"PRA QUEM ACREDITA EM FANTASMAS": ENTREVISTA COM O ESCRITOR DINO MENEZES
A literatura de terror é, sem dúvida, uma das mais difíceis formas de escrita, já que o autor, contando apenas com palavras e a imaginação do leitor — diferente do cinema cheio de recursos de sons e imagens —, busca prender o leitor em uma atmosfera de suspense e mistério, transformando o medo em diversão. Por outro lado, há também autores que veem nas histórias de terror algo mais do que apenas diversão, e sim um meio disfarçado de mostrar aos leitores suas crenças religiosas e esotéricas, sobre um mundo obscuro que se esconde por trás do véu da realidade. Tal qual o escritor Arthur Machen, com seu famoso O Grande Deus Pã, que levou para sua literatura de terror conhecimento ocultista, aprendido e praticado em sociedades secretas ocultistas, como a ordem hermética vitoriana da GOLDEN DAWN.
Talvez seja nesse contexto que se insere Dino Menezes, com seu livro que traz o sugestivo título Pra Quem Acredita em Fantasma.
O livro traz uma seleção de lendas, casos e relatos fantasmagóricos colhidos de diversas regiões de nosso país, e apesar de seu título, pode ser de leitura interessante mesmo para aqueles que não acreditam em fantasmas.
Casos:
O Macabro Crime da Mala e o Fantasma da Mulher Grávida do Porto
Conta a história do mais famoso crime ocorrido no Brasil, acontecido na década de 1920. Em que um corpo desmembrado de mulher, com seu feto exposto, fora encontrado em um baú em um barco que iria para a Itália. O crime, que se tornou o mais popular homicídio em nosso país antes do aparecimento de crimes feitos por serial killers brasileiros, teria sido cometido pelo marido. Segundo relatos, o fantasma da mulher ainda assombra o porto de Santos.
O Local Amaldiçoado: Crime do Poço e o Incêndio do Edifício Joelma
O incêndio do Edifício Joelma, ocorrido em 1974, foi um dos piores incêndios acontecido em local público do Brasil. A TV acompanhou todo o drama, com pessoas se jogando de sua altura, ou desesperadas na cobertura do prédio, correndo das chamas e fumaça, sendo queimadas vivas. O curioso é que alguns anos antes da construção do prédio, um acontecimento terrível havia acontecido no mesmo local; o caso do filho que havia matado a mãe e as irmãs, e jogado seus corpos em um poço preparado para o crime. Um bombeiro também morreu, contaminado pelos cadáveres em decomposição durante o resgate dos mesmos. Passado vários anos depois das tragédias, no novo edifício feito no local ainda dá origem a relatos de fantasmas e fatos assombrosos.
Espírito de Jack, O Estripador, se Comunica com uma Médium no Brasil
Este título relata um fato curioso. Após cessar as mortes de prostitutas cometidos em 1888, em Londres, e atribuídas ao mais famoso serial killer, Jack, o Estripador, assassinatos semelhantes ocorreram na Vila de Paranapiacaba, interior de São Paulo. Teria Jack vindo para o Brasil, já que nesse período a vila teria sido construída por operários ingleses da firma inglesa contratada para a construção da ferrovia que ligaria o porto de Santos com demais localidades? A curiosidade aumenta ainda mais quando um médium recebe o espírito do médico inglês que havia morado na região, e que assumiu os crimes e contou detalhes sobre os mesmo.
Estes são alguns títulos de um total de 21 casos contado no livro Pra Quem Acredita em Fantasmas.
Abaixo, uma pequena entrevista que o blog BORNAL fez com seu autor, Dino Menezes.
BORNAL: O título de seu livro, Pra Quem Acredita em Fantasma, dá a ideia de que seu livro tem como público-alvo pessoas que acreditam no sobrenatural. Para você é importante que seus leitores acreditem em fatos paranormais para ler o livro?
DINO MENEZES: Não, de forma alguma. Os leitores podem ler como uma boa ficção; a intenção do título do livro é exatamente gerar curiosidade até para os que não acreditam. Tanto é, que recebi o retorno de pessoas de várias idades, dos 12 aos 85 anos, e de diversas crenças também. No próprio livro, inseri esse feedback das pessoas que vieram a interagir com uma parte das histórias quando divulguei pela internet. Ali, é possível perceber a variedade do público e dos que inicialmente não acreditam e começam a se questionar quanto ao assunto.
BORNAL: Qual o critério que você usou para selecionar as histórias para o livro?
