by Arthur Fellig Weegee |
O Brasil será o grande derrotado na Copa do Mundo de
2014. Esqueçam esquemas táticos, análises técnicas, convocações, gols ou
arbitragem. A derrota não virá numa zebra nas oitavas de final contra a
Bélgica, num duelo épico de quartas contra a Itália, numa semifinal angustiante
contra a Espanha ou num Maracanazzo reloaded contra a Argentina.
A derrota já veio. O Brasil perdeu a Copa de 2014.
Marin, Ronaldo e Valcke: trio está na cabeça da 'operação Copa do Mundo'
O Brasil perdeu, leiam bem. O que vai acontecer com a seleção brasileira é
outra história. Uma história que muda pouco o que realmente importa. O Brasil
perdeu a Copa de 2014.
Um evento como a Copa é a chance de um país mudar, se redescobrir, sanar
problemas e construir soluções, mesmo que seja sob a fajutíssima desculpa de
"o que o mundo vai pensar da gente se não estiver tudo dando certo?".
Que seja, dane-se a pequenez da desculpa, desde que sejam construídas estradas,
linhas de metrô, corredores de ônibus, elevadores, hotéis, e, vá lá, até um ou
outro estádio.
Vipcomm
O resultado do time de Felipão pouco importa: o Brasil já perdeu
A Copa do Mundo é, para os tempos de hoje, o que foram as tais "Exposições
Mundiais" no século 19. Era preciso se arrumar para receber visitas em
casa.
Mas o Brasil hoje corre para retocar a maquiagem, empurra a vassouradas a
sujeira para debaixo do tapete, tranca os cachorros pulguentos na despensa e
manda a criançada dormir mais cedo, porque sabe como é criança quando chega
visita, desanda a falar cada coisa...
Faltam pouco menos de dois meses para a Copa das Confederações, e o estádio da
final não está pronto. Aquele estádio na Zona Norte do Rio, que foi erguido no
lugar do Maracanã ao preço mirabolante de 1 bilhão de reais; e que terá de ser
reformado para a Olimpíada.
(Aqui, um parêntese: todas as reportagens sobre estádios da Copa têm a
obrigação de falar quanto custou e quem financiou a obra; isso é utilidade
pública, antes de mais nada).
Faltam menos de dois meses para a Copa das Confederações e nenhum aeroporto
teve reformas significativas concluídas. Pouco mais de um ano para a Copa do
Mundo e os taxistas que falam inglês continuam a ser uma raridade, as placas de
trânsito seguem indecifráveis para estrangeiros, os hotéis e vias públicas não
vão dar conta do recado, obras de mobilidade urbana de Manaus, Brasília e São
Paulo não ficarão prontas - umas foram canceladas, outras postergadas, todas
custaram irreversíveis milhões e não é difícil adivinhar quem pagou a conta.
O 'novo Maracanã': para 2016, mais reformas
A um ano e dois meses do começo da Copa, o presidente do Comitê Organizador
Local está cercado por denúncias, e não é para menos. José Maria Marin, o homem
que gere a operação Copa do Mundo no Brasil, passou seus mandatos de deputado
bajulando delegados ligados às torturas da ditadura, superfaturou a sede da
CBF, negociou apoio na aprovação de contas da confederação dando cheques a seus
eleitores.
Enquanto isso, o secretário-geral da Fifa, Jerome Valcke, diz que a organização
da Copa do Mundo no Brasil seria mais fácil se o país fosse menos democrático e
tivesse menos esferas de governo, legal é a Rússia, que tem um poder
centralizado e menos palpiteiros.
A organização da Copa do Mundo seria mais fácil, monsieur Valcke, se ela
estivesse nas mãos de gente diferente.
De gente que não estivesse interessada apenas em sugar dinheiro do país com o
benefício de isenção de impostos. A organização da Copa do Mundo seria mais
fácil se ela fosse feita para, de fato, deixar o país com algumas pequenas vitórias
em áreas que vão muito além do campo de jogo.
O Brasil de Felipão, de Neymar, de Ronaldinho ou Kaká, o Brasil pentacampeão,
seja com volantes classudos ou brucutus, pode ganhar ou perder a Copa de 2014.
O Brasil de 200 milhões de pessoas, aquele que acordará no dia 14 de julho de
2014 para trabalhar, este sairá da Copa derrotado. Qualquer que seja o
resultado da final.