Não é de hoje que esta
parte tão peculiar da anatomia humana atrai tanto os olhares curiosos e desejos
da humanidade, ou pelo menos de uma grande parcela dela. E enquanto em países de
cultura anglo-saxã se cultua outra parte do corpo feminino, os seios, e onde ter
fartos trazeiros chega a ser um sinal de imperfeição; nós porém, latinos,
cultuamos a bunda ao ponto desta torna-se um sinal de status e até mesmo como uma
escada para o sucesso, para tanto basta analisarmos o surgimento das chamadas
mulheres-frutas com seus exuberantes bumbuns, exibindo-os em danças sensualíssimas.
Talvez na própria origem
da palavra bunda esteja a pista para compreendemos melhor este fenômeno
cultural e sexual tão disseminado em nosso pais.
É provável que a palavra
bunda tenha se derivado da palavra Bundo, que era empregado aos indivíduos
pertencentes a um dos povos angolano, que foram trazidos ao Brasil como mão de
obra escrava. E como em tantas raças negroides, homens e mulheres bundos
exibiam certa conformação características, como quadris estreitos e nádegas
protuberantes.
Deste modo, não é difícil
de imaginarmos quanto tal característica, confrontada com as mulheres brancas europeias,
tenha atraído tanto a atenção principalmente masculina. Fico a imaginar ricos
senhores de engenhos parados em alguma esquina de um Brasil colonial a
observarem escravas carregando grandes tabuleiros em suas cabeças, com olhares
cheios de desejos ao andar cadenciado, e o balançar de seus grandes bumbuns.
E ao associarem grandes
nádegas a povos escravos e submissos, é possível que tenha estimulado ainda
mais desejos sadomasoquistas latentes já presentes no sexo anal. O que, uma vez somado ao clima de nosso país e a grande quantidade de escravos vindos ao Brasil, tenha ajudado a construir a sexualidade brasileira.
Isto pode ser verificado com
a história da negra Saartjie, que foi conhecida como a Vênus Negra.
SAARTJIE, A VÊNUS NEGRA
Saartjie (Sarah) nasceu
no vale do rio Gamtoos, na atual província do Cabo Oriental, na África do Sul,
de etnia Khoisan. Esta é a forma africânder do seu nome, cujo original é
desconhecido. Seu nome, Saartjie (que se pronuncia «Sarqui»), pode ser considerado
equivalente a "Sarazinha".
Saartjie foi criada em
uma fazenda de holandeses próximo à Cidade do Cabo. Hendrick Cezar, irmão do
seu patrão, sugeriu que ela se exibisse na Inglaterra, prometendo que isso a
tornaria rica. Lord Caledon, governador do Cabo, permitiu a viagem, embora
tenha lamentado tal decisão após saber o seu verdadeiro propósito.
Em 1810 Saartjie viaja
para a Inglaterra com o sonho de ser artista famosa, acabou refém da
escravização de seu corpo numa mistura de colonialismo, machismo e racismo.
Cezar promete fazê-la rica, porém foi obrigada a se apresentar em shows de
péssimo gosto, em que sai de uma jaula simulando atacar o público como se fosse
uma selvagem. Usando uma roupa colante que evidenciava seu físico avantajado,
expectadores gritavam obscenidades e mediante pagamento extra poderiam até
tocar o seu corpo. Saartjie tinha longos lábios da genitália, particularidade
de algumas mulheres Khoisan. Segundo Stephen Jay Gould, "os pequenos
lábios ou lábios internos dos genitais da mulher comum são extremamente longos
nas mulheres khoi-san e podem sobressair da vagina entre 7,5 e mais de 10 cm
quando a mulher está de pé, dando a impressão de uma cortina de pele distinta e
envolvente" (Gould, 1985). Em vida, Saartjie nunca permitiu que este seu derradeiro
traço fosse exibido.
A sua exibição em Londres
causou escândalo, tendo a sociedade filantrópica African Association criticado
a iniciativa e lançado um processo em tribunal. Durante o seu depoimento, Sarah
Baartman declarou, em holandês, não se considerar vítima de coação e ser seu
perfeito entendimento que lhe cabia metade da receita das exibições. O tribunal
decidiu arquivar o caso, mas o acórdão não foi satisfatório, devido a
contradições com outras investigações, que tornaram a continuação do espetáculo
em Londres impossível.
No final de 1814,
Saartjie foi vendida a um francês, domador de animais, que viu nela uma
oportunidade de enriquecimento fácil. Considerando que a adquirira como
prostituta ou escrava, o novo dono mantinha-a em condições muito mais duras.
Foi exposta em Paris, tendo de aceitar exibir-se completamente nua, o que
contrariava o seu voto de jamais exibir os órgãos genitais. As celebrações da
reentronização de Napoleão Bonaparte no início de 1815 incluíram festas
noturnas. A exposição manteve-se aberta durante toda a noite e os muitos
visitantes bêbados divertiram-se apalpando o corpo da indefesa mulher. Foi
depois exposta a multidões, que zombavam dela. Era alvo de caricaturas, mas
chamou também o interesse de cientistas e pintores. O anatomista francês Georges
Cuvier e outros naturalistas visitaram-na, tendo sido objeto de numerosas
ilustrações científicas no Jardin du Roi.
O corpo foi totalmente
investigado e medido, com registo do tamanho das nádegas, do clitóris, dos
lábios e dos mamilos para museus e institutos zoológicos e científicos.
Com a nova derrota de
Napoleão, o fim do seu governo e a ocupação da França pelas tropas aliadas em
junho de 1815, as exposições tornaram-se impossíveis. Saartje foi levada a
prostituir-se e tornou-se alcoólica. Morreu em dezembro de 1815, ao cabo de 15
meses em França. Como causa da morte, foram aventadas várias hipóteses: varíola,
sífilis ou pneumonia.
Saartjie Baartman morreu
a 29 de Dezembro de 1815 de uma doença inflamatória. Para não ter de pagar o
enterro, o domador de animais vendeu o cadáver ao Musée de l'Homme (Museu do
Homem), em Paris, onde foi feito um molde em gesso do corpo. Os resultados da
autópsia foram publicados por Henri de Blainville em 1816 e por Cuvier em
Mémoires du Museum d'Histoire Naturelle em 1817. Cuvier anotou, nesta
monografia, que Saartjie era uma mulher «inteligente, com excelente memória e
fluente em holandês». Além do molde em gesso, o esqueleto, os órgãos genitais e
o cérebro, conservados em formol, estiveram em exibição até 1974.
A partir da década de
1940, houve apelos esporádicos pela devolução dos seus restos mortais, mas o
caso só ganhou relevância após o biólogo norte-americano Stephen Jay Gould ter
publicado The Hottentot Venus na década de 1980.
Quando se tornou
presidente da República da África do Sul, Nelson Mandela requereu formalmente à
França a devolução dos restos mortais de Saartjie Baartman.
Após inúmeros debates e
trâmites legais, a Assembleia Nacional Francesa atendeu o pedido em 6 de Março
de 2002.
Os restos mortais de Sarah
Baartman foram inumados na sua terra natal, Gamtoos Valley, em 3 de Maio de
2002.
Se você se sentiu tocado pela história assista o filme a Vênus Negra: http://www.predadoronline.com/2013/09/venus-negra-legendado-dublado-assistir.html
Se você se sentiu tocado pela história assista o filme a Vênus Negra: http://www.predadoronline.com/2013/09/venus-negra-legendado-dublado-assistir.html
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