificou, ao olhar a cama, que estava perdendo tempo com algo secundário, e
que o melhor de tudo estava ali na sua frente, na forma de uma bela mulher nua
deitada sobre a cama; e que, afinal de contas, embora a música do Roberto fosse
piegas ainda era uma canção de amor, que podia se adaptar àquele momento íntimo
ou simplesmente ser ignorada. Elton preferiu, no entanto, ignorá-la por
completo; indiferença que duraria apenas alguns minutos, pois a próxima música o
puxaria imediatamente do paraíso para o mais torturante dos infernos:
“O cara que pensa em você toda hora
Que conta os segundos se você demora
Que está todo o tempo querendo te ver
Porque já não sabe ficar sem você
E no meio da noite te chama
Pra dizer que te ama
ESSE CARA SOU EU”
Elton mais uma vez se
levantou da cama; lançou alguns palavrões ao ar; gritou bem alto “maldito fã do
Roberto”. E ameaçou sair do quarto, sendo contido pela bela mulher, que lhe
acalmou chamando-lhe de volta à cama.
Elton fazia força para
não ouvir aquela música que sua mãe cantava para seu pai, e que lhe parecia resumir tudo que havia de mau gosto na
vida. Resolveu então, mais uma vez, ignorá-la concentrando-se na única música
que naquele momento lhe importava: os gemidos e as frases de amor abafadas que
vinham da boca de sua nova namorada. Porém mal sabia ele que o pior ainda
estava por vir...
“Nossa Senhora, me dê a mão
Cuida do meu coração
Da minha vida, do meu destino”
Elton lembrou-se de sua
mãe novamente, de que ela rezava ao som desta canção do Roberto; o que lhe fez se recolher
ao colo de sua namorada, e chorar copiosamente a noite inteira.
No outro dia, pela manhã,
entregou-se a polícia, revelando também onde havia enterrado o corpo de sua bondosa
mãe.
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