CORRENDO EM UM CAMPO DE ESPINHOS
Tive uma infância mágica, em que, não raro, fatos estranhos aconteciam comigo, seja brincando solitário em quintais sombrios ou na casa de meus avós, influenciado por suas histórias mágicas. E como era apenas uma criança, não havia ainda desenvolvido o poder de questionar. De modo que tudo me parecia ser natural e comum aos outros também, como oque irei lhes narrar.
Assim
como as crianças de minha geração, gostava de brincar descalço em campos de
futebol improvisado perto de casa. E nessa época escalávamos uma grande
barreira onde, em certo mês do ano, iam para lá cavalos e bois para
participarem de exposições agropecuária. De modo que o espaço era bastante
amplo, ideal para jogarmos bola. O local possuía uma grama rasteira, que não
era ideal para esportes, mas serviam para o gado; e em meio a este mato ralo,
havia pequenas plantas com espinhos.
Certo dia, andando despreocupado pelo
local, percebi que havia caminhado por sobre uma extensa área de espinhos e não
havia ferido meus pés nem sentido qualquer desconforto. Logo descobri que podia
andar sobre os pequenos arbustos de espinhos sem me ferir. Isto logo se tornou
para mim motivo de diversão, pois fazia gracejos com o resto dos meninos,
aborrecendo-os com apelidos, e assim fazia-os correrem atrás de mim. Corria
então em direção dos pequenos arbustos com espinhos. E logo ouvia seus lamentos
de dor, quando pisavam inadvertidamente em algum espinho. Eu continuava a
correr sobre os mesmos e a provocá-los, enquanto estes, parados, examinavam as
palmas de seus pés e voltavam com cuidado e mancando. Isto se repetiu várias
vezes. Até que foi por mim esquecido.
Os anos se passaram. E quando adolescente
caiu em minhas mãos uma revista Planeta, que tinha como assunto fatos estranhos.
A matéria que eu li era sobre um culto religioso em um país exótico, que não me
lembro mais, em que devotos andavam descalços sobre brasas, sem queimar o pé ou
sentirem dor. Ao ser inquerido do por que de não se ferirem ou
sentirem dor, um devoto respondeu que apenas botava em sua mente a convicção que não
iriam se queimar nem sentir dor. O fato estranho nisso é que era o mesmo pensamento
que eu possuía quando caminhava sobre os espinhos quando menino.
*
Relato escrito por Bosco Silva, administrador do blog BORNAL.
Nenhum comentário:
Postar um comentário