Alguns clientes tinham
uns desejos esquisitos. E eram sempre os que pagavam além da conta. Tinha um
que sempre me chamava para que eu ficasse nua, menos nos pés. Ele me pedia para
calçar dezenas de pares de calçados, que ele guardava na casa dele. Ele morava
sozinho, sabe. E toda vez que eu ia lá tinha novos pares de calçados; de todos
os tipos e cores, mas sempre calçados de couro. Pois bem... ele se deitava no
chão, sobre o tapete, e me pedia para desfilar ao seu lado...
quinta-feira, 28 de novembro de 2013
quarta-feira, 20 de novembro de 2013
SEXO, PERVERSÕES E ASSASSINATOS (de Bosco Silva)
Uma legista ninfomaníaca
que adora transar em meio a cadáveres e mesas de autópsias... Um escritor que pesquisa o turismo
sexual no Brasil, e que, por todas as formas, incluindo se camuflar como turista
sexual e, contra a vontade, a experimentar as mais terríveis formas de sexo bizarro
e, com isso, atrair seus agenciadores, tenta provar a existência do mais violento
turismo sexual em nosso pais, que tem como objetivo saciar as mais violentas
fantasias sexuais de seus clientes... E um policial que luta contra a
corrupção policial, se unem a fim de solucionar o aparecimento de cadáveres
masculinos com marcas de tortura em rios que contornam a cidade. É o mote para
a mais alucinante viagem ao submundo do sadomasoquismo, entre sádicos
assassinos e os mais bizarros gostos sexuais.
MARQUÊS DE SADE |
SEXO, PERVERSÕES E ASSASSINATOS
é também uma singela homenagem a um dos mais polêmicos escritores de todos os
tempos, Marquês de Sade (1740-1814), no ano de seu bicentenário de morte; autor que
passou grande parte de sua vida em presídios e hospícios, devido suas concepções morais; e que teve sua obra
queimada e proibida por tanto tempo, mas que hoje é considerado um clássico da
literatura universal.
"O PÊNIS É A MENOR DISTÂNCIA ENTRE DUAS ALMAS" Marquês de Sade |
Conheça SEXO, PERVERSÕES
E ASSASSINATOS em nova edição revista. Relançamento em dezembro de 2013.
quinta-feira, 14 de novembro de 2013
O QUE VOCÊ FAZ QUANDO NINGUÉM ESTÁ OLHANDO? - Caso 1: A Abobrinha
Madrugada de terça-feira...
Um homem solitário em
busca de emoção se excita enfrente à televisão. Na tela um filme pornô lhe traz alguma emoção em sua vida solitária. E entusiasmado com as performances dos
atores, resolve introduzir um pouco mais de prazer em sua vida. Foi até a
cozinha e, na falta de um vibrador, revirou a despensa e, entre vidros de
maionese, latas de óleo e polpa de tomate, reparou que nas formas inocentes de
uma abobrinha, havia um instrumento erótico em potencial, que parecia ter sido
naturalmente adaptado ao seu corpo.
Voltou para frente da
televisão, introduziu o fruto em seu ânus em um crescente de excitação com
movimentos bruscos e repetitivos, até que algo sai, ou melhor, entra
erradamente, o fruto se quebra e uma parte se aloja no fundo de seu reto, devido ao
grande poder de sucção deste. O homem passa da mais viva excitação ao mais
tenebroso dos desesperos. Lambuza os dedos com manteiga na tentativa de tirá-lo. E após várias tentativas resolve ir ao
banheiro. Mas o que parecia tarefa fácil torna-se
demasiadamente trabalhosa. Decide, finalmente, ir ao hospital. Ao atendente diz
que sofreu um acidente de trabalho, que escorregou sobre o fruto.
- Sei muito bem senhor, acidentes
acontecem - disse o funcionário não escondendo sua incredulidade. - Só nessa
semana tivemos três casos: um garçom que escorregou sobre uma garrafa de
cerveja; um auxiliar de limpeza que se acidentou com um desentupidor de pia, e
até mesmo, pasme, alguém que caiu sobre um hamster.
- Este devia ser
veterinário! - comentou o outro atendente.
- Pobre animal foi parar
numa toca tão estranha! - e os dois explodem em gargalhadas.
- Não esqueça daquele cozinheiro
que estava lavando a cozinha, escorregou no sabão e caiu sobre um copo que foi
parar lá, naquele lugar tão escondidinho - disse o outro ainda rindo.
- O que me intriga é que sempre
trabalham nus.
