terça-feira, 17 de março de 2015

QUATRO FONTES PRINCIPAIS QUE CONTINUAM A INSPIRAR A CRENÇA EM ALGUMA FORMA DE DEUS ANALISADAS CRITICAMENTE



Ainda hoje, para muitos, Deus tem a aparência de um homem velho com longas barbas e cabelos brancos, sentado em seu trono sobre as nuvens a dirigir a natureza, incluindo a vida humana: premiando os “bons” com as delícias de um paraíso e os “maus” com castigos eternos; já para outros, com mais conhecimento, Deus é uma espécie de consciência infinita, criador e fundamento de todo o universo. Há também aqueles que interpretam Deus como uma espécie de lei cósmica que guiaria o ser humano em seu processo de evolução por meio de inúmeras reencarnações... E como estas, há inúmeras interpretações de Deus, para todos os gostos e níveis intelectuais. E embora exista uma infinidade de DEUSES concebíveis, e contraditórios entre si, todo devoto estará pronto a afirmar que o deus de sua religião é o único verdadeiro.

Acima alguns exemplos de deuses. E abaixo, Jesus comparado com outros deuses.


Atar, Resheph, Anath, Ashtoreth, Ahura Mazda, Nebo, Melek, Ahijah, Ísis, Ptah, Baal, Baco, Astrarte, Ares, Hadad, Hermes, Hera, Dagon, Yau, Amon-Ra, Ártemis, Apolo, Osíris, Molech, Arianrod, Morrigu, Jupiter, Jano, Sekhmet, Govannon, Gunfled, Geb, Dagda, Dionísio, Geush Urvan, Ogurvan, Dea Dia, Iuno Lucina, Inanna, Saturno, Furrina, Cronos, Engurra, Belus, Ubililu, U-dimmer-na-kia, U-sab-sib, U-Mersi, Tammuz, Vênus, Belis, Nusku, Néftis, Aa, Sin, Apsu, Elali, Mami, Zaraqu, Zagaga, Nuada Argetlam, Nut, Tagd, Goibniu, Odim, Ogma, Marzin, Mitra, Marte, Diana de Éfeso, Ra, Seth, Robigus, Plutão, Ptah, Vesta, Zer-panitu, Zeus, Zam, Merodach, Minerva, Elum, Enki, Marduk, Mah, Nin, Perséfone, Istar, Lagas, Nirig, Nebo, Em-Mersi, Assur, Asalluhi, Beltu, Kusky-banda, Nin-azu, Qarradu, Urano, Ueras, Vesta, Khonsu, Afrodite...
Todos estes deuses — para citar apenas uma pequeníssima lista destes — foram cultuados, respeitados, idolatrados, temidos e tidos, por cada povo que lhe cultuava, como um deus verdadeiro; no entanto, hoje, assim como os povos que os idolatravam, estão completamente esquecidos, lembrados apenas em livros de história antiga. O que nos leva imediatamente a pergunta: Quais os critérios que nos leva a crer que nossa concepção de Deus não fará parte desta lista em um futuro distante?
Em busca de respostas para essa pergunta, e sabendo que a ideia de deus é a ideia mais fecunda já produzida pela humanidade, ao ponto de ser quase impossível encontrar duas pessoas que concebam o mesmo deus da mesma maneira, perguntamos: Quais os principais motivos pelos quais o ser humano continuaria a fazer desta ideia a mais fecunda de todas? E serão estes dignos de confiança? É o que se propõe analisar esse pequeno texto.  
Vamos a elas, as quatro principais fontes que continuam a manter nos homens a crença em alguma forma de deus:
CONSOLO PSICOLÓGICO
Comecemos com uma pergunta: O que o ser humano mais teme, tanto hoje quanto no passado?
Quem disse a morte, acertou em cheio. Por isso não é de surpreender que a crença em deuses seja tão sedutora, pois todas as concepções de deuses, cada uma ao seu modo, tentam minimizar tal medo, trazendo consigo alguma concepção de vida após a morte. O que faz com que seja perfeitamente compreensível que muitos de nós estejamos prontos a abraçar qualquer crença que possa amenizar nosso medo da morte, do desconhecido, da solidão, da total falta de sentido da vida, ou da morte de entes queridos, sem ter a mínima preocupação em saber se é verdadeira, pois o que interessa aqui, em primeiro lugar, é o conforto psicológico obtido. Tanto que muitos reagem com desdém ou até com VIOLÊNCIA àqueles que tentam alertar sobre o perigo de sua falta de critério de verdade, como se quisessem manter-se, por livre e espontânea vontade, em tal erro, ou evitarem demonstrarem a fragilidade de suas crenças. O que explica porque muitos, embora tendo bastante conhecimento, possuem superstições religiosas.
