CONHEÇA O ASSASSINATO QUE LEVOU A FILOSOFIA DE NIETZSCHE AO TRIBUNAL
Em 1924, na cidade americana de Chicago, um jovem de 14 anos foi assassinado; seu assassinato foi cometido como um teste de coragem e superioridade praticado por Nathan Freudenthal Leopold Jr. e Richard Albert Loeb, ambos, na época, com 19 e 18 anos, respectivamente.
Nathan Leopold e Richard Loeb eram dois alunos com inteligência excepcional, pertencentes a Universidade de Chicago, que decidiram, em 1924, cometer o crime perfeito. Para tanto, sequestraram e mataram Bobby Franks, então um garoto de 14 anos.
Richard Loeb e Nathan Leopold |
Leopold e Loeb eram superdotados: Leopold falou suas primeiras palavras com apenas quatro meses de idade; já Loeb era, então, o mais novo graduado pela Universidade de Michigan. Ambos começaram a praticar pequenos crimes.
Achando-se superiores aos demais, e por isso as leis não deveria ser as mesmas para eles, partiam cada vez mais para crimes mais audaciosos, até que, para testar suas capacidades, resolveram cometer o mais grave de todos os crimes: o assassinato. Passaram seis meses arquitetando-o, em seus mínimos detalhes; e já haviam escolhido a vítima: o garoto Bobby Franks, que era vizinho de Loeb, e pertencia a família deste.
Bobby Franks ao Lado do Pai |
No dia do crime, o garoto fora atraído para dentro de um carro sem identificação, e morto em seguida pelos dois amigos. O corpo de Frank foi desovado, nu, à beira de uma estrada longe da cidade. Foi jogado ácido no cadáver para dificultar sua identificação. Após o crime a dupla, festejou o assassinato, comemorando em uma barraca de cachorro-quente.
Como forma de despistarem ainda mais o assassinato, ou como forma de lucrarem com ele, ao voltarem para Chicago, os dois ligaram e escreveram cartas dizendo que Frank havia sido sequestrado, e exigiam um valor para o resgate.
A Prova do Crime
Leopoldo e Loeb acreditavam que tinham conseguido planejar o crime perfeito, afinal eram pessoas extremamente inteligentes, e tinham tomado todos os possíveis cuidados para não serem identificados, como: não deixar digitais na cena do crime, queimar roupas usadas no dia do assassinato, limpar cuidadosamente o banco do carro sujo de sangue que haviam alugado, e etc.
Antes da família de Frank pagar o resgate, o corpo do menino foi encontrado, o que levou os assassinos a destruírem a máquina de escrever que tinham usado para escreverem a carta de resgate. Porém, um pequeno descuido foi o suficiente para levar a polícia até aos assassinos. Junto ao corpo de Frank havia sido achado um óculos que os assassinos tinham deixado cair. O fato não havia preocupado tanto eles, afinal o óculos era bastante comum, era usados por centenas de milhares de outras pessoas. Contudo embora os óculos fossem de um modelo bastante comum, tivesse lentes e armação extremamente populares, possua um pequeno detalhe extremamente incomum: suas dobradiças.
As dobradiças possuíam um tipo incomum de encache que apenas três pessoas de Chicago tinham comprado o óculos com tais dobradiças e entre estes estava Nathan Leopold.
Loeb disse a policia que estava com Leopold na noite do crime. Segundo eles, os dois haviam saído com o carro de Leopold e passado a noite com duas mulheres desconhecidas, a qual eles deixaram perto de um campo de golfe. Todavia, o carro de Leopold estava no conserto àquela noite, sendo que a mulher do mecânico confirmou que o carro estava na garagem àquela noite.
Aos poucos os álibis dos dois assassinos foram sendo desmentidos e, por fim, assumiram o assassinato.
O Julgamento
Ao serem descobertos pelo crime, Leopold e Loeb revelaram terem cometido o crime inspirado na filosofia de Nietzsche, em sua ideia de super-homem.
