NOS ANOS DE 1920, em Belém, quem passasse pela travessa Joaquim Nabuco com Avenida São Gerônimo (hoje Av. José Malcher), e olhasse para a janela de uma das torres do Palacete Bibi Costa, veria uma bela jovem de olhar tristonho a pentear seus longos cabelos loiros, a observar a rua. Era Maria da Glória, cujo pai a mantinha presa desde que nascera para que não pudesse conhecer outro rapaz além daquele que ele havia escolhido para ser seu noivo.
E por ser vista sempre na janela, passou a ser chamada de “A Bela da Janela”, gerando uma velha lenda, que ainda é lembrada pelos mais velhos moradores de Belém.
Reza a lenda que Maria da Glória não era a única filha do Coronel Júlio de Andrade. Ela havia nascido grudada a uma irmã gêmea, Maria Isabel, unidas pelo peito, com um único coração que era dividido por elas.
Dizia-se que quando uma sentia fome, a outra se punha a chorar; se em uma fosse feito cócegas, a outra ria como se tivesse sido nela. Mas Maria Isabel logo morreu, devido a complicações da má formação. Foi quando puderam ser finalmente separadas por cirurgia.
A menina cresceu com saúde, mas, diziam, que estranhos fenômenos passaram a acompanhá-la por toda a vida.
Moradores relatavam que, ao caminhar na Travessa Joaquim Nabuco com Nazaré, à noite, a viam passear, branca feito tapioca, em um longo vestido branco esvoaçante, sem tocar o chão com os pés; e quando passavam em frente ao palacete, lá estava ela, na janela, como sempre, penteando seus longos cabelos.
Dizia-se que o vulto branco era a irmã morta que ao morrer havia se separado apenas no corpo, pois que na alma, elas continuavam grudadas como no tempo em que dividiam o mesmo coração; e que a irmã morta a visitava todas as noites, e fazia pela outra o que esta não podia fazer por si própria por estar presa pelo pai ao quarto, como dividir com a irmã a simples sensação de passear na rua deserta à noite.
Reza a lenda que Maria da Glória se enamorou de um jovem rapaz que um dia ao passar a viu na janela, e por meio de amorosos bilhetes jogados pela janela, com a ajuda dele e da irmã morta, conseguiu se livrar do cativeiro do pai, sendo substituída pela visagem da irmã durante seu casamento, enquanto Maria da Glória fugia com o rapaz para Portugal.
Dizem, ainda, que no casamento tudo ocorreu bem, exceto o estranho frio das mãos e a palidez excessiva da noiva.
* Ilustrações Meramente Ilustrativas, Exceto do Palacete Bibi Costa.
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