- É, deve ser o calor...
- Ô Manuel mais um
daqueles acidentes de trabalho, venha ver, venha ver... - gritou o atendente.
- O que foi dessa vez? Uma garrafa? Um picador de gelo? -
pergunta o médico sob o olhar envergonhado do paciente. E após o atendente
responder, exclama o médico, ao ver o paciente em desespero:
- Veja o lado bom de tudo
isso: ainda bem que você não trabalha com abacaxis!
Uma operação é marcada
com urgência. E após acabarem com o tórrido relacionamento entre o homem e o
vegetal, ele volta para casa, e decide, definitivamente, não ser mais vegetariano,
pelo menos em suas relações sexuais.
Já este preferiu uma garrafa de cerveja:
quarta-feira, 13 de novembro de 2013
CLIC (de Luis Fernando Veríssimo)
Cidadão se descuidou e
roubaram seu celular. Como era um executivo e não sabia mais viver sem celular,
ficou furioso. Deu parte do roubo, depois teve uma idéia. Ligou para o número do
telefone. Atendeu uma mulher.
— Aloa.
— Quem fala?
— Com quem quer falar?
— O dono desse telefone.
— Ele não pode atender.
— Quer chamá-lo, por
favor?
— Ele esta no banheiro.
Eu posso anotar o recado?
— Bate na porta e chama
esse vagabundo agora.
Clic. A mulher desligou.
O cidadão controlou-se. Ligou de novo.
— Aloa.
— Escute. Desculpe o
jeito que eu falei antes. Eu preciso falar com ele, viu? É urgente.
— Ele já vai sair do
banheiro.
— Você é a...
— Uma amiga.
— Como é seu nome?
— Quem quer saber?
O cidadão inventou um
nome.
— Taborda. (Por que Taborda,
meu Deus?) Sou primo dele.
— Primo do Amleto?
Amleto. O safado já tinha
um nome.
— É. De Quaraí.
— Eu não sabia que o Amleto
tinha um primo de Quaraí.
— Pois é.
— Carol.
— Hein?
— Meu nome. É Carol.
— Ah. Vocês são...
— Não, não. Nos
conhecemos há pouco.
— Escute Carol. Eu trouxe
uma encomenda para o Amleto. De Quaraí. Uma pessegada, mas não me lembro do
endereço.
— Eu também não sei o
endereço dele.
— Mas vocês...
— Nós estamos num motel.
Este telefone é celular.
— Ah.
— Vem cá. Como você sabia
o número do telefone dele? Ele recém-comprou.
— Ele disse que comprou?
— Por que?
O cidadão não se conteve.
— Porque ele não comprou,
não. Ele roubou. Está entendendo? Roubou. De mim!
— Não acredito.
— Ah, não acredita? Então
pergunta pra ele. Bate na porta do banheiro e pergunta.
— O Amleto não roubaria
um telefone do próprio primo.
E Carol desligou de novo.
O cidadão deixou passar
um tempo, enquanto se recuperava. Depois ligou.
— Aloa.
— Carol, é o Tobias.
— Quem?
— O Taborda. Por favor,
chame o Amleto.
— Ele continua no
banheiro.
— Em que motel vocês
estão?
— Por que?
— Carol, você parece ser
uma boa moça. Eu sei que você gosta do Amleto...
— Recém nos conhecemos.
— Mas você simpatizou.
Estou certo? Você não quer acreditar que ele seja um ladrão. Mas ele é, Carol.
Enfrente a realidade. O Amleto pode Ter muitas qualidades, sei lá. Há quanto
tempo vocês saem juntos?
— Esta é a primeira vez.
— Vocês nunca tinham se
visto antes?
— Já, já. Mas, assim, só
conversa.
— E você nem sabe o
endereço dele, Carol. Na verdade você não sabe nada sobre ele. Não sabia que
ele é de Quaraí.
— Pensei que fosse
goiano.
— Ai esta, Carol. Isso
diz tudo. Um cara que se faz passar por goiano...
— Não, não. Eu é que
pensei.
— Carol, ele ainda está
no banheiro?
— Está.
— Então sai daí, Carol.
Pegue as suas coisas e saia. Esse negocio pode acabar mal. Você pode ser
envolvida. — Saia daí enquanto é tempo, Carol!
— Mas...
— Eu sei. Você não
precisa dizer. Eu sei. Você não quer acabar a amizade. Vocês se dão bem, ele é
muito legal. Mas ele é um ladrão, Carol. Um bandido. Quem rouba celular é capaz
de tudo. Sua vida corre perigo.
