Novamente “50 Tons de
Cinza” está em evidência. Desta vez não em forma de livro, mas de filme. E mais
uma vez, assim como no lançamento do livro, há uma nova corrida aos sex shops,
com a novidade de que, no caso da Inglaterra, cresceu muito a quantidade de
acidentes domésticos envolvendo brinquedinhos eróticos após o lançamento do
filme; e também uma intensificação maior de protestos de feministas e
conservadores contra a história da autora britânica E. L. James.
O romance picante entre Anastasia
Steele e Christian Grey teve uma grande suavizada nas telonas, sem nu frontal,
com cenas extremamente leves de um sadomasoquismo quase infantil, com a
protagonista levando algumas palmadinhas no bumbum por mal comportamento; e o
que já era chamado de “pornografia para esposas entediadas”, recebeu novas
críticas de mulheres experientes no manejo de um bom chicote, como a cantora Madonna que certa
vez afirmou sobre o livro "talvez ele seja sexy pra quem nunca fez
sexo".
Como no livro, o filme começa
com Anastasia Steele (Dakota Johnson), uma garota, tímida, virgem e vestindo
roupas sem graça, substituindo uma amiga em um trabalho da faculdade de
jornalismo e, assim, tem a missão de entrevistar Christian Grey (Jamie Dornan).
O rapaz é um bilionário bonitão, jovem, de corpo malhado e olhar penetrante. Em
poucos minutos, e sabe-se lá por quê, a mocinha sem graça se torna objeto de
desejo do partidão cobiçado — trama que remonta aos primórdios de Cinquenta
Tons, nascido como fanfic da puritana saga vampiresca Crepúsculo, na qual a
menina de baixa autoestima Bella vira alvo do garoto mais desejado do colégio,
o vampiro Edward.
O desejo de Grey por
Anastasia cresce ao ponto de proporcionar outros encontros entre o casal,
culminando na troca de beijos, e o interesse por parte de Anastasia por conhecer
desejos mais íntimos de Grey. É quando Christian Grey mostra a ela um quarto
especial onde ele guarda seus “brinquedinhos” eróticos. Anastasia então revela
a ele que ainda é virgem, o que o leva a manter relação sexual com ela à moda
antiga. Quando o romance entre os dois engata, ele propõe a tímida Anastasia um
contrato de submissão e segredo, que faz com que a jovem descubra um mundo de
prazer por meio de atividades sadomasoquistas.
A direção do filme ficou
a cargo de Sam Taylor-Johnson, uma diretora competente, assim como os atores
que interpretam os protagonistas, e se a grande questão por parte dos fãs do
livro era se os atores encarnariam bem os personagens, posso lhes dizer que a
química entre Dakota Johnson e Jamie Dornan funcionou perfeitamente.
O filme possui defeitos que
se deve a própria história do livro com personagens superficiais e com a imposição
de E. L. James em querer que o filme fosse fiel ao livro, gerando algumas vezes
discussão entra diretora e a autora, detentora dos direitos autorais do livro, fazendo
com que o filme não trouxesse novidades além de algumas ironias e um pouco de
humor nos diálogos.
Mas o que me chamou mais
atenção tanto no filme quanto no livro é que estes retratam uma espécie de
conto de fadas com pitadas sadomasô. É a releitura moderna do príncipe
encantado, bonito com um porte atlético, que chega não em um cavalo branco para
realizar os sonhos da mocinha mas em um potente carro esporte, ou pilotando um helicóptero.
E como nos contos de fadas é gritante a inverossimilhança da história com a
realidade — certamente razão do estrondoso sucesso tanto dos contos de fadas
quanto do famoso romance, possibilitando as leitoras esquecerem por alguns
momentos as frustrações e tédio de suas vidas diárias, embarcando nas
realizações de Anastasia Steele. Inverossimilhança que está bem patente na
ausência de deslumbramento da ingênua Anastasia pela estrondosa riqueza de seu
par, como se a autora quisesse mostrar que esta não é uma mulher interesseira,
apesar dos caros presentes ofertados por Grey e aceitos por ela; porém a
riqueza de Christian Grey é fundamental para o sucesso da fantasia, é
impossível não levá-la em consideração, tanto no livro quanto no filme. Nesse
momento não podemos evitar perguntar se a história de Anastasia teria o mesmo
fascínio se Grey fosse um homem pobre ou da classe média. E sendo os
personagens de 50 Tons de Cinza baseados no romance Crepúsculo, eu diria que a
riqueza de Grey corresponde aos poderes sobrenaturais do vampiro Edwald, poderes
também fundamentais para o fascínio da saga vampiresca. Em suma, lendo ou
assistindo a 50 Tons de Cinza ficamos com a sensação de que apenas os atributos
de beleza ou o bom caráter de um homem não são suficientes para fascinar muitas
mulheres.
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