Ainda hoje, para muitos,
Deus tem a aparência de um homem velho com longas barbas e cabelos brancos,
sentado em seu trono sobre as nuvens a dirigir a natureza, incluindo a vida
humana: premiando os “bons” com as delícias de um paraíso e os “maus” com
castigos eternos; já para outros, com mais conhecimento, Deus é uma espécie de consciência
infinita, criador e fundamento de todo o universo. Há também aqueles que
interpretam Deus como uma espécie de lei cósmica que guiaria o ser humano em
seu processo de evolução por meio de inúmeras reencarnações... E como estas, há
inúmeras interpretações de Deus, para todos os gostos e níveis intelectuais. E
embora exista uma infinidade de DEUSES concebíveis, e contraditórios entre si, todo
devoto estará pronto a afirmar que o deus de sua religião é o único verdadeiro.
Acima alguns exemplos de deuses. E abaixo, Jesus comparado com outros deuses.
Atar, Resheph, Anath,
Ashtoreth, Ahura Mazda, Nebo, Melek, Ahijah, Ísis, Ptah, Baal, Baco, Astrarte,
Ares, Hadad, Hermes, Hera, Dagon, Yau, Amon-Ra, Ártemis, Apolo, Osíris, Molech,
Arianrod, Morrigu, Jupiter, Jano, Sekhmet, Govannon, Gunfled, Geb, Dagda,
Dionísio, Geush Urvan, Ogurvan, Dea Dia, Iuno Lucina, Inanna, Saturno, Furrina,
Cronos, Engurra, Belus, Ubililu, U-dimmer-na-kia, U-sab-sib, U-Mersi, Tammuz,
Vênus, Belis, Nusku, Néftis, Aa, Sin, Apsu, Elali, Mami, Zaraqu, Zagaga, Nuada
Argetlam, Nut, Tagd, Goibniu, Odim, Ogma, Marzin, Mitra, Marte, Diana de Éfeso,
Ra, Seth, Robigus, Plutão, Ptah, Vesta, Zer-panitu, Zeus, Zam, Merodach,
Minerva, Elum, Enki, Marduk, Mah, Nin, Perséfone, Istar, Lagas, Nirig, Nebo,
Em-Mersi, Assur, Asalluhi, Beltu, Kusky-banda, Nin-azu, Qarradu, Urano, Ueras,
Vesta, Khonsu, Afrodite...
Todos estes deuses — para
citar apenas uma pequeníssima lista destes — foram cultuados, respeitados, idolatrados,
temidos e tidos, por cada povo que lhe cultuava, como um deus verdadeiro; no
entanto, hoje, assim como os povos que os idolatravam, estão completamente
esquecidos, lembrados apenas em livros de história antiga. O que nos leva
imediatamente a pergunta: Quais os critérios que nos leva a crer que nossa
concepção de Deus não fará parte desta lista em um futuro distante?
Em busca de respostas
para essa pergunta, e sabendo que a ideia de deus é a ideia mais fecunda já
produzida pela humanidade, ao ponto de ser quase impossível encontrar duas
pessoas que concebam o mesmo deus da mesma maneira, perguntamos: Quais os
principais motivos pelos quais o ser humano continuaria a fazer desta ideia a
mais fecunda de todas? E serão estes dignos de confiança? É o que se propõe analisar
esse pequeno texto.
Vamos a elas, as quatro
principais fontes que continuam a manter nos homens a crença em alguma forma de
deus:
CONSOLO PSICOLÓGICO
Comecemos com uma
pergunta: O que o ser humano mais teme, tanto hoje quanto no passado?
Quem disse a morte,
acertou em cheio. Por isso não é de surpreender que a crença em deuses seja tão
sedutora, pois todas as concepções de deuses, cada uma ao seu modo, tentam minimizar
tal medo, trazendo consigo alguma concepção de vida após a morte. O que faz com
que seja perfeitamente compreensível que muitos de nós estejamos prontos a abraçar
qualquer crença que possa amenizar nosso medo da morte, do desconhecido, da
solidão, da total falta de sentido da vida, ou da morte de entes queridos, sem
ter a mínima preocupação em saber se é verdadeira, pois o que interessa aqui,
em primeiro lugar, é o conforto psicológico obtido. Tanto que muitos reagem com
desdém ou até com VIOLÊNCIA àqueles que tentam alertar sobre o perigo de sua
falta de critério de verdade, como se quisessem manter-se, por livre e
espontânea vontade, em tal erro, ou evitarem demonstrarem a fragilidade de suas
crenças. O que explica porque muitos, embora tendo bastante conhecimento,
possuem superstições religiosas.