— Ele esta saindo do
banheiro.
— Corra, Carol! Leve o
telefone e corra! Daqui a pouco eu ligo para saber onde você está.
Clic.
Dez minutos depois, o
cidadão liga de novo.
— Aloa.
— Carol, onde você está?
— O Amleto está aqui do
meu lado e pediu para lhe dizer uma coisa.
— Carol, eu...
— Nós conversamos e ele
quer pedir desculpas a você. Diz que vai devolver o telefone, que foi só
brincadeira. Jurou que não vai fazer mais isso.
O cidadão engoliu a
raiva. Depois de alguns segundos falou:
— Como ele vai devolver o
telefone?
— Domingo, no almoço da
tia Eloá. Diz que encontra você lá.
— Carol, não...
Mas Carol já tinha
desligado.
O cidadão precisou de
mais cinco minutos para se recompor. Depois ligou outra vez.
— Aloa.
Pelo ruído o cidadão
deduziu que ela estava dentro de um carro em movimento.
— Carol, é o Torquatro.
— Quem?
— Não interessa! Escute
aqui. Você está sendo cúmplice de um crime. Esse telefone que você tem na mão,
esta me entendendo? Esse telefone que agora tem suas impressões digitais. É
meu! Esse salafrário roubou meu celular!
— Mas ele disse que vai
devolver na...
— Não existe Tia Eloá
nenhuma! Eu não sou primo dele. Nem conheço esse cafajeste. Ele esta mentindo
para você, Carol.
— Então você também
mentiu!
— Carol...
Clic.
Cinco minutos depois,
quando o cidadão se ergueu do chão, onde estivera mordendo o carpete, e ligou
de novo, ouviu um "Alô" de homem.
— Amleto?
— Primo! Muito bem. Você
conseguiu, viu? A Carol acaba de descer do carro.
— Olha aqui, seu...
— Você já tinha liquidado
com o nosso programa no motel, o maior clima e você estragou, e agora acabou
com tudo. Ela está desiludida com todos os homens, para sempre. Mandou parar o
carro e desceu. Em plena Cavalhada. Parabéns primo. Você venceu. Quer saber
como ela era?
— Só quero meu telefone.
— Morena clara. Olhos
verdes. Não resistiu ao meu celular. Se não fosse o celular, ela não teria
topado o programa. E se não fosse o celular, nós ainda estaríamos no motel.
Como é que chama isso mesmo? Ironia do destino?
— Quero meu celular de
volta!
— Certo, certo. Seu
celular. Você tem que fechar negócios, impressionar clientes, enganar trouxas.
Só o que eu queria era a Carol...
— Ladrão
— Executivo
— Devolve meu...
Clic.
Cinco minutos mais tarde.
Cidadão liga de novo. Telefone toca várias vezes. Atende uma voz diferente.
— Ahn?
— Quem fala?
— É o Trola.
— Como você conseguiu
esse telefone?
— Sei lá. Alguém jogou
pela janela de um carro. Quase me acertou.
— Onde você está?
— Como eu estou? Bem,
bem. Catando meus papéis, sabe como é. Mas eu já fui de circo. É. Capitão Trovar.
Andei até pelo Paraguai.
— Não quero saber de sua
vida. Estou pagando uma recompensa por este telefone. Me diga onde você está
que eu vou buscar.
— Bem. Fora a Dalvinha,
tudo bem. Sabe como é mulher. Quando nos vê por baixo, aproveita. Ontem
mesmo...
— Onde você está? Eu
quero saber onde!
— Aqui mesmo, embaixo do
viaduto. De noitinha. Ela chegou com o índio e o Marvão, os três com a cara
cheia, e...
terça-feira, 5 de novembro de 2013
A BUNDA (por Bosco Silva)
Não é de hoje que esta
parte tão peculiar da anatomia humana atrai tanto os olhares curiosos e desejos
da humanidade, ou pelo menos de uma grande parcela dela. E enquanto em países de
cultura anglo-saxã se cultua outra parte do corpo feminino, os seios, e onde ter
fartos trazeiros chega a ser um sinal de imperfeição; nós porém, latinos,
cultuamos a bunda ao ponto desta torna-se um sinal de status e até mesmo como uma
escada para o sucesso, para tanto basta analisarmos o surgimento das chamadas
mulheres-frutas com seus exuberantes bumbuns, exibindo-os em danças sensualíssimas.