Contudo, não podemos aceitar que um conjunto de crenças sejam consideradas verdadeiras apenas porque nos dão conforto espiritual. ISTO É UM GRANDE ERRO.
TRADIÇÃO
   
VOLTAIRE
O escritor francês Voltaire escreveu “não há criança alguma, entre os povos policiados, que tenha em sua cabeça a menor ideia de um Deus. É com dificuldade que lhe inculcamos tal ideia e, frequentemente, pronuncia durante toda sua vida a palavra Deus sem atribuir-lhe qualquer noção precisa. Veja, aliás, que as ideias de Deus entre os homens diferem tanto quanto suas religiões e suas leis”.
É com dificuldade que inculcamos a ideia de Deus nas crianças; um bom sinal disso é que começamos a inculcá-las desde a mais tenra idade — em algumas religiões logo após que nascem —, não as deixando sequer, por algum momento, pensarem por si próprias. Nesse sentido, o modo como a crença em Deus é transmitida se assemelha bastante ao modo como aprendemos nossa primeira língua.
Por exemplo: Por que falamos português? Porque nossos pais falam português; porque nossos avós falavam português; porque nossos bisavós falavam português; e assim continuamente... Até chegarmos ao fato de que falamos português por termos nascido em um país colonizado por portugueses. E assim como falamos português não por esta língua ser a única verdadeira, nem por ser mais importante do que outras línguas, mas simplesmente por não terem nos dado outra escolha; cremos em um deus específico apenas por tradição e hábito, independente de nossa crença ser verdadeira, ou a mais importante de todas.



E em muitos povos é comum que a tradição religiosa seja transmitida por meio de livros, tidos como sagrados, contendo regras de condutas supostamente transmitidas pelo próprio deus cultuado a seus devotos. São livros que contém histórias prodigiosas, cujos autores ignoramos por completo seus verdadeiros nomes e suas vidas; são histórias com acontecimentos maravilhosos que não podem ser explicados por meio das leis da natureza, com personagens que viveram há muito, muito, muito, tempo atrás, e que não deixaram nenhum vestígio de suas existências, exceto as descritas no livro; histórias que foram escritas há muitos anos depois dos fatos descritos, e em uma época em que era comum que fatos miraculosos — como animais falantes e criaturas fabulosas —, se misturassem com seres reais não apenas em histórias religiosas mas em biografias de personagens célebres, como histórias de viajantes e imperadores romanos, que já foram até considerados deuses por povos antigos.
Para mim é surpreendente que algum ser extremamente poderoso e inteligente, como, em geral, são definidos os deuses, possam ter escolhido um meio tão vulnerável, tão fácil de ser distorcido e interpolado; tão dependente de regras de linguagens; escritas em expressões linguísticas que envelhecem e, por fim, perdem o sentido, ou tornam-se fáceis de serem mal interpretadas, quanto um livro para espalharem suas ideias. Vê-se, pois, que, com todas estas dificuldades inerentes aos livros sagrados, o próprio ato de acreditar em tais meios demonstra o mais alto grau de uma fé cega, dependente de interpretações pessoais de sacerdotes. O que explica, em grande parte, o porquê de uma crença religiosa original, com o tempo, ser capaz de fragmentar-se em inúmeras outras, cada qual com sua interpretação diferente. Não merecendo, por isso, nossa total confiança.
Estas são duas das mais importantes fontes não racionais pelas quais os homens continuam a acreditar em alguma forma de Deus, mas há as que se baseiam em exercícios intelectuais, que vão da ordem do mundo, de sua beleza e harmonia, a ideia da existência de um Deus ou de deuses criadores do mundo. Vamos a elas, a dois dos mais populares raciocínios a favor da existência de alguma forma de Deus.