Contudo, não podemos aceitar
que um conjunto de crenças sejam consideradas verdadeiras apenas porque nos dão
conforto espiritual. ISTO É UM GRANDE ERRO.
TRADIÇÃO
VOLTAIRE |
É com dificuldade que
inculcamos a ideia de Deus nas crianças; um bom sinal disso é que começamos a inculcá-las
desde a mais tenra idade — em algumas religiões logo após que nascem —, não as
deixando sequer, por algum momento, pensarem por si próprias. Nesse sentido, o
modo como a crença em Deus é transmitida se assemelha bastante ao modo como
aprendemos nossa primeira língua.
Por exemplo: Por que
falamos português? Porque nossos pais falam português; porque nossos avós
falavam português; porque nossos bisavós falavam português; e assim
continuamente... Até chegarmos ao fato de que falamos português por termos
nascido em um país colonizado por portugueses. E assim como falamos português
não por esta língua ser a única verdadeira, nem por ser mais importante do que
outras línguas, mas simplesmente por não terem nos dado outra escolha; cremos
em um deus específico apenas por tradição e hábito, independente de nossa
crença ser verdadeira, ou a mais importante de todas.
E em muitos povos é comum
que a tradição religiosa seja transmitida por meio de livros, tidos como
sagrados, contendo regras de condutas supostamente transmitidas pelo próprio
deus cultuado a seus devotos. São livros que contém histórias prodigiosas, cujos
autores ignoramos por completo seus verdadeiros nomes e suas vidas; são
histórias com acontecimentos maravilhosos que não podem ser explicados por meio
das leis da natureza, com personagens que viveram há muito, muito, muito, tempo
atrás, e que não deixaram nenhum vestígio de suas existências, exceto as descritas
no livro; histórias que foram escritas há muitos anos depois dos fatos
descritos, e em uma época em que era comum que fatos miraculosos — como animais
falantes e criaturas fabulosas —, se misturassem com seres reais não apenas em
histórias religiosas mas em biografias de personagens célebres, como histórias
de viajantes e imperadores romanos, que já foram até considerados deuses por
povos antigos.
Para mim é surpreendente
que algum ser extremamente poderoso e inteligente, como, em geral, são definidos
os deuses, possam ter escolhido um meio tão vulnerável, tão fácil de ser
distorcido e interpolado; tão dependente de regras de linguagens; escritas em
expressões linguísticas que envelhecem e, por fim, perdem o sentido, ou
tornam-se fáceis de serem mal interpretadas, quanto um livro para espalharem
suas ideias. Vê-se, pois, que, com todas estas dificuldades inerentes aos
livros sagrados, o próprio ato de acreditar em tais meios demonstra o mais alto
grau de uma fé cega, dependente de interpretações pessoais de sacerdotes. O que
explica, em grande parte, o porquê de uma crença religiosa original, com o
tempo, ser capaz de fragmentar-se em inúmeras outras, cada qual com sua interpretação
diferente. Não merecendo, por isso, nossa total confiança.
Estas são duas das mais
importantes fontes não racionais pelas quais os homens continuam a acreditar em
alguma forma de Deus, mas há as que se baseiam em exercícios intelectuais, que
vão da ordem do mundo, de sua beleza e harmonia, a ideia da existência de um
Deus ou de deuses criadores do mundo. Vamos a elas, a dois dos mais populares raciocínios
a favor da existência de alguma forma de Deus.
O ARGUMENTO DA CAUSA PRIMEIRA
O raciocínio da causa
primeira baseia-se nas observações cotidianas que fazemos a respeito do mundo,
constatando que todas as coisas ou acontecimentos que vemos necessitam de uma
causa exterior a si próprio para existir, como os seres vivos que precisam de
outros seres vivos semelhantes para que existam, e estes de outros, e assim
sucessivamente. E que, portanto, teria que ter existido uma primeira causa
exterior a tudo. E por uma generalização desta ideia chegamos a conclusão de
que o próprio universo teria tido uma causa. E que esta causa primeira só
poderia ter sido Deus.