Antes do assassinato, Leopold escreveu para Loeb:
Um superhomen (...) é, em virtude de certas qualidades superiores inerentes a ele, isento das leis comuns que regem os homens. Ele não é responsável por qualquer coisa que ele possa fazer.
A família de Loeb contratou o advogado Clarence Darrow para defendê-los, um advogado especialista em defender assassinos.
A defesa de Clarence Darrow chamou logo atenção porque todos esperavam que ele evitasse que os dois fossem condenados a pena de morte alegando insanidade, algo muito comum em defesas de assassinos. Porém, Clarence assumiu que os dois não estavam loucos quando cometeram o crime, mas influenciados pela filosofia do filósofo alemão Nietzsche. Afirmando:
"Esse terrível crime era inerente a esses garotos, que se originou no passado … devemos culpar alguém que tomou os ensinamentos de Nietzsche em sua vida? … devemos realmente condenar um garoto de 19 anos pela filosofia que foi obrigado a absorver na faculdade?"
Em outras palavras, o advogado culpa a influência da filosofia de Nietzsche como a verdadeira causa de tal crime.
Porém, é claro que Nietzsche não teve nenhuma responsabilidade pela interpretação de sua obra feita por Leopold e Loeb. Para tanto basta ler esta opinião de Maurice Heine sobre a obre de Sade, autor também apontado de estimular crimes:
“Todos os livros, uma vez nas mãos de degenerados, podem ser considerados perigosos. Não é possível prever que impulso mórbido um degenerado pode receber da mais inocente leitura. Uma narrativa sobre a vida dos santos, ou outra sobre a paixão de Joana D’arc, pode perfeitamente levar um desses infelizes a se apoderar de uma irmãzinha e assá-la viva...”
Visto por essa ótica, as obras de Nietzsche não teria nenhuma culpabilidade nos crimes praticados por Leopold e Loeb, anulando totalmente a defesa feita pelo advogado do caso. A culpa recairia apenas sobre os algozes; a maldade já estaria presente em suas mentes antes destes conhecerem a obra de Nietzsche.
Seja como for, o juiz sentenciou Leopold e Loeb a prisão perpétua por assassinato, adicionados de 99 anos pelo sequestro.
A prisão de Leopold e Loeb
Na prisão, Leopold e Loeb começaram a dar aulas para os outros presos na escola da penitenciaria. Em 28 de janeiro de 1936, Loeb foi atacado por James E. Day com uma navalha no vestiário da prisão, morrendo dos ferimentos. Segundo Day, ele matou Loeb por que ele havia tentado abusar sexualmente dele, embora isso nunca tenha sido provado. Todavia um inquérito foi feito, e as autoridades da prisão concluíram que Day agiu em legitima defesa.
Em 1944, Leopold esteve na Penitenciária de estudos da Malária de Stateville ,onde foi voluntário para ser infectado com malária] Nos idos de 1958, após 33 anos de prisão, Leopold recebeu condicional. Naquele ano ele escreveu uma autobiografia intitulada Life Plus 99 Years. Leopold se mudou para Puerto Rico e se casou com uma florista. Ele era conhecido como "Nate" pelos vizinhos e pelos colegas de trabalho no Castañer General Hospital em Castañer, Porto Rico, onde trabalhava num laboratório.
Ele até planejou escrever um outro livro, intitulado Snatch for a Halo, sobre sua vida na prisão, coisa que nunca fez. Tempos depois ele tentou bloquear o filme Compulsion, alegando invasão de privacidade e difamação ganhando dinheiro em cima da sua imagem.
Ele morreu de ataque do coração, agravado por sua diabetes em 29 de agosto de 1971 com 66 anos. Ele doou seus órgãos.
Obras Inspiradas no Caso Leopold-Loeb
A história do Caso Leopold-Loeb, como ficou conhecido, originou várias obras de arte que se inspiraram em sua história. Uma das mais famosas é o filme Festim Diabólico (Rope 1948), do diretor Alfred Hitchcock.
Cena do Filme Festim Diabólico |
O caso também virou um musical, denominado Pacto, do autor Stephen Dolginoff, onde é retratado, em forma de música, o relacionamento entre Leopold e Loeb.
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