 O ARGUMENTO DA CAUSA PRIMEIRA
O raciocínio da causa primeira baseia-se nas observações cotidianas que fazemos a respeito do mundo, constatando que todas as coisas ou acontecimentos que vemos necessitam de uma causa exterior a si próprio para existir, como os seres vivos que precisam de outros seres vivos semelhantes para que existam, e estes de outros, e assim sucessivamente. E que, portanto, teria que ter existido uma primeira causa exterior a tudo. E por uma generalização desta ideia chegamos a conclusão de que o próprio universo teria tido uma causa. E que esta causa primeira só poderia ter sido Deus. 
Ao analisarmos com mais cuidado este argumento descobrimos que este possui várias lacunas que não permitem ou não autorizam sua conclusão. Por exemplo, o fato de observarmos em nosso dia a dia que alguns acontecimentos ou seres possuem em outros a causa de suas existências, não nos permite crermos que todos os seres ou todos os acontecimentos do universo, muito menos o próprio universo, possua uma causa primeira. Além disso, nada impossibilita que possa ter havido “uma série infinita de causas, como explicação para cada ser ou acontecimento, incluindo o próprio universo”. Esta possibilidade não é levada em consideração por acharmos que esta é uma ideia absurda. Contudo, o fato de não podermos compreender uma série infinita de causas não é motivo suficiente para que esta não possa ter existido; da mesma forma que a incompreensão de como se dá o pensamento em minha mente, não impede que este exista. E em último, mesmo que este argumento autorizasse a conclusão da existência de uma primeira causa, não provaria que esta causa seja o Deus de alguma religião, podendo ser outra coisa qualquer, ou um Deus que nunca foi concebido por nenhuma religião.   
O ARGUMENTO DO PLANO DIVINO
Este argumento, mais uma vez, baseia-se em nossas observações cotidianas, numa suposta semelhança entre os objetos criados pelos homens e os seres da natureza. Voltaire o resumiu assim: “Quando vejo um relógio cujo ponteiro marca as horas, concluo que um ser inteligente arranjou as molas dessa máquina para que o ponteiro marcasse as horas. Assim, quando vejo as molas do corpo humano, concluo que um ser inteligente arranjou os órgãos para serem recebidos e nutridos por nove meses na matriz; que os olhos são dados para ver, as mãos para pegar etc.” E ao estender este raciocínio a todas as coisas não criadas pelo homem, torna-se impossível a seus defensores não conceber um criador inteligente do mundo: Deus. (3455)
E se foi a estrutura dos seres vivos que maravilhou os homens ao ponto de acharem ser o trabalho de um artesão divino, foi justamente dela que veio o maior golpe da visão religiosa do mundo, causado pelos trabalhos do biólogo inglês Charles Darwin (1809 – 1882).


Charles Darwin
Darwin ao elaborar suas ideias não pretendia responder a pergunta se Deus existe, mas solucionar a questão de como a vida se tornou tão diversa em nosso planeta. Porém, suas respostas tiveram enormes consequências para a negação do Argumento do Plano Divino. E o que era visto como fruto da sabedoria divina revelou-se apenas o simples resultado de características nascidas casualmente em novos indivíduos.
Vamos então a ela:
Cada animal ao nascer trás em si, não apenas características comuns aos animais de sua espécie, como também individuais – o que faz com que dois indivíduos da mesma espécie não sejam iguais em absoluto. Características algumas vezes benéficas, que ajudariam a mantê-los vivos mais tempo que outros indivíduos de sua espécie, já que graças a estas características estariam melhor casualmente adaptados ao seu ambiente, deste, por exemplo, obtendo melhor proteção ou maior quantidade de alimentos. Como, por exemplo, a qualidade de se camuflar, de fazê-los melhor esconder-se de se tornar parecido com o meio, de modo que os animais que se alimentam destes teriam maior dificuldades para achá-los, , a fim de capturarem outros animais. Caso de alguns insetos que casualmente nascem com uma coloração mais escura, que o habitual de sua espécie, em regiões poluídas com fuligem escura, devido ao grande número de fábricas.  Estas qualidades fariam com que estes vivessem mais e que por isso teriam maior tempo para reproduzirem-se. Tais qualidades, por sua vez, seriam herdadas por um número maior de descendentes que também viveriam muito mais, que o restante de sua espécie, e que gerariam, ainda, muito mais indivíduos com as mesmas qualidades. Em um tempo considerável, somente os descendentes destes indivíduos estariam vivos, os outros, que não teriam herdado esta nova qualidade benéfica, pereceriam na luta pela sobrevivência, pois, incapazes de viverem tanto quanto aqueles teriam poucos descendentes e por fim, desapareceriam por completo, dando espaço a uma nova espécie, bem mais preparada para o ambiente. Algumas vezes, porém, as qualidades herdadas não seriam boas e lhes prejudicariam, com deformidades físicas, ou qualidades prejudiciais a sua proteção. Como o que ocorre com alguns jacarés que nascem albinos, fenômeno só visto em zoológicos que os protegem, pois na natureza, por causa de sua cor, que denunciaria facilmente sua presença, tais seres são imediatamente dizimados ao nascer por seus predadores.