Ao analisarmos com mais
cuidado este argumento descobrimos que este possui várias lacunas que não
permitem ou não autorizam sua conclusão. Por exemplo, o fato de observarmos em
nosso dia a dia que alguns acontecimentos ou seres possuem em outros a causa de
suas existências, não nos permite crermos que todos os seres ou todos os
acontecimentos do universo, muito menos o próprio universo, possua uma causa
primeira. Além disso, nada impossibilita que possa ter havido “uma série
infinita de causas, como explicação para cada ser ou acontecimento, incluindo o
próprio universo”. Esta possibilidade não é levada em consideração por acharmos
que esta é uma ideia absurda. Contudo, o fato de não podermos compreender uma
série infinita de causas não é motivo suficiente para que esta não possa ter existido;
da mesma forma que a incompreensão de como se dá o pensamento em minha mente,
não impede que este exista. E em último, mesmo que este argumento autorizasse a
conclusão da existência de uma primeira causa, não provaria que esta causa seja
o Deus de alguma religião, podendo ser outra coisa qualquer, ou um Deus que
nunca foi concebido por nenhuma religião.
O ARGUMENTO DO PLANO
DIVINO
Este argumento, mais uma
vez, baseia-se em nossas observações cotidianas, numa suposta semelhança entre
os objetos criados pelos homens e os seres da natureza. Voltaire o resumiu
assim: “Quando vejo um relógio cujo ponteiro marca as horas, concluo que um ser
inteligente arranjou as molas dessa máquina para que o ponteiro marcasse as
horas. Assim, quando vejo as molas do corpo humano, concluo que um ser
inteligente arranjou os órgãos para serem recebidos e nutridos por nove meses
na matriz; que os olhos são dados para ver, as mãos para pegar etc.” E ao
estender este raciocínio a todas as coisas não criadas pelo homem, torna-se
impossível a seus defensores não conceber um criador inteligente do mundo:
Deus. (3455)
E se foi a estrutura dos
seres vivos que maravilhou os homens ao ponto de acharem ser o trabalho de um
artesão divino, foi justamente dela que veio o maior golpe da visão religiosa
do mundo, causado pelos trabalhos do biólogo inglês Charles Darwin (1809 –
1882).
Charles Darwin |
Darwin ao elaborar suas
ideias não pretendia responder a pergunta se Deus existe, mas solucionar a
questão de como a vida se tornou tão diversa em nosso planeta. Porém, suas
respostas tiveram enormes consequências para a negação do Argumento do Plano
Divino. E o que era visto como fruto da sabedoria divina revelou-se apenas o
simples resultado de características nascidas casualmente em novos indivíduos.
Vamos então a ela:
Cada animal ao nascer
trás em si, não apenas características comuns aos animais de sua espécie, como
também individuais – o que faz com que dois indivíduos da mesma espécie não
sejam iguais em absoluto. Características algumas vezes benéficas, que
ajudariam a mantê-los vivos mais tempo que outros indivíduos de sua espécie, já
que graças a estas características estariam melhor casualmente adaptados ao seu
ambiente, deste, por exemplo, obtendo melhor proteção ou maior quantidade de
alimentos. Como, por exemplo, a qualidade de se camuflar, de fazê-los melhor
esconder-se de se tornar parecido com o meio, de modo que os animais que se
alimentam destes teriam maior dificuldades para achá-los, , a fim de capturarem
outros animais. Caso de alguns insetos que casualmente nascem com uma coloração
mais escura, que o habitual de sua espécie, em regiões poluídas com fuligem
escura, devido ao grande número de fábricas.