DINO MENEZES: Depois de uma viagem para Paranapiacaba, comecei a pesquisar as lendas de terror e usei o caminho da antiga São Paulo Highway, que vai da cidade de Santos até Campinas, ligando as crônicas, que são baseadas em fatos reais, pelos trilhos da antiga ferrovia.
BORNAL: Você acredita que há uma conexão entre escritores de histórias de terror e a crença no sobrenatural?
DINO MENEZES: Pode haver ou não, dependendo de cada escritor. Mas a curiosidade e a inquietação sobre o tema tem que haver. A curiosidade, a imaginação, o medo... principalmente o medo nos faz viajar. Atualmente, tenho lido livros espíritas para entender melhor o assunto, que é tão complexo quanto desconhecido para alguns.
BORNAL: De todos os relatos e lendas que você catalogou, qual a que lhe impressionou mais e qual o motivo?
DINO MENEZES: O incêndio no edifício Joelma, pois quando eu era criança, assisti aquele terror todo ao vivo pela televisão. A história e as imagens ficaram marcadas em mim. E durante as pesquisas e ao escrever o livro, revivi toda a tragédia que marcou a minha infância.
BORNAL: Você passou por alguma experiência que você classificaria como sobrenatural?
DINO MENEZES: Algumas coincidências aconteceram enquanto eu escrevia o livro. Acho que cada pessoa reage de uma forma diferente ao sobrenatural, dependendo de suas capacidades para sentir. Alguns veem, outros sonham, mas ocorre para quem tem sensibilidade. No meu caso, acho que consigo sentir as histórias e transportá-las em sua maioria para o papel, respeitando os espíritos e também entregando um pouco da minha sensibilidade ao escrever sobre esses seres quando consigo manter uma ligação aos personagens sem o preconceito às suas atitudes.
BORNAL: Seu interesse por lendas e relatos sobrenaturais é motivado por alguma crença religiosa?
DINO MENEZES: Não sou religioso, fui muito pouco a igreja, venho do teatro e trabalho com cinema. Então a minha ligação com as histórias é uma forma artística de me expressar. E, contar histórias é a minha paixão não importando o meio.
Nasci em Belém do Pará, morei no Edifício Manoel Pinto, que tem diversas histórias assombradas. Depois fui morar em frente ao Cemitério da Soledad, onde meus irmãos me contavam histórias de terror. E ainda nesta época, no caminho da escola, passava em frente ao Palacete Bolonha, que é tema de uma das histórias do meu próximo livro que fiz em parceria com Bosco Silva, o qual me entrevista, rs. Enfim, essas experiências na infância me fizeram ter interesse e escrever sobre Terror.
BORNAL: O que você pensa sobre toda essa onda de conservadorismo, estimulada por políticos evangélicos, que tendem a censurar e desestimular filmes, livros, com temáticas de sobrenatural, terror?
DINO MENEZES: Cada um que tenha seu ponto de vista, goste ou não de algo, temos que respeitar isso, ter o livre arbítrio para escolher o que fazer (Ler). O fundamental é liberdade de expressão, e a liberdade de expressão é inalienável. Tem que ter filme de Prostituta, como também tem que ter filme de Igreja. Tem que se produzir todos os gêneros, e consome quem quiser. Dou esse exemplo, mas serve para todas as categorias artísticas. O perigo oculto do conservadorismo, é que começam censurando a arte, depois queimam livros, daqui a pouco estarão matando gente. Já vimos isso acontecer antes e temos que aprender com a história. Temos que ficar atentos !!
BORNAL: Você tem se sentido prejudicado com a política conservadora do novo governo?
DINO MENEZES: Muito prejudicado. A agência reguladora do cinema, ANCINE, a área que atuo, está sendo sucateada e está parada. Mais de 400 produções estão burocraticamente paralisadas atualmente no Brasil. Desde o ano passado, tento registrar um documentário e não consigo, não tenho resposta. A atuação desse governo é um desastre, um grande retrocesso a cultura e a arte brasileira. Mas vamos continuar a luta pela arte e pela liberdade de expressão!
Dino Menezes
Produtor Audiovisual e diretor, Dino Menezes trabalha com o Cinema, a literatura e o Teatro, montando Peças Teatrais, Curtas-metragens, Documentários e Performances. Ganhador de inúmeros prêmios na Baixada Santista e no Estado de São Paulo, participou de Festivais de Cinema no Brasil e no Exterior. Artista multimídia, Dino Menezes transita entre o cinema, a fotografia, a literatura e o Teatro, desenvolvendo a sua arte livre, com mais de 30 prêmios nesses segmentos. Produz a Mostra Cine Debate e a Mostra Marginal de Cinema Santista.
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Blog de Dino Menezes: https://medium.com/@dinomenezesii