quarta-feira, 10 de julho de 2024

PSSICA (RESENHA)


PSSICA (RESENHA)

Pssica, na linguagem de Belém do Pará, significa azar; é também nome do pequeno romance, de 2015, do escritor paraense Edyr Augusto Proença. Nele Janalice, de quatorze anos, após ter um vídeo publicado na internet fazendo sexo oral no namorado, é mandada morar com uma tia, próximo da Praça da República. Na casa da tia é assediada pelo namorado da tia, forçada a fazer sexo com ele e ameaçada se contar. Faz amizade com uma moradora da vizinhança, que a leva a conhecer o mundo das drogas, e que a vende para traficantes de escravas sexuais que a levam para Marajó e, posteriormente, para Caiena.


O romance apesar de pequeno (92 páginas), é incrivelmente denso, com histórias de outros personagens que se cruzam; abordando também os ratos d’água, assaltantes de embarcações que transitam pelos rios da ilha de Marajó.




Em Pssica, o tema principal é o tráfico de mulheres para o comércio de escravas sexuais, feitos por criminosos que se valem da extrema pobreza de nossa região e a pouca assistência dos poderes públicos, para traficar meninas de cidades pobres para regiões de garimpo no Suriname e outras regiões fora do Brasil.


Pssica é extremamente violento, com descrições de abusos sexuais chocantes feitos pelos ratos d’água, que não querem apenas roubar e espancar os passageiros, mas humilhar. As descrições são capazes de chocar mesmo o leitor mais acostumado com descrições perversas. Numa cena, durante assalto a uma embarcação, os assaltantes obrigam os passageiros homens a fazerem sexo oral um nos outros, sob a ameaça de apanhar e ser morto se não tiverem ereção, tudo descrito com uma linguagem crua, realista e bastante vulgar. 


Edyr Augusto Proença


Aliás, em Pssica o sexo nunca aparece associado ao amor ou carinho, mas sim como forma de dominação sobre o outro, por meio da maldade pura. Não sei se isso é recorrente na obra de Edyr Augusto Proença (li apenas o referido romance), que parece ter a violência e a criminalidade como temas recorrentes.


Outra coisa que chama atenção no livro de Edyr Augusto, é sua escrita, em que falas de personagens e do narrador dividem o mesmo parágrafo, sem separação entre elas. O que causa certa confusão ao leitor, porém dá bastante agilidade, principalmente durante as cenas mais tensas.


O final achei forçado devido às coincidências criadas pelo autor para facilitar a fuga de Janalice das mãos dos traficantes de escravas sexuais. Parece que o autor sentiu grande necessidade de dar um final feliz aos personagens principais de seu livro, ao ponto de facilitar muito as coisas para eles. Interessante também notar que Edyr Augusto quando retrata o amor entre personagens --- no caso a retomada do amor pelo sofrido viúvo Portuga ---, ao contrário da sua criatividade em retratar as cenas de violência, aqui, ele descreve uma piegas história de amor, digna das novelas da Globo. Apesar disso, Pssica é um ótimo livro.




Pssica se tornará minisérie da Netflix, as gravações já começaram a ser feitas em Belém.   


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