Com o tempo novas variações seriam acrescentadas, originando novos seres, seres cada vez mais complexos, e melhor adaptados ao meio. E, em um tempo indefinidamente grande, as diferenças seriam brutais. O que nos leva a pensar que a vida em sua origem deve ter sido extremamente simples, porém, conduzida pelo mesmo mecanismo, descrito acima, originou toda a complexa estrutura atual de vida, incluindo a vida humana.
Deste modo, é possível explicar toda a complexidade dos organismos vivos sem recorrer a um plano divino, a um planejador, que projeta suas criaturas do melhor modo possível a fim de que estas obtenham o melhor uso de suas estruturas, mas como o resultado de um desenvolvimento cego, sem fim estabelecido, que em muitos casos destrói indivíduos, tornando estes estruturas inviáveis de vida.
Ao longo dos anos, as ideais de Darwin têm obtido muitos fatos que as têm corroborado, mesmo antes destas terem sido criadas, como as descobertas de fósseis de espécies de animais que não existem mais, como os dinossauros, demonstrando a existência de vestígios de animais, que por qualquer razão, não conseguiram se adaptar a novas condições de vida, ou de animais que aparentam ser um meio termo entre espécies diferentes, demonstrando a transição de uma espécie à outra. Ideias que tornaram-se mais fortes ainda com a descoberta do DNA, do mecanismo que torna a vida possível, explicando de modo claro doenças genéticas, mutações, produzidas por falhas aleatórias do material genético, bem como o mecanismo que nos faz herdar características de nossos familiares.
CRENÇA E JUSTIFICAÇÃO
A verdade é que as pessoas, em sua grande maioria, parecem ser muito mais guiadas por um senso prático e emocional sobre a vida e o mundo, do que por questões racionais, de modo que tais argumentos e contra-argumentos, vistos acima, não possuem nenhuma relevância para suas vidas. Estas não acreditam ou deixam de acreditar por causa de tais argumentos. Estão muito mais preocupados com os problemas do dia-a-dia, que num certo sentido são muito mais urgentes, do que questões tão abstratas. E o que acaba se dando com suas crenças parece ser o mesmo que com sua língua, pois assim como não escolhem sua língua materna, mas a herdam de seus pais, de seus avós, em fim, de seu povo, estes acabam herdando da mesma forma suas crenças, sendo estas menos o efeito de uma opção, do que o resultado de hábitos adquiridos. Muitos desconhecem, mesmo, quase que a totalidade de tais argumentos, assim como ignoram também em grande parte seus textos religiosos, obedecendo apenas a uma tradição religiosa oral. O que certamente estimula ainda mais o extremo senso prático, aqui referido, fazendo com que muitos vêem apenas o valor prático do conhecimento, através de seus produtos, como máquinas, ou no uso na cura de doenças, em detrimento do valor do conhecimento como resposta às grandes perguntas. Este irracionalismo está na base de todas as grandes crenças religiosas antigas, como se pode ver no próprio Cristianismo, em que não apenas os argumentos a favor da existência de um Deus, a tentativa de provar sua existência, é estranho ao Cristianismo primitivo, como é incompatível com a própria idéia de um Deus cristão.