Talvez na própria origem
da palavra bunda esteja a pista para compreendemos melhor este fenômeno
cultural e sexual tão disseminado em nosso pais.
É provável que a palavra
bunda tenha se derivado da palavra Bundo, que era empregado aos indivíduos
pertencentes a um dos povos angolano, que foram trazidos ao Brasil como mão de
obra escrava. E como em tantas raças negroides, homens e mulheres bundos
exibiam certa conformação características, como quadris estreitos e nádegas
protuberantes.
Deste modo, não é difícil
de imaginarmos quanto tal característica, confrontada com as mulheres brancas europeias,
tenha atraído tanto a atenção principalmente masculina. Fico a imaginar ricos
senhores de engenhos parados em alguma esquina de um Brasil colonial a
observarem escravas carregando grandes tabuleiros em suas cabeças, com olhares
cheios de desejos ao andar cadenciado, e o balançar de seus grandes bumbuns.
E ao associarem grandes
nádegas a povos escravos e submissos, é possível que tenha estimulado ainda
mais desejos sadomasoquistas latentes já presentes no sexo anal. O que, uma vez somado ao clima de nosso país e a grande quantidade de escravos vindos ao Brasil, tenha ajudado a construir a sexualidade brasileira.
Isto pode ser verificado com
a história da negra Saartjie, que foi conhecida como a Vênus Negra.
SAARTJIE, A VÊNUS NEGRA
Saartjie (Sarah) nasceu
no vale do rio Gamtoos, na atual província do Cabo Oriental, na África do Sul,
de etnia Khoisan. Esta é a forma africânder do seu nome, cujo original é
desconhecido. Seu nome, Saartjie (que se pronuncia «Sarqui»), pode ser considerado
equivalente a "Sarazinha".
Saartjie foi criada em
uma fazenda de holandeses próximo à Cidade do Cabo. Hendrick Cezar, irmão do
seu patrão, sugeriu que ela se exibisse na Inglaterra, prometendo que isso a
tornaria rica. Lord Caledon, governador do Cabo, permitiu a viagem, embora
tenha lamentado tal decisão após saber o seu verdadeiro propósito.
Em 1810 Saartjie viaja
para a Inglaterra com o sonho de ser artista famosa, acabou refém da
escravização de seu corpo numa mistura de colonialismo, machismo e racismo.
Cezar promete fazê-la rica, porém foi obrigada a se apresentar em shows de
péssimo gosto, em que sai de uma jaula simulando atacar o público como se fosse
uma selvagem. Usando uma roupa colante que evidenciava seu físico avantajado,
expectadores gritavam obscenidades e mediante pagamento extra poderiam até
tocar o seu corpo. Saartjie tinha longos lábios da genitália, particularidade
de algumas mulheres Khoisan. Segundo Stephen Jay Gould, "os pequenos
lábios ou lábios internos dos genitais da mulher comum são extremamente longos
nas mulheres khoi-san e podem sobressair da vagina entre 7,5 e mais de 10 cm
quando a mulher está de pé, dando a impressão de uma cortina de pele distinta e
envolvente" (Gould, 1985). Em vida, Saartjie nunca permitiu que este seu derradeiro
traço fosse exibido.
A sua exibição em Londres
causou escândalo, tendo a sociedade filantrópica African Association criticado
a iniciativa e lançado um processo em tribunal. Durante o seu depoimento, Sarah
Baartman declarou, em holandês, não se considerar vítima de coação e ser seu
perfeito entendimento que lhe cabia metade da receita das exibições. O tribunal
decidiu arquivar o caso, mas o acórdão não foi satisfatório, devido a
contradições com outras investigações, que tornaram a continuação do espetáculo
em Londres impossível.
No final de 1814,
Saartjie foi vendida a um francês, domador de animais, que viu nela uma
oportunidade de enriquecimento fácil. Considerando que a adquirira como
prostituta ou escrava, o novo dono mantinha-a em condições muito mais duras.
Foi exposta em Paris, tendo de aceitar exibir-se completamente nua, o que
contrariava o seu voto de jamais exibir os órgãos genitais. As celebrações da
reentronização de Napoleão Bonaparte no início de 1815 incluíram festas
noturnas. A exposição manteve-se aberta durante toda a noite e os muitos
visitantes bêbados divertiram-se apalpando o corpo da indefesa mulher. Foi
depois exposta a multidões, que zombavam dela. Era alvo de caricaturas, mas
chamou também o interesse de cientistas e pintores. O anatomista francês Georges
Cuvier e outros naturalistas visitaram-na, tendo sido objeto de numerosas
ilustrações científicas no Jardin du Roi.
