MEU MALVADO PREFERIDO:
JASON VOORHEES
As
luzes do cenário se acendem, e o apresentador do programa de entrevista,
sentado atrás de uma mesa, começa a falar para as câmeras:
Mais
uma vez estamos aqui nessa noite para mais um programa “Meu Malvado Preferido”,
onde toda semana uma grande celebridade do crime é entrevistado; e onde você
conhece melhor o seu Serial Killer preferido. Agradecemos nossos
telespectadores e nossa plateia de hoje. Avisamos que os membros de nossa
plateia serão ofertados com os produtos de nosso grande patrocinador, facas e
espetos para churrasco, Dramontina, que possui as facas com os melhores cortes;
e quem já precisou de uma boa faca, bem amolada, naquelas horas, sabe o quanto
isso é importante, não é mesmo? (a plateia grita em alvoroço). Avisamos também
que hoje será sorteado, entre os presentes, um quadro maravilhoso, pintado com
o próprio sangue das vítimas desse fenomenal pintor e Serial Killer, John Wayne
Gacy, o Palhaço Assassino. E lembramos: se você quer ver seu malvado
preferido entrevistado em nosso programa, na próxima semana, mande seu pedido
para o e-mail de nosso programa.
E
como prometido, hoje estaremos entrevistando ele, o maior assassino de todos os
filmes, de todas as séries; alguém que, em seus filmes, já assassinou mais de
258 pessoas, pendurou 85 de seus cadáveres em tetos ou árvores, já levou 435
tiros, foi esfaqueado 106 vezes, levou 20 machadadas e etc., etc., etc. ufa!;
aquele que é o maior inimigo de adolescentes, em plena atividade sexual; uma
alma imortal e atormentada, que hoje, excepcionalmente, tirará sua velha máscara, revelando seu
rosto aos nossos telespectadores. Recebam com aplausos, senhoras e senhores,
Jason Voorheeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeees!
Jason
entra no palco — a plateia delira, com aplausos e gritos histéricos -; fica de
pé, por alguns minutos, segurando um grande facão e, olhando a plateia
histérica à sua frente, põe o facão debaixo do braço e faz coraçãozinho com as
mãos para o público. Depois senta-se no sofá, ao lado de seu entrevistador
encarando-o.
—
Sempre começamos nossas entrevistas com pequenas perguntas para relaxar o
entrevistado, e me parece que hoje é extremamente necessário; eu diria
mortalmente necessário — diz o apresentador enquanto Jason continua o
encarando, face à face, com o facão na mão. — Então vamos a elas:
—
Faca ou revólver? Bem, pelo grande punhal segurado pelo nosso entrevistado,
creio que esta pergunta já foi respondida. Então vamos a próxima pergunta:
—
Uma cor preferida, Senhor Jason?
—
Vermelho saaaaaanguêêêê — balbucia Jason Voorhees, com uma voz cavernosa.
—
Bem, confesso que fiquei indeciso se você escolheria o vermelho sangue ou o
amarelo cadavérico — disse o apresentador, em meio a risadas.
—
Um livro preferido Senhor Jason?
—
“Do... Assassinato... como uma... das belas... aaarteees” — sussurra Jason
Voorhees no microfone, enquanto a plateia bate palmas mais uma vez.
—
Então nosso entrevistado tem interesses filosóficos, hein! E, bom, pelo que
vejo pelos aplausos, também é um livro preferido de muitos que estão aqui (a
plateia se manifesta com euforia). Você então vê, como no livro de Thomas
Quincey, o assassinato como uma forma de arte?
—
É isso aí. É como eu sempre digo: um Serial Killer não é apenas um assassino.
Por trás de um Serial Killer há sempre um grande artista querendo se expressar,
descontruir, digamos, o corpo humano. É ou não é pessoal? (a plateia se
manifesta por meio de gritos e o som produzido pelas batidas dos pés no chão).
—
Falando nisso Senhor Jason, vemos que há certa evolução nos assassinatos em
seus filmes; há uma crescente complexidade no modo preciso e artístico dos
esquartejamentos de suas vítimas. Então podemos crer que isso se deve ao seu
aprimoramento artístico?
—
Tem havido também uma grande evolução em sua tão famosa máscara; iniciando com
um simples saco de pano e evoluindo para as famosas máscaras de hóquei; e
vendo-a, podemos afirmar que você é um grande fã do time Detroit Red Wings. E a
fama delas é tão grande, que alguns dizem que tem até sandálias imitando-a
(Jason confirma balançando a cabeça).
—
Chegamos agora a fase mais fofa de nosso programa: OS SERIAL KILLERS TAMBÉM
AMAM — grita o apresentador, enquanto a plateia se manifesta com assobios.
—
Sabemos que sua vida não tem sido fácil, Senhor Jason. Uma criança que sofreu
bulling por ter o rosto desfigurado, e que foi morta afogada no acampamento de
Crystal Lake, enquanto aqueles que deviam lhe proteger estavam fazendo sexo;
daí seu ódio por adolescentes com hormônio sexual à flor da pele; mas lembraremos
agora daquela que lhe amou e a única pessoa que você já amou na vida, sua mãe Pamela
Voorhees, que foi decapitada, em um ataque de fúria ao se vingar pelo afogamento
de seu filho, e que teve, carinhosamente, sua cabeça guardada por seu filho.
Nessa
hora Jason parece se emocionar, levando as mãos aos olhos, e, após, abraçando o
facão contra o peito. Em seguida, as fotos de sua infância e de sua mãe são
mostradas em uma tela no palco.
Acima, Pamela e Jason Voorhees |
Momento do Afogamento de Jason em Crystal Lake |
—
E agora Jason Voorhees veja quem vem lhe dar um grande abraço!
Nesse
momento, Jason levanta com o facão em punho quando vê quem está se aproximando.
Nada mais nada menos do que um famoso desafeto seu, Freddy Krueger.
Jason então
corre armado com o facão em punho em direção a Freddy; um silêncio aterrador
paira sobre o estúdio; a tensão está nos olhos de cada pessoa da plateia; é
quando Jason se aproxima ao máximo de Freddy Kruegger, jogando o facão ao chão
e abraçando-o; a plateia vibra, com aplausos e lágrimas. Ele, finalmente, havia
perdoado seu arque inimigo.
Agora,
senhores e senhoras, após tantas emoções hoje, chegamos ao que prometemos, o
senhor Jason Voorhees irá tirar sua máscara, revelando sua verdadeira
identidade.
Um
longo repique de bateria soa, dando, com sua sonoridade, suspense ao grande
evento. Jason se aproxima do meio do palco, leva a as mãos sobre sua máscara e
tira-a, revelando outra máscara, mais moderna que usará em seu novo longa, dizendo:
—
Eu disse... que iria... tirar minha velha... máscara mas... não a nova,
hehehehehehe...
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