segunda-feira, 29 de julho de 2024

FESTA DOS DEUSES E A ABERTURA DAS OLIMPÍADAS




FESTA DOS DEUSES E A ABERTURA DAS OLIMPÍADAS

Não é de hoje que cristãos se acham o centro do universo, e acreditam que toda a cultura da humanidade se resume à sua própria crença, mesmo que a cultura pagã seja milhares e milhares de anos mais antiga. 


Assim não é de estranhar que tenham confundido a cena dos deuses pagãos reunidos à mesa, durante a abertura das olimpíadas na França, com a cena cristã do quadro de A Última Ceia, de Leonardo da Vinci, mesmo que lá esteja presente, ao centro, o deus pagão Dionísio (deus do vinho e da alegria) em meio a frutas e flores; também ignoraram que a palavra “Olimpíada” tem origem no termo grego “Olimpo”, nome do lugar dos deuses gregos e que as olimpíadas têm origens pagãs e nascida na Grécia antiga. Portanto, tendo mais a ver com deuses pagãos da alegria e da união, do que com uma cena cristã.



Mas há uma razão para a confusão: a ignorância de outras culturas e crenças religiosas por parte dos cristãos, que ignoram, por exemplo, que encontros de entidades religiosas em banquetes não é cena única do cristianismo, deuses da mitologia nórdica se reúnem à mesa em Valhala, em grandes banquetes com seus guerreiros; também deuses gregos, como Dionísio, se reuniam em banquetes e reuniões festivas para compartilhar seu sangue (vinho) com devotos; mais tarde copiado pelas missas católicas.



Outro elemento que ajudou a confusão, foi o fato da figura central da mesa possuir uma coroa de raios sobre a cabeça, que foi confundida com a auréola de cristo. A coroa de raios é um símbolo pagão antigo, simbolizando o sol, a iluminação e a sabedoria; símbolo que, mais tarde, seria copiado por pintores cristãos e atribuído em suas pinturas ao Cristo.


domingo, 28 de julho de 2024

RELATO do LEITOR: O Cheiro Fantasma (por HB Silva)




RELATO do LEITOR: O Cheiro Fantasma (por HB Silva)


(FANTOSMIA É O NOME DA SENSAÇÃO de sentir odores que não existem. Pode ter várias causas fisiológicas, mas também é vista por alguns cultos religiosos como manifestações espirituais)


A primeira vez que senti a sensação de fantosmia foi logo após o falecimento de minha mãe. 


Durante as madrugadas, passei a sentir cheiro de formol, como o que exalava do corpo dela durante o velório.  


A alucinação olfativa era acompanhada de alucinação auditiva: eu sentia o cheiro de formol e ouvia a voz dela me chamar pelo meu nome, como ela fazia quando viva.


Estas alucinações duraram apenas alguns dias. Mas, com os anos, uma outra forma de fantosmia se manifestou.


Passei a sentir um cheiro forte de fumaça de cigarro, como se alguém estivesse fumando por perto. E como não havia nenhum fumante em casa, ia pra frente de casa e não via ninguém por perto. Achava que tinha sido alguém que havia passado fumando e seguido seu caminho. E assim mantive essa crença.


Até que passei a sentir o mesmo cheiro de madrugada em meu quarto. Então percebi definitivamente que não poderia ser alguém fumando, pois não somente meu quarto estava fechado, mas também minha casa.


Até hoje eu ainda sinto o cheiro de cigarro.


Uma pequena busca na internet, encontram-se explicações religiosas. Em crenças de origem afro, é descrito como algo bom, o sinal de um protetor por perto; já para crenças pentecostais, é a manifestação de um espírito ruim, obsessor. Mas há também a explicação médica, que vê em causas corporais e psicológicas (ansiedade, traumas), a origem de tal sensação.


Mas sempre me pergunto: Será mesmo apenas alucinação? 

quarta-feira, 10 de julho de 2024

PSSICA (RESENHA)


PSSICA (RESENHA)

Pssica, na linguagem de Belém do Pará, significa azar; é também nome do pequeno romance, de 2015, do escritor paraense Edyr Augusto Proença. Nele Janalice, de quatorze anos, após ter um vídeo publicado na internet fazendo sexo oral no namorado, é mandada morar com uma tia, próximo da Praça da República. Na casa da tia é assediada pelo namorado da tia, forçada a fazer sexo com ele e ameaçada se contar. Faz amizade com uma moradora da vizinhança, que a leva a conhecer o mundo das drogas, e que a vende para traficantes de escravas sexuais que a levam para Marajó e, posteriormente, para Caiena.


O romance apesar de pequeno (92 páginas), é incrivelmente denso, com histórias de outros personagens que se cruzam; abordando também os ratos d’água, assaltantes de embarcações que transitam pelos rios da ilha de Marajó.




Em Pssica, o tema principal é o tráfico de mulheres para o comércio de escravas sexuais, feitos por criminosos que se valem da extrema pobreza de nossa região e a pouca assistência dos poderes públicos, para traficar meninas de cidades pobres para regiões de garimpo no Suriname e outras regiões fora do Brasil.


Pssica é extremamente violento, com descrições de abusos sexuais chocantes feitos pelos ratos d’água, que não querem apenas roubar e espancar os passageiros, mas humilhar. As descrições são capazes de chocar mesmo o leitor mais acostumado com descrições perversas. Numa cena, durante assalto a uma embarcação, os assaltantes obrigam os passageiros homens a fazerem sexo oral um nos outros, sob a ameaça de apanhar e ser morto se não tiverem ereção, tudo descrito com uma linguagem crua, realista e bastante vulgar. 


Edyr Augusto Proença


Aliás, em Pssica o sexo nunca aparece associado ao amor ou carinho, mas sim como forma de dominação sobre o outro, por meio da maldade pura. Não sei se isso é recorrente na obra de Edyr Augusto Proença (li apenas o referido romance), que parece ter a violência e a criminalidade como temas recorrentes.


Outra coisa que chama atenção no livro de Edyr Augusto, é sua escrita, em que falas de personagens e do narrador dividem o mesmo parágrafo, sem separação entre elas. O que causa certa confusão ao leitor, porém dá bastante agilidade, principalmente durante as cenas mais tensas.


O final achei forçado devido às coincidências criadas pelo autor para facilitar a fuga de Janalice das mãos dos traficantes de escravas sexuais. Parece que o autor sentiu grande necessidade de dar um final feliz aos personagens principais de seu livro, ao ponto de facilitar muito as coisas para eles. Interessante também notar que Edyr Augusto quando retrata o amor entre personagens --- no caso a retomada do amor pelo sofrido viúvo Portuga ---, ao contrário da sua criatividade em retratar as cenas de violência, aqui, ele descreve uma piegas história de amor, digna das novelas da Globo. Apesar disso, Pssica é um ótimo livro.




Pssica se tornará minisérie da Netflix, as gravações já começaram a ser feitas em Belém.