sexta-feira, 12 de abril de 2013

A IDADE DA FEBRE (de Haroldo Brandão)



PAREI PARA ASSISTIR NOITE DESSAS a primeira hora, os primeiros 60 minutos da obra glauberiana "A idade da Terra", junto com "Deus e o diabo na terra do sol" e "Terra em transe" formam o melhor de Glauber Rocha, um sujeito, um intelectual dos mais polêmicos, pensador febril do terceiro mundo, do Brasil, do canto que nos coube. Longe de ser fácil, digerível, por isto mesmo é o tipo de filme que se ama ou odeia, uma trip, sim a primeira parte em que são apresentados os 4 cristos (Tarcísio Meira, Jece valadão, Antônio Pitanga e Geraldo Del Rey) são quase 40 minutos de sonoplastia através de uma trilha sonora (percussão, samba, folclore, nordeste) com a cara dele Glauber, sons de muitos Brasis, câmera nervosa inquieta e imagens delirantes, o sol se pondo no planalto central do país, o nascimento de um povo, o desejo de contemplar, a ânsia de dar conta de um todo com a limitação dp plano da tela, imagens e música, imagens e música, de uma forma quase alucinante, como um imenso clipe alucinado, Glauber era um angustiado para entender, captar e dar conta de toda a realidade sócio-antropológica que tem como resultado o Homem brasileiro, o sujeito humano que povoaria o novo mundo, a América do Sul com seus caudilhos, com seus milhões de índios mortos, o grande quintal estadunidense. Glauber era místico e profético. Terra em Transe e Deus e o Diabo tem uma certa linearidade, não espere isso da Idade. 

O primeiro diálogo após 40 minutos de imagens delirantes traz um anti-ator, na verdade, o analista político Carlos Castelo Branco tomando wisk com A.Pitanga, e falando da contra-revolução em 1964, interessante ele não usar o têrmo golpe militar, chegando até a tentativa de golpe dentro do golpe liderada pelo General Silvio Frota, "o povo vai mal", impressionante a atualidade de problemas que há 40 anos não mudam, ontem a coluna de Elias Ribeiro Pinto, foi um soco no estômago em alguns manos regionais, uma catarse, um grito dizendo estou de saco cheio, é Elias nossa geração está passando e a bandeira ou a cruz alguém que se habilite a segurar, queria a tranquilidade de uma tarde na beira de um rio, na curva enquanto a chuva cai: tempo Glauber.
Voltarei a comentar mas fica aqui um petisco e um convite a que todos que possam revejam esta obra prima, ainda estou extasiado com a primeira parte, Glauber foi único enquanto cineasta, respeitado por gente como o escritor Alberto Moravia e o cineasta Antonioni, discordou, deu a cara a tapa, ironizou o status quo, xingou e foi xingado e, segundo alguns foi um gênio da raça, é o meu colírio Glauberiano, em meio a tanta banalidade.

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