segunda-feira, 3 de outubro de 2016

DEAD E EURONYMOUS E O FASCÍNIO DA MORTE



DEAD E EURONYMOUS E O FASCÍNIO DA MORTE
O ser humano sempre teve uma profunda curiosidade pela morte. Podemos ver isto estampado nos rostos das pessoas que se juntam para observar acidentes, atropelamentos ou assassinatos, em que corpos estão mutilados em via pública, servindo ao mesmo tempo de motivo de curiosidade e diversão para elas.
Na internet, centenas de sites se dedicam a mostrar, com toda a dedicação, cenas de morte, com cadáveres esmagados, eletrificados, decapitados, esquartejados, esfolados, etc..., enfim, tudo aquilo que possa agradar, saciar, e até divertir, a curiosidade mórbida de seus visitantes.


Muitos destes sites chegam a ter mais visitantes que sites pornográficos. Ou seja, para muitos a morte causa mais interesse que o sexo. Então, não se pode negar que para muitos a morte, e suas cenas relacionadas, despertam um grande interesse.
E como era de se esperar, várias formas de artes, como o cinema, absorveram o interesse pela morte; e a música não ficou de fora; tendo um estilo de música adotado o próprio termo “MORTE” como parte de seu nome: o DEATH METAL (Metal da Morte, em inglês).


Este estilo de música tem a morte como um de seus temas principais, seja presente na maquiagem usada por seus músicos (Corpse Paint), simulando rostos cadavéricos; nas caveiras, corpos em decomposição, assassinos, etc., de suas capas de discos, camisas, nome de bandas etc., e, claro, no tema de sua música. E não é tão incomum que temas ligados a morte, passe da música para a própria vida de seus músicos, se concretizando em mortes prematuras e suicídios. Por isso, uma questão se impõe: haveria no culto a morte presente no DEATH METAL elementos que possibilitassem a passagem de temas de músicas para a vida de músicos e fãs?


DEAD E EURONYMOUS: UM CASO ESCLARECEDOR
Um caso bastante conhecido por envolver assassinato e suicídio foi o que se passou nas frias e civilizadas terras da Noruega, com uma promissora banda: o MAYHEM.


O então vocalista Dead (Morto, em inglês), na verdade Per Yngve Ohlin, era um rapaz estranho, que cultuava a morte; e que vivenciava ao máximo as letras mórbidas das músicas que cantavam. Era descrito por seus parceiros como alguém solitário e melancólico, que estava sempre trancado no quarto, que não se alimentava para poder sentir a dor da fome, e que usava camisetas com anúncios fúnebres; que usava corpse paint (pintura imitando cadáver) mesmo em dias que não eram de shows. Foi um dos primeiros a usá-la.


Dead gostava de enterrar suas roupas antes dos shows, para que ficassem pútridas com insetos e vermes, como a carne de um cadáver putrefato. Nos shows, gostava de autoflagelar-se, e antes das músicas, gostava de cheirar um pássaro morto que guardava em um saco plástico. O cheiro da morte o inspirava. Tanto que foi ao extremo de conhecê-la prematuramente.

   
Em um dia de abril de 1991, Euronymous, o então líder do MAYHEM, ao retornar à casa de ensaios, se depara com uma cena chocante, Dead, havia se suicidado. A faca e a arma usadas continuavam ao seu lado, e um irônico bilhete, que dizia “desculpe pelo sangue”, como relembraria Euronymous, não escondendo sua fascinação em ver um cadáver com o cérebro exposto:
"Nós não temos mais vocalista! Dead se matou há duas semanas! Foi realmente brutal, primeiro ele cortou os pulsos e então ele estourou os miolos com um rifle. Eu o encontrei e ele estava horrível pra caralho, a metade superior de sua cabeça estava por todos os lados do quarto, e a parte inferior do cérebro escorreu pelo resto da cabeça e caiu na cama. Eu, claro, peguei minha câmera imediatamente e tirei algumas fotos, nós vamos usá-las no próximo LP do Mayhem. Eu e o Hellhammer tivemos sorte, porque encontramos dois grandes pedaços de seu crânio e então fizemos colares como lembrança. Dead se matou porque ele vivia somente para o verdadeiro black metal. Quer dizer, roupas pretas, espetos, etc... [...] Eu tenho que admitir que foi interessante examinar um cérebro humano em "rigor mortis".


O disco "Dawn of the Black Hearts", ficou famoso não tanto pela música, mas pela capa, que traz o corpo morto de Dead. Ideia de seu “sentimental” amigo Euronymous que, após o ocorrido, declarou: "Quando Dead explodiu seus miolos, este foi o maior ato de promoção que ele fez para nós. É sempre fenomenal quando alguém morre, não importa quem. Se você pensa que nós somos idiotas emocionais com sentimentos humanos, você está errado!".


Euronymous (Príncipe da Morte), ou mais precisamente Øystein Aarseth, seu nome verdadeiro, teria, anos depois, um trágico fim. Seria morto - após dezenas de facadas, com uma fatal em seu cérebro - por Varg Virkenes, um ex-membro também do Mayhem.
Euronymous, como podemos ver, era outro obcecado pela ideia da morte. Sua alma fria e insensível explorou a morte do amigo como forma de chamar atenção para sua banda, embora alguns contestem isto. Para estes, sua atitude insensível com relação à morte de seu amigo, fora apenas uma reação natural.
 Seja como for, se a frieza e a insensibilidade de Euronymous, perante a morte do amigo, pode ser explicada como uma forma de proteção, a sua extrema curiosidade com relação à morte, jamais poderá ser negada.


VIDA, MORTE E MÚSICA METAL: OS PRÓS E CONTRAS
Como foi visto, a curiosidade pela morte não é exclusiva da música METAL, mas, algo presente no ser humano. O que parece ser algo natural. Pois como presenciar fenômeno tão misterioso, e tão presente ao nosso dia a dia, se não observarmos a morte do outro? É claro que nisso deve haver seus limites que evitem a banalização da morte do outro. Mas quando o culto à morte sai da arte e invade a vida, privilegiando-se mais a morte que a vida, há algo de errado nisso, que pode ser sinal de uma grave depressão, como parece ter afetado Dead, e que o levou ao suicídio. Porém, quando a morte é cultuada apenas na arte, há algo de positivo nisso.
A ideia da morte passa ser tratada como de fato deve ser vista, não como uma apologia à morte, como uma idolatria desta, mas como algo que faz parte da vida, do nosso dia a dia. É um modo de torná-la comum e natural e nos acostumarmos a ela. E quando a arte deixa de abordar a morte de modo simbólico e indireto, é o primeiro sintoma de que há algo de errado nela.


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