O corpo foi totalmente
investigado e medido, com registo do tamanho das nádegas, do clitóris, dos
lábios e dos mamilos para museus e institutos zoológicos e científicos.
Com a nova derrota de
Napoleão, o fim do seu governo e a ocupação da França pelas tropas aliadas em
junho de 1815, as exposições tornaram-se impossíveis. Saartje foi levada a
prostituir-se e tornou-se alcoólica. Morreu em dezembro de 1815, ao cabo de 15
meses em França. Como causa da morte, foram aventadas várias hipóteses: varíola,
sífilis ou pneumonia.
Saartjie Baartman morreu
a 29 de Dezembro de 1815 de uma doença inflamatória. Para não ter de pagar o
enterro, o domador de animais vendeu o cadáver ao Musée de l'Homme (Museu do
Homem), em Paris, onde foi feito um molde em gesso do corpo. Os resultados da
autópsia foram publicados por Henri de Blainville em 1816 e por Cuvier em
Mémoires du Museum d'Histoire Naturelle em 1817. Cuvier anotou, nesta
monografia, que Saartjie era uma mulher «inteligente, com excelente memória e
fluente em holandês». Além do molde em gesso, o esqueleto, os órgãos genitais e
o cérebro, conservados em formol, estiveram em exibição até 1974.
A partir da década de
1940, houve apelos esporádicos pela devolução dos seus restos mortais, mas o
caso só ganhou relevância após o biólogo norte-americano Stephen Jay Gould ter
publicado The Hottentot Venus na década de 1980.
Quando se tornou
presidente da República da África do Sul, Nelson Mandela requereu formalmente à
França a devolução dos restos mortais de Saartjie Baartman.
Após inúmeros debates e
trâmites legais, a Assembleia Nacional Francesa atendeu o pedido em 6 de Março
de 2002.
Os restos mortais de Sarah
Baartman foram inumados na sua terra natal, Gamtoos Valley, em 3 de Maio de
2002.
Se você se sentiu tocado pela história assista o filme a Vênus Negra: http://www.predadoronline.com/2013/09/venus-negra-legendado-dublado-assistir.html
Se você se sentiu tocado pela história assista o filme a Vênus Negra: http://www.predadoronline.com/2013/09/venus-negra-legendado-dublado-assistir.html
sexta-feira, 1 de novembro de 2013
O ENIGMA DA VELHA PROSTITUTA (de Bosco Silva)
Ainda hoje me lembro com
saudade das corridas após a escola quando éramos menino, em que apostávamos
quem chegava primeiro ao futebol no velho campo de terra batida atrás da escola;
das noites de apagão em que caçávamos vaga-lumes, e fazíamos lâmpadas com eles
em vidros de maionese; dos doces banhos na bela lagoa ao entardecer, e dos
passeios nas noites de finais de semana para vermos as estrelas; ficávamos a
contemplá-las deitados sobre a relva rala, tentando contá-las, pensando na vida
e projetando as próximas estripulias para o final de semana. Eram tempos de
ingenuidade, de agradáveis descobertas e também de grandes surpresas. Mas de
todas estas lembranças uma guardo em especial:
De Neusa, a velha prostituta que,
apesar de sua idade avançada, ainda agradava muitos os homens; tanto que mesmo
as novinhas cheirando a leite, com carnes rígidas das mais apetitosas não eram
páreas para ela, com seu corpo encurvado, pele enrugada e boca flácida. O que
despertava a curiosidade e também um quê de inveja em muitas mulheres; havendo
aquelas que argumentavam que Neusa se banhava com chá de casca do tronco do
cajueiro a fim de contrair a vagina durante suas relações sexuais; mas o certo
era que isso não era segredo para nenhuma mulher de seu ofício, e que nenhuma,
mesmo cultivando tal prática, não conseguia o mesmo efeito. O que aumentava ainda
mais o mistério em sua volta, havendo também aqueles que diziam que Neusa havia
contraído pacto com demônio, que a mantinha com tais poderes.
Tal segredo não apenas passou
a estimular a curiosidade das mulheres das redondezas mas também de nós; por
isso tínhamos o costume de pararmos enfrente da velha casa de Neusa, todo final
de tarde, e ficávamos a observar as beatas ao virem da igreja benzerem-se ao
passar enfrente de sua casa como quem encarasse o próprio demônio; dos homens
que imploravam por mais uma hora de amor ao seu lado, a qualquer hora do dia ou
da noite, e do entra e sai de senhores de todas as idades.