Por outro lado, as pessoas devem ter o direito político de acreditarem no que quiserem, mesmo sem justificação, tendo como limite o direito de outros de exercerem os mesmos direitos. Porém, é sabido, historicamente, que crenças que não se fundamentam na razão tendem ao extremismo, à intolerância. E apenas as idéias baseadas em argumentos objetivos, racionais, independente de interpretações religiosas e não pessoais, podem fundamentar o direito à liberdade religiosa, já que cada qual, ao seu modo, tende a privilegiar suas próprias crenças religiosas.
ENTRE A FÉ E A RAZÃO: UMA OPÇÃO
Concebemos nossos deuses, inicialmente, como parte de um conjunto de crenças, consideradas verdadeiras, denominado: religião. O Cristianismo, por exemplo. Porém, o Cristianismo, assim como a totalidade das religiões, não se fundamenta na razão científica ou lógica, ou em evidências físicas, pois, fora de seu conjunto de crenças, não há nenhum meio lógico, histórico, físico, de conhecimento, além de suas tradições, que nos leve a acreditar de forma absoluta em um Deus - como foi visto por meio de suas tentativas de provas. O que condiz plenamente com a experiência religiosa, já que esta, em última instância, não se fundamenta em nenhuma demonstração da existência de Deus. De modo que, as convicções religiosas de forma alguma constituem provas de sua existência, assim como a grande variedade de crenças religiosas não constituem provas de sua inexistência. Contudo, parece-me que, nesse sentido, a falta de provas a favor ou contra sua existência é o fundamento de sua possibilidade, já que se não se pode prová-lo, também não se pode negá-lo, e vice-versa, pelo menos por meio de provas racionais convincentes. O que condiz perfeitamente com sua transcendência e com a idéia da criação do mundo a partir do nada, e da possibilidade de liberdade de suas criaturas - pois tais provas limitariam ao máximo nossa liberdade.
Contudo, “não adianta apenas crer, é preciso saber por que se crê”, pois somos também seres racionais. E uma fé cega é tão perigosa quanto a razão sem sentimentos - “Algumas pessoas crêem em Deus devido ao que julgam ser uma ‘revelação interna’. Tais revelações não são sempre edificantes, mas indubitavelmente parecem reais. Muitos pacientes de manicômios crêem efetivamente que são Napoleão Bonaparte ou Deus em pessoa. Não há dúvida quanto ao poder que tais convicções exercem sobre eles, mas não existem motivos para que o resto de nós acredite nisso.”22 De fato, e embora não se possa provar a existência de um Deus criador, como foi visto, pode-se concebê-la como provável, o que , por sua vez, não é contrário a falta de certeza, nem muito menos à razão. Obtendo-se, assim, uma leve união entre razão e fé, mantendo, deste modo, um certo grau de racionalidade e objetividade, meios fundamentais para manter a medida do bom senso. E apesar dos efeitos da fé ter muitas vezes efeito salutar, o que não quer dizer que sejam verdadeiros. Quanto mais indícios se têm de um fato, mais este se torna provável. Separando intenções de acaso. O que torna o que foi dito acima, de extrema relevância. E embora os crentes não considerem suas crenças em termos de graus de possibilidades. Mas, que condiz perfeitamente com o conhecimento humano, pois nosso conhecimento em última instância, exceto de nossa própria existência, é apenas provável.
O que nos leva a substituirmos a pergunta sobre a existência de Deus, por outra de maior importância: a idéia Deus ainda faz sentido no mundo em que vivemos? Isto é, é possível à humanidade viver sem a idéia de um Deus? Parece que não, pois esta está intrinsecamente ligada à idéia da morte. E pelo menos enquanto esta houver, aquela será de suma importância, como forma de significação, explicação, consolação, etc, da condição humana. Tanto na forma de explicação teísta, como atéia, na forma de ideal humano.
Por isso, não podemos negar a herança grega, imprescindível à compreensão do mundo e da condição humana, construída com grande esforço, e limitadora de extremos religiosos. E, ao negá-la voltaremos às trevas da ignorância e da barbárie. E a possibilidade de uma volta à idade das trevas, em que a razão é vista como inferior a fé, torna-se extremamente possível e perigosa.
Assim, após retirarmos as máscaras de Deus, isto é, as barreiras que se interpõem como formas de obstáculos ao conhecimento, ou seja, antropomorfismo, maniqueísmo, fundamentalismos religiosos, mitologia e etc, sobra apenas a possibilidade de sua presença, o que para alguns é um ótimo começo. 


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