quarta-feira, 14 de agosto de 2019

"MALLEUS MALEFICARUM", O SANGRENTO LIVRO SOBRE BRUXARIA E DEMONOLOGIA

"MALLEUS MALEFICARUM", O SANGRENTO LIVRO SOBRE BRUXARIA E DEMONOLOGIA 
Se alguém lhe pedir para descrever a aparência de uma bruxa, com toda certeza você irá lembrar de alguma cena de desenho animado infantil, ou algum filme baseado em contos infantis, que contenha a figura da bruxa, para descrever a bruxa como uma mulher de nariz grande, curvado para baixo, que usa uma vassoura para voar e um enorme caldeirão para cozinhar suas poções mágicas. Hoje, o estereótipo da bruxa é tratado como inofensivo personagem infantil. Mas houve uma época que isso era levado a sério, muito a sério, ao ponto de ter levado milhares de mulheres, (também homens) acusadas de bruxaria a ser queimadas em fogueiras em praça pública.



E um terrível livro escrito por dois monges católicos se tornou num verdadeiro manual de caça às bruxas, responsável por levar milhares de mulheres acusadas de bruxaria à morte: o Malleus Maleficarum, ou em português, Martelo das Bruxas.



O Malleus Maleficarum foi escrito em 1486, por Jacob Sprenger e Heinrich Kramer, dois experientes padres na arte de identificar e torturar as discípulas do demônio, como então eram conhecidas as bruxas.

O livro se dedica a identificar a bruxa, o pacto com o demônio, os malefícios provocados pela bruxaria na comunidade, como obter a confissão delas, por meio de chantagens, mentiras e torturas físicas e psicológicas, e a como proceder durante seus julgamentos, e claro, a melhor forma de matá-las, seguindo o tradicional: “Queimem a bruxa”.



No livro, as bruxas são tidas como as responsáveis por colheitas ruins, pragas, infertilidade de mulheres e animais domésticos, envenenamentos, chuva de granizos, etc. Se um homem não conseguia engravidar sua mulher, ou se sentia cansado, impotente, para os deveres matrimoniais, ou se o leite da vaca secou, ou se tornou azedo, era o suficiente para a acreditarem que devia haver alguma serva de Satã pela vizinhança, escondida por entre a cristandade. Tudo era motivo para condenar alguém só porque não concordou com o sermão do padre pela manhã, ou deixou de ir um domingo para a missa na igreja, ou que usasse misteriosos chás de ervas para amenizar sua dor de estômago.



Raptos de recém nascidos também eram tidos como causados por bruxaria, em que os bebês eram usados para serem cozinhados, e com sua gordura, eram untadas suas vassouras que ganhavam poder mágico como o poder de voar, meio com que se locomoviam para os Sabás,  nome dado às reuniões de bruxas para cultuarem satã; em geral eram reuniões que aconteciam escondido nas florestas sob a luz da lua.

É incrível o fato de que se o leitor de hoje ler o Malleus Maleficarum as descrições da bruxa contidas no livro lhe parecerá extremamente familiar, pois está tudo lá: seu caldeirão, sua vassoura, suas poções mágicas, seu familiar (nome dado aos animais de estimação das bruxas), tais como gatos, sapos etc., em que supostamente o diabo encarnaria. Mais incrível ainda é ver como a mentalidade das pessoas mudaram: se antes a crença em bruxas causava pânico e a morte da infeliz, hoje, são vistas como inofensivas personagens de desenhos animados, de Halloween, ou apelido de deboche para sogras. Porém, naqueles tempos de total ignorância e absoluto poder da igreja católica, a crença em bruxas era levado muito a sério pela igreja. O papa Inocêncio VIII, por meio do documento Summis Desiderantes Affectibus, de 1446, criou uma verdadeira luta contra a bruxaria em todo mundo cristão, e deu a Jacob Sprenger e Heinrich Kramer, e ao Malleus Maleficarum, total poder para identificar, prender e julgar qualquer pessoa acusada por bruxaria, com maior poder do que as autoridades locais. Logo o Malleus Maleficarum estava na cabeceira de todo juiz e padre local.

Com base em passagens bíblicas e nos escritos de pensadores gregos, como Aristóteles, e famosos teólogos da igreja, como São Tomás de Aquino e Santo agostinho, o Malleus Maleficarum ensinava a identificar as bruxas por meios de manchas em suas peles, que poderia ser um simples sinal de nascimento, cicatrizes de queimadura, mas que poderia ser visto como o sinal do pacto com o Diabo. Uma de suas passagens ensina como arrancar a confissão da acusada de bruxaria:
Se nem as ameaças nem as promessas a (bruxa) levam a confessar a verdade, então os oficiais devem prosseguir com a sentença, e a bruxa deverá ser examinada, não de alguma forma nova ou estranha, mas da maneira habitual, com pouca ou muita violência, de acordo com a natureza dos crimes cometidos. (...) E notar que, se confessar sob tortura, deverá ser então levada para outro local e interrogada novamente, para que não confesse tão-somente sob a pressão da tortura. Se após a devida sessão de tortura a acusada se recusar a confessar a verdade, caberá ao juiz colocar diante dela outros aparelhos de tortura e dizer-lhe que terá que suportá-los se não confessar. Se então não for induzida pelo terror a confessar, a tortura deverá prosseguir no segundo ou no terceiro dia”.

Para entendermos o porquê do sucesso do Malleus Maleficarum, devemos ter em mente que a conversão do mundo pagão ao Cristianismo não se deu de imediato nem de forma pacífica. Muitas pessoas não queriam deixar seus deuses antigos, pagãos, para abraçar uma nova religião; e muitos mesmo convertidos à força ao Cristianismo ainda mantinham suas crenças pagãs em suas divindades, levando-os a cultuarem seus deuses antigos escondidos, nas florestas, longe de olhos que poderiam denunciá-los à igreja. O que era agravado com a política de demonizar deuses pagãos e castigar aqueles que não compartilhavam das mesmas ideias e crenças da igreja.  Assim se alguém era visto a praticar algum ritual diferente dos rituais da igreja, ou a cultuarem tradições e deuses diferentes, eram imediatamente associadas ao demônio e a bruxaria.



O Malleus Maleficarum foi um livro bastante usado pela igreja católica durante o período da inquisição, aliás, foi escrito para ela, para este monstruoso movimento que condenava à morte pessoas que possuíam crenças diferentes do Cristianismo católico ou não participavam dos rituais da igreja. Este livro foi responsável por centenas de milhares de mortes na fogueira, de pessoas tidas como bruxa ou por terem feito supostos pacto com o demônio, embora nada de demoníaco possuísse deuses pagãos.

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