Estas qualidades fariam com que estes vivessem mais e que por isso
teriam maior tempo para reproduzirem-se. Tais qualidades, por sua vez, seriam
herdadas por um número maior de descendentes que também viveriam muito mais,
que o restante de sua espécie, e que gerariam, ainda, muito mais indivíduos com
as mesmas qualidades. Em um tempo considerável, somente os descendentes destes
indivíduos estariam vivos, os outros, que não teriam herdado esta nova
qualidade benéfica, pereceriam na luta pela sobrevivência, pois, incapazes de
viverem tanto quanto aqueles teriam poucos descendentes e por fim,
desapareceriam por completo, dando espaço a uma nova espécie, bem mais
preparada para o ambiente. Algumas vezes, porém, as qualidades herdadas não
seriam boas e lhes prejudicariam, com deformidades físicas, ou qualidades
prejudiciais a sua proteção. Como o que ocorre com alguns jacarés que nascem albinos,
fenômeno só visto em zoológicos que os protegem, pois na natureza, por causa de
sua cor, que denunciaria facilmente sua presença, tais seres são imediatamente
dizimados ao nascer por seus predadores.
Com o tempo novas
variações seriam acrescentadas, originando novos seres, seres cada vez mais
complexos, e melhor adaptados ao meio. E, em um tempo indefinidamente grande,
as diferenças seriam brutais. O que nos leva a pensar que a vida em sua origem
deve ter sido extremamente simples, porém, conduzida pelo mesmo mecanismo,
descrito acima, originou toda a complexa estrutura atual de vida, incluindo a
vida humana.
Deste modo, é possível
explicar toda a complexidade dos organismos vivos sem recorrer a um plano
divino, a um planejador, que projeta suas criaturas do melhor modo possível a
fim de que estas obtenham o melhor uso de suas estruturas, mas como o resultado
de um desenvolvimento cego, sem fim estabelecido, que em muitos casos destrói
indivíduos, tornando estes estruturas inviáveis de vida.
Ao longo dos anos, as
ideais de Darwin têm obtido muitos fatos que as têm corroborado, mesmo antes
destas terem sido criadas, como as descobertas de fósseis de espécies de
animais que não existem mais, como os dinossauros, demonstrando a existência de
vestígios de animais, que por qualquer razão, não conseguiram se adaptar a
novas condições de vida, ou de animais que aparentam ser um meio termo entre
espécies diferentes, demonstrando a transição de uma espécie à outra. Ideias
que tornaram-se mais fortes ainda com a descoberta do DNA, do mecanismo que
torna a vida possível, explicando de modo claro doenças genéticas, mutações,
produzidas por falhas aleatórias do material genético, bem como o mecanismo que
nos faz herdar características de nossos familiares.
CRENÇA E JUSTIFICAÇÃO
A verdade é que as
pessoas, em sua grande maioria, parecem ser muito mais guiadas por um senso
prático e emocional sobre a vida e o mundo, do que por questões racionais, de
modo que tais argumentos e contra-argumentos, vistos acima, não possuem nenhuma
relevância para suas vidas. Estas não acreditam ou deixam de acreditar por
causa de tais argumentos. Estão muito mais preocupados com os problemas do
dia-a-dia, que num certo sentido são muito mais urgentes, do que questões tão
abstratas. E o que acaba se dando com suas crenças parece ser o mesmo que com
sua língua, pois assim como não escolhem sua língua materna, mas a herdam de
seus pais, de seus avós, em fim, de seu povo, estes acabam herdando da mesma
forma suas crenças, sendo estas menos o efeito de uma opção, do que o resultado
de hábitos adquiridos. Muitos desconhecem, mesmo, quase que a totalidade de
tais argumentos, assim como ignoram também em grande parte seus textos
religiosos, obedecendo apenas a uma tradição religiosa oral. O que certamente
estimula ainda mais o extremo senso prático, aqui referido, fazendo com que
muitos vêem apenas o valor prático do conhecimento, através de seus produtos,
como máquinas, ou no uso na cura de doenças, em detrimento do valor do
conhecimento como resposta às grandes perguntas. Este irracionalismo está na
base de todas as grandes crenças religiosas antigas, como se pode ver no
próprio Cristianismo, em que não apenas os argumentos a favor da existência de
um Deus, a tentativa de provar sua existência, é estranho ao Cristianismo
primitivo, como é incompatível com a própria idéia de um Deus cristão.
Por outro lado, as
pessoas devem ter o direito político de acreditarem no que quiserem, mesmo sem
justificação, tendo como limite o direito de outros de exercerem os mesmos
direitos. Porém, é sabido, historicamente, que crenças que não se fundamentam
na razão tendem ao extremismo, à intolerância. E apenas as idéias baseadas em
argumentos objetivos, racionais, independente de interpretações religiosas e
não pessoais, podem fundamentar o direito à liberdade religiosa, já que cada
qual, ao seu modo, tende a privilegiar suas próprias crenças religiosas.
