terça-feira, 5 de novembro de 2024

O REAL E O MARAVILHOSO DA AMAZÔNIA NO ROMANCE “APÓS A CHUVA DA TARDE”





O REAL E O MARAVILHOSO DA AMAZÔNIA NO ROMANCE “APÓS A CHUVA DA TARDE”


O romance Após a Chuva da Tarde - A Lenda de Camille Monfort, A Vampira da Amazônia, do paraense Bosco Chancen, conseguiu um feito extraordinário: fez viralizar mundialmente uma de suas personagens, a misteriosa cantora francesa Camille Monfort. Também teve a ousadia de adaptar a estética gótica, associada ao clima europeu, com suas névoas, frio e casas soturnas, ao impiedoso sol amazônico, aos palacetes e à chuva da tarde de Belém do Pará.


A Tradicional Chuva da Tarde de Belém do Pará

Embora o livro tenha seu foco principal na história da vinda da lendária cantora lírica Camille Monfort à conservadora Belém, de fins do século XIX, para concertos, e o alvoroço que causou na sociedade com sua beleza e seus famosos banhos de chuva, seminua, pelas ruas da cidade, gerando lendas e boatos, o romance também possui outros personagens tão misteriosos e fantásticos quanto, mostrando que a cidade de Belém é a terra das lendas, onde o real e o mágico se misturam de forma indistinguível, com a população convivendo com entidades lendárias e fantásticas, tal qual Josephina Conte, a Moça do Táxi, que mesmo após a morte, no dia de seu aniversário, costuma passear de táxi pelas ruas de Belém, a comentar as mudanças da cidade; hábito adquirido quando viva. 


Palacete Bolonha

Há também o fantasmagórico cão negro que, à noite, toma forma e vigia o belo Palacete Bolonha --- um dos cenários do romance ---; palacete que parece possuir vida própria e comandar a vida de seus moradores; há a misteriosa Maria da Glória, conhecida pela população como a “Bela da Janela”; jovem presa a seu quarto desde que nascera, cujo pai a mantém trancada para que nunca se apaixonasse por alguém além daquele que ele escolhera para ser seu marido. A população crê que a moça aprendeu a desprender a alma do corpo para dar seus famosos passeios noturnos pela cidade. E há ainda todo um mundo mágico de seres encantados da pajelança, que se revela por meio de portais mágicos, abertos com o auxílio da ayahuasca, o “chá dos mortos”; e muito, muito, mais. 


Josephina Conte


É impressionante como o romance Após a Chuva da Tarde trata de inúmeros assuntos importantes sobre a Amazônia sem perder o foco no mistério. Há o aspecto das lendas: de como surge uma lenda e sua relação com a realidade, sendo tratado por meio do encontro entre a lenda europeia dos vampiros com lendas urbanas da cidade de Belém e amazônicas, trazendo um novo sopro de vida às histórias tão batidas de vampiros. Há a camada histórica, cultural e social das cidades da Amazônia e de seus povos, que trata questões raciais e da exploração de humanos e da natureza, chamando atenção para a história das “polacas”, jovens da Europa que eram enganadas e forçadas a se prostituir na Amazônia. Em suma, o romance aborda uma região bastante falada hoje em dia, devido aos problemas trazidos com a destruição das florestas, mas pouca conhecida. 




O romance Após a Chuva da Tarde também trata de como mulheres com talentos artísticos e comportamentos não exigidos para  a época, eram tratadas pela conservadora sociedade de fins do século XIX, que ora as demonizavam ou as viam como objetos sexuais ou as tratavam como perigosos elementos à manutenção da ordem moral da sociedade.  


Naquela época, mulheres tinham seus talentos desestimulados por suas famílias, e educadas apenas para serem boas esposas e viverem sempre à sombra de seus maridos. E quando uma menina nascia com talentos musicais excepcionais, ao contrários dos meninos, que eram exibidos como prodígios musicais, mulheres tinham seus talentos associados ao diabo, e, não raramente, eram levadas por suas famílias ao padre da cidade para serem benzidas e seus talentos desestimulados por rígidas normas impostas à elas para que desistissem de seus talentos e se concentrassem apenas em ser boa esposa. 

 



Daí o choque que a talentosa e enigmática cantora lírica Camille Monfort causou na conservadora sociedade da Belém de fins de século XIX, com seu espírito livre, que ousava quebrar as barreiras sociais de sua época, com seu simples desejo de se refrescar nas vias públicas durante as chuvas da tarde de Belém do Pará e compartilhar sua arte com as camadas mais pobres da população, causando o pavor nos mais ricos de terem de dividir os espaços culturais com filhos de suas empregadas domésticas, o que, junto com sua beleza e dons musicais, foram suficientes para demonizá-la criando-se boatos, lendas e diferentes visões sobre quem era aquela bela cantora. Para os mais esclarecidos, Camille Monfort fora uma mulher à frente de seu tempo; para os mais europeizados, fora uma vampira que, por meio de sua beleza e seu canto, possuía o poder de cativar a alma de seus ouvintes, tornando-os escravos de sua vontade e alimentando-se deles; já para a população local, que a via em seus misteriosos passeios noturnos a beira do rio Guajará, criou-se a crença de que ela tinha o poder de se transformar em um animal noturno, perdendo-se na noite, ao que logo a associaram ao que conheciam de mais próximo, concebendo-a como uma entidade folclórica local, uma matinta perera, uma criatura com o poder de se transformar em animais noturnos e prisioneira de uma maldição familiar.


Após a Chuva da Tarde - A Lenda de Camille Monfort é um romance imperdível, um modo mágico e divertido de conhecer a Amazônia --- região tão falada mas pouco conhecida.




Para Adquirir o Livro, Acesse o Site da Editora, Clicando Aqui.

Nenhum comentário:

Postar um comentário