Quando eu era garoto
descobri, casualmente, frequentando um extenso terreno próximo de casa, que eu era capaz de correr descalço sobre plantas
rasteiras com espinhos e não me ferir. Isso se tornou um divertimento para mim
já que passei a provocar outros garotos da minha idade e fazer com que eles,
descalços também, corressem atrás de mim em direção ao caminho de espinhos;
porém, logo, eu ouvia, com um grande sorriso em meus lábios, suas expressões de
dor, pois eles, ao contrário de mim, sentiam a dor das furadas dos espinhos,
paravam e ficavam a tirar os mesmos espetados de seus pés; e com imenso cuidado
caminhavam de volta para longe daquelas plantas espinhentas. E eu continuava, em meio a tais plantas, provocando-os
seguro de que eles jamais viriam atrás de mim.
O tempo passou. E quando
já adulto eu li uma reportagem sobre uma dessas festas religiosas em que
devotos caminham sobre brasas, me chamou atenção quando um dos devotos comentou
que o poder de não se queimar estava na certeza de que eles iriam pisar em
brasas e não se queimar, pensamento que era análogo ao que eu possuía quando
pisava sobre os espinhos. Porém o que o monge Thich Quang Duc, da foto acima,
que colocou fogo no próprio corpo como protesto contra o governo do Vietnã do
Sul, em 11 de junho de 1963, fez é surpreendente. Ele queimou em posição de
lótus até ficar completamente carbonizado sem se mexer ou demonstrar qualquer
sinal mínimo de dor. E se este poder é capaz de vencer a própria dor da morte,
imagine o que é capaz com coisas bem menores. Hoje, penso, através do exemplo
de Thich Quang Duc, que o homem é capaz de vencer a própria morte.
Todos nós temos esse
poder, basta apenas aperfeiçoá-lo.
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