ENTRE A FÉ E A RAZÃO: UMA
OPÇÃO
Concebemos nossos deuses,
inicialmente, como parte de um conjunto de crenças, consideradas verdadeiras,
denominado: religião. O Cristianismo, por exemplo. Porém, o Cristianismo, assim
como a totalidade das religiões, não se fundamenta na razão científica ou
lógica, ou em evidências físicas, pois, fora de seu conjunto de crenças, não há
nenhum meio lógico, histórico, físico, de conhecimento, além de suas tradições,
que nos leve a acreditar de forma absoluta em um Deus - como foi visto por meio
de suas tentativas de provas. O que condiz plenamente com a experiência
religiosa, já que esta, em última instância, não se fundamenta em nenhuma
demonstração da existência de Deus. De modo que, as convicções religiosas de
forma alguma constituem provas de sua existência, assim como a grande variedade
de crenças religiosas não constituem provas de sua inexistência. Contudo,
parece-me que, nesse sentido, a falta de provas a favor ou contra sua
existência é o fundamento de sua possibilidade, já que se não se pode prová-lo,
também não se pode negá-lo, e vice-versa, pelo menos por meio de provas
racionais convincentes. O que condiz perfeitamente com sua transcendência e com
a idéia da criação do mundo a partir do nada, e da possibilidade de liberdade
de suas criaturas - pois tais provas limitariam ao máximo nossa liberdade.
Contudo, “não adianta
apenas crer, é preciso saber por que se crê”, pois somos também seres
racionais. E uma fé cega é tão perigosa quanto a razão sem sentimentos -
“Algumas pessoas crêem em Deus devido ao que julgam ser uma ‘revelação
interna’. Tais revelações não são sempre edificantes, mas indubitavelmente
parecem reais. Muitos pacientes de manicômios crêem efetivamente que são
Napoleão Bonaparte ou Deus em pessoa. Não há dúvida quanto ao poder que tais
convicções exercem sobre eles, mas não existem motivos para que o resto de nós
acredite nisso.”22 De fato, e embora não se possa provar a existência de um
Deus criador, como foi visto, pode-se concebê-la como provável, o que , por sua
vez, não é contrário a falta de certeza, nem muito menos à razão. Obtendo-se,
assim, uma leve união entre razão e fé, mantendo, deste modo, um certo grau de
racionalidade e objetividade, meios fundamentais para manter a medida do bom
senso. E apesar dos efeitos da fé ter muitas vezes efeito salutar, o que não
quer dizer que sejam verdadeiros. Quanto mais indícios se têm de um fato, mais
este se torna provável. Separando intenções de acaso. O que torna o que foi
dito acima, de extrema relevância. E embora os crentes não considerem suas
crenças em termos de graus de possibilidades. Mas, que condiz perfeitamente com
o conhecimento humano, pois nosso conhecimento em última instância, exceto de
nossa própria existência, é apenas provável.
O que nos leva a
substituirmos a pergunta sobre a existência de Deus, por outra de maior
importância: a idéia Deus ainda faz sentido no mundo em que vivemos? Isto é, é
possível à humanidade viver sem a idéia de um Deus? Parece que não, pois esta
está intrinsecamente ligada à idéia da morte. E pelo menos enquanto esta
houver, aquela será de suma importância, como forma de significação,
explicação, consolação, etc, da condição humana. Tanto na forma de explicação
teísta, como atéia, na forma de ideal humano.
Por isso, não podemos
negar a herança grega, imprescindível à compreensão do mundo e da condição
humana, construída com grande esforço, e limitadora de extremos religiosos. E,
ao negá-la voltaremos às trevas da ignorância e da barbárie. E a possibilidade
de uma volta à idade das trevas, em que a razão é vista como inferior a fé,
torna-se extremamente possível e perigosa.
Assim, após retirarmos as
máscaras de Deus, isto é, as barreiras que se interpõem como formas de
obstáculos ao conhecimento, ou seja, antropomorfismo, maniqueísmo,
fundamentalismos religiosos, mitologia e etc, sobra apenas a possibilidade de
sua presença, o que para alguns é um ótimo começo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário