Dizem que algumas tribos africanas não gostam de ser fotografadas. Para seus membros, as fotografias, com o registro de suas imagens, são como formas de roubar-lhes a alma, mantendo-as cativas de alguma forma por meio dos registros fotográficos. Embora isso pareça engraçado, e bastante ingênuo, para a modernidade com suas câmeras acopladas a celulares, tem certa verdade quando aplicada à nossa memória.
Pois quando guardamos a imagem de alguém em nossa memória, sua imagem não pertence mais a ela, são propriedades nossa, imagens que continuam autônomas e indiferentes mesmo após a morte da pessoa que lhes deu origem. Desta forma é como se os mortos tivessem uma sobrevida em nossa mente, uma existência virtual em nossa memória, que torna-se mais evidente por meio dos sonhos. O que lembra um curioso sonho contado pelo poeta americano Allen Ginsberg com a esposa morta de um de seus amigos.
O poeta William Burroughs tinha mania de revólveres. Um dia, bêbado, durante uma festa no México, quis brincar de Guilherme Tell, colocou então um copo de bebida sobre a cabeça de sua esposa, Joan Vollmer, para servir-lhe de alvo. Burroughs, fechou um dos olhos e mirou com o revólver o copo sobre a cabeça da esposa. Porém, ao errar o copo, ele acertou de cheio na testa da esposa que morreu na hora.
Um dia, Allen Ginsberg sonhou com Joan Vollmer, sentada em um banco de jardim. No sonho, Joan pedia notícias sobre o marido e os amigos, que era prontamente respondido pelo amigo. Em um dado momento, Allen Ginsberg se apercebeu que estava em um sonho, foi então que perguntou a ela:
“Joan, que tipo de conhecimento têm os mortos? Você ainda ama os mortais que conheceu? Lembra o quê, de nós?
E ela se desvaneceu à minha frente. E no instante seguinte tudo que vi foi sua lápide manchada pela chuva com um epitáfio ilegível sob um galho retorcido de uma árvore, entre o mato selvagem de um cemitério esquecido no México”.
Por alguma razão, nosso cérebro não consegue processar a ideia da morte em nossos sonhos. Estamos lá, sonhando que estamos dirigindo um carro em alta velocidade quando este se choca a outro carro, e simplesmente acordamos, assustados, sem acordarmos em alguma forma de paraíso (segundo a religião professada pelo sonhador). É como se nos faltasse informação suficiente sobre a morte para podermos "rodar" o "programa" em nossa mente por completo, travando-o. Sua interrupção seria um sinal de que havíamos morrido em nosso sonho?, ou seria apenas uma reação de defesa perante o perigo, mesmo em um pesadelo?
Da mesma forma, como bem viu Allen Ginsberg, ao sonharmos com alguém já falecido e perguntarmos sobre a morte, a pessoa simplesmente desaparece. Mais uma vez: é como se a falta de informação sobre a morte travasse o "programa" responsável por "rodar" o sonho em nossa mente, como se a pergunta não combinasse com sua existência em nosso sonho, o levando de volta para o lugar de onde vieram, para as gavetas empoeiradas de nossa memória.
Então, da próxima vez que sonhar com alguém morto, continue agindo normalmente, para que a pessoa não perceba que já está morta, e desapareça, como uma bolha de sabão estourada.
FONTE: Mundo Fantasmo: O Fantasma de Joan Burroughs
William Burroughs |
O poeta William Burroughs tinha mania de revólveres. Um dia, bêbado, durante uma festa no México, quis brincar de Guilherme Tell, colocou então um copo de bebida sobre a cabeça de sua esposa, Joan Vollmer, para servir-lhe de alvo. Burroughs, fechou um dos olhos e mirou com o revólver o copo sobre a cabeça da esposa. Porém, ao errar o copo, ele acertou de cheio na testa da esposa que morreu na hora.
Joan Vollmer |
Um dia, Allen Ginsberg sonhou com Joan Vollmer, sentada em um banco de jardim. No sonho, Joan pedia notícias sobre o marido e os amigos, que era prontamente respondido pelo amigo. Em um dado momento, Allen Ginsberg se apercebeu que estava em um sonho, foi então que perguntou a ela:
“Joan, que tipo de conhecimento têm os mortos? Você ainda ama os mortais que conheceu? Lembra o quê, de nós?
E ela se desvaneceu à minha frente. E no instante seguinte tudo que vi foi sua lápide manchada pela chuva com um epitáfio ilegível sob um galho retorcido de uma árvore, entre o mato selvagem de um cemitério esquecido no México”.
Por alguma razão, nosso cérebro não consegue processar a ideia da morte em nossos sonhos. Estamos lá, sonhando que estamos dirigindo um carro em alta velocidade quando este se choca a outro carro, e simplesmente acordamos, assustados, sem acordarmos em alguma forma de paraíso (segundo a religião professada pelo sonhador). É como se nos faltasse informação suficiente sobre a morte para podermos "rodar" o "programa" em nossa mente por completo, travando-o. Sua interrupção seria um sinal de que havíamos morrido em nosso sonho?, ou seria apenas uma reação de defesa perante o perigo, mesmo em um pesadelo?
Allen Ginsberg |
Então, da próxima vez que sonhar com alguém morto, continue agindo normalmente, para que a pessoa não perceba que já está morta, e desapareça, como uma bolha de sabão estourada.
FONTE: Mundo Fantasmo: O Fantasma de Joan Burroughs