Um dia, após mais um
banho no velho ribeirão, descemos a ladeira e ficamos a espreitar mais uma vez
a velha casa de madeira, de aparência humilde, com um grande jardim recheado de
árvores frutíferas de todas as espécies, eram mangas, jacas, figos e
jabuticabas, a amadurecerem sem que alguém as procurasse; parecia que as
árvores imploravam para que alguém subisse em seus grossos troncos, saboreassem
seus saborosos frutos e que as tomassem de abrigos a quem estivesse cansado com
o sol à pino; o que era um convite tentador
aos moleques da região, incluindo, claro, nós.
Mas ao mesmo tempo em que as árvores possuíam este aspecto tentador,
havia também o ar sinistro produzido pelas sombras de suas folhagens, que a
tornava como que envolta em uma atmosfera sempre noturna mesmo nas horas mais
ensolaradas do dia, conferindo-lhe ar sombrio de casa abandonada e
mal-assombrada; o que, por sua vez, mantinha a garotada longe de suas
tentadoras frutas. Porém naquele dia estávamos dispostos a enfrentar nosso medo
e aventurarmos além de seus muros. E assim tentados pela visão das frutas nos
arriscamos em apanhá-las.
Carlinhos foi o primeiro,
saltou o muro com a agilidade que seu corpo franzino lhe proporcionava, agilidade
que tantas vezes havia sido testada em quintais vizinhos, o que lhe
proporcionou a grande oportunidade de por seu talento mais uma vez à prova. E
ao comando de seu assovio, todos pulamos o muro...
E após verificarmos a
ausência de Neusa, passamos a deliciarmos com as frutas mais saborosas que
havíamos comidos na vida. Porém a curiosidade em mim pela aquela velha casa queimava
como a mais alta das febres. O que me fez por um momento desprezar as frutas e
me aventurar a procurar por brechas a fim de olhar seu interior. E ao
contorná-la verifiquei que a porta estava entreaberta; e assim motivado pela
curiosidade natural a nossa idade adentrei-a.
A casa, embora humilde,
possuía mobílias e quadros suntuosos, e também grandes tapetes trabalhados
belamente enfeitavam o frio chão de madeira. E apesar de pequena, possuía inúmeros
quartos que contrastavam com seu tamanho visto de fora. Mas o último quarto
chamou-me mais a atenção, já que era para ele que se encaminhavam a longa
fileira de tapetes, como um convite para que entrássemos nele. Ao abri-lo, tive
uma grande surpresa:
Móveis com formas de falo decoravam o quarto; como uma
mesa que tinha quatro pernas em forma de pênis esculpidos em madeira, e um
enorme falo que se projetava de seu centro; cadeiras com ornamento de mulheres
com grandes pênis na boca ou em pleno ato sexual espalhavam-se pelo quarto; mas
um me assustou sobremaneira:
Uma grande poltrona que estampava uma criatura com
chifres, longos dedos finos a lamber uma protuberante vagina. O susto foi tanto
que imediatamente pus-me em fuga, obrigando o resto dos meninos a seguir-me, em
meio a tantos porquês de tal atitude repentina.
Passei ainda alguns dias
com medo do que tinha visto naquele quarto maldito; vindo-me sempre a tona o
que o povo dizia: do terrível pacto com o demônio!
E por estas mudanças
surpreendentes que compartilhamos na vida, logo o medo passou, e a curiosidade
tomou-me a alma novamente. Voltei outra vez para a casa dela, mas desta vez
sozinho...
Desta vez entrei pela
porta da frente. E ao ouvir vozes, busquei abrigo no único quarto aberto, o
temido quarto sinistro. E ao perceber que passos seguiam para ele, me escondi
sob a cama. Neusa entrou acompanhada de um homem. Despiram-se. E sobre a cama
ela se entregou a seu amante. A cama tremia, rangia, me imprensando. Até que em
um dado momento o homem passou a lhe implorar por algo que eu desconhecia. O
homem gritava, gemia e dizia: “bora Neusa, tire elas. Ninguém faz como você,
querida”. Olhei então para a pequena mesinha ao lado da cama, vi um copo
d’água, e logo em seguida, dentro, um par de dentaduras.
Compreendi então, alguns
anos depois, que nada havia de sobrenatural ou de maligno naquilo, Neusa apenas
tinha um modo peculiar de agradar sexualmente os homens.
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