segunda-feira, 7 de agosto de 2017

O CÃO FANTASMA DO PALACETE BOLONHA


O CÃO FANTASMA DO PALACETE BOLONHA
— Adoro estes casarões sombrios e antigos — disse Leila, contemplando o velho Palacete Bolonha, sob um céu tomado por nuvens cinzas que conferia ao antigo palacete um ar ainda mais sombrio. — É como se houvesse algo de mágico neles, que me atrai profundamente; como se suas paredes quisessem contar histórias medonhas sobre seus antigos moradores; todos mortos agora. Veja, chega a arrepiar os pelos do meu braço!
Nesse momento, a fina chuva da tarde volta a cair, lhes obrigando a entrarem no hall de entrada do velho palacete.

— Quantos risos de felicidade não testemunharam essas paredes frias; e quantos segredos blasfemos não foram ditos por traz destas belas portas; e quantas tristes lágrimas não caíram sobre este chão de belo piso! — Leila continuava a falar e a observar atentamente o ambiente, desta vez, o luxuoso interior do hall de entrada, em meio a dezenas de pessoas que aguardavam o início do concerto.

 
— Falando nisso, você viu?
— O quê, Leila? — perguntou Leon.
— O cão negro desenhado em pastilhas no piso, logo na entrada.
— Aquele com a inscrição "Cave Canen" ao lado?
— Sim.
— Trata-se apenas de um modo criativo de avisar aos visitantes "cuidado com o cão".
— Mas em latim!
— E por que não? As pessoas eram cultas naquela época, Leila.
— Latin é uma língua morta, que era falada por pessoas hoje todas mortas; latim é a língua dos mortos!
— Ah, lá vem você com essas histórias; já me basta o medo que eu sentia, quando menino, ao passar em frente a esse casarão antigo como se vultos negros estivessem a me espreitar por trás de suas vidraças. E não esqueça que viemos não para passear em um parque fantasma mas para um concerto.
— Ora, ora, Leon, deixe de ser um borra-botas; isso não condiz com suas roupas negras como um poeta sombrio do século XIX. Mas, enfim, estando aqui neste antigo casario, faltando ainda alguns minutos para o início do concerto, sinto-me inspirada a contar-lhe uma história que envolve este antigo palacete e suas paredes frias.
— Tá bom Leila, conte-me então mais uma de suas preciosas histórias.
— Contam os mais velhos que há bastante tempo os jornais de nossa cidade noticiaram em suas primeiras páginas  algo assustador:

"Dois corpos foram encontrados estraçalhados no bairro da Campina, entre a Praça da República e o bairro do Reduto, próximo de onde estamos. Os corpos, literalmente, haviam sido triturados e partes deles espalhados em frente de casas e pendurados em fios da iluminação pública, em um raio de 300 metros; uma verdadeira visão dantesca do inferno!".

Três semanas atrás deste ocorrido, os jornais também haviam noticiado que um outro corpo havia sido encontrado nas mesmas condições e mediações da cidade, porém com menos estardalhaço.

Logo este caso fora apontado como obra do mesmo assassino, já que o procedimento parecia ter sido o mesmo: Os cadáveres não possuíam marcas de tiros, ou ferimentos por objetos cortantes. Pareciam, incrivelmente, que seus corpos tinham sido rasgados e mastigados por dentes poderosos, como os de crocodilos ou leões.
— Crocodilos ou leões?!, que absurdo, Leila!
— Era o que pensava a população da época. Sei que não há jacarés e muito menos leões em nossas ruas. Então quem teria sido capaz de ter cometido atos tão desumanos, se perguntava a população alarmada!

Por um momento chegou-se a especular que tais mortes poderiam ter sido provocadas por acidentes em circos, e despistadas daquele modo. Mas não havia por esse período nenhum circo na cidade, e quem que quisesse despistar mortes desse tipo não se daria ao trabalho de espalhar partes de cadáveres por ruas e casas facilitando por esse modo ser facilmente descoberto. Não parecia mesmo ser provável.

Verificou-se então que os dois corpos encontrados pertenciam a Moacir Botelho Pinto, 25 anos, e Tadeu Armando Pinto, 52 anos. Dois irmãos que praticavam pequenos furtos, roubando quintais e pátios de casas da região. E que teriam sido mortos durante a madrugada, incluído o primeiro cadáver, não tendo sido identificado ainda hoje. Porém, suspeita-se ter sido de um andarilho que frequentava as adjacências. E mesmo com todo afinco das autoridades, nenhuma pista fora encontrada que levasse a desvendar tão grande mistério. Até que um novo crime se sucedeu após um mês dos ocorridos, sendo novamente estampado nas páginas dos vespertinos de nossa cidade as novas barbaridades.

Um homem conhecido apenas por José, havia sido, como os demais, brutalmente assassinado, trazendo pânico novamente para nossa cidade, que se sentia a cada dia mais acuada e indefesa, com pessoas evitando a todo custo sair à noite. Instalando-se, desse modo, algo como um toque de recolher espontâneo em nossa cidade. Foi quando algo inesperado aconteceu, trazendo pitadas sobrenaturais a nossa, por si só, assustadora história.
Uma velha moradora, de nome desconhecido, fora até o pároco de nossa cidade e relatou a este, o que teria ouvido de sua avó no tempo que esta trabalhou como empregada no velho Palacete Bolonha.

Dizia ela que todas as noites, a figura de um cão negro desenhado no piso da entrada do belo prédio se tornava real e montava guarda contra ladrões que tentavam invadir tal imóvel; e que tudo que teria que ser feito para que não ocorresse novos incidentes era que o patrimônio fosse melhor cuidado e protegido, para que evitasse ser novamente roubado, pois havia sido dado como um presente de amor entre seu criador, Francisco Bolonha, à sua esposa, Alice Tem-Brink, e que o cão negro representava o vínculo de seu amor eterno, confirmado em um misterioso ritual que reunia forças ocultas.

Embora tal relato fosse difícil de ser creditado, o fato é que combinava com relatos de moradores que tinham ouvido uivos e visto um grande cão negro a passear pelo bairro. E após o prédio ter sido protegido e reformado, nunca mais se repetiram os terríveis assassinatos.

[Esta é uma Obra de Ficção, Protegida por Direitos Autorais. Escrita por Bosco Silva].


Alice Tem-Brink e Francisco Bolonha




Leia esta História em sua Forma Original:


O romance Após a Chuva da Tarde está sendo publicado de forma independente.

Ficha Técnica:

Título: Após a Chuva da Tarde - A Lenda do Cão Fantasma do Palacete Bolonha

Autor: Bosco Chancen

Editora: Uiclap

Especificações: 284 páginas, 16x23 cm; brochura

Site de Compra: https://loja.uiclap.com/titulo/ua13930/

Para mais informações: bozco3535@gmail.com 

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