AFINAL, QUEM É A MISTERIOSA MULHER DA FOTO ANTIGA?
Recentemente um texto escrito para divulgar o livro “Após a Chuva da Tarde - um Romance Gótico Amazônico” viralizou na internet, chegando a milhares de compartilhamentos, extrapolando os limites das redes sociais, transformando-se em vídeos e matérias de jornais. O texto mostrava uma foto antiga de uma bela mulher vestida ao modo do século XIX. Logo associaram a foto a personagem do romance, Camille Monfort — uma cantora lírica que vivera de 1869 a 1896, e que ao vir para Belém do Pará, era vista, seminua, a se refrescar durante a chuva da tarde — algo impensável para uma dama da sociedade —, e por suas crenças, espírito livre, para uma mulher de seu tempo, e hábitos noturnos, fora associada ao vampirismo.
Montagem Tirada do Jornal No Amazonas é Assim |
Críticos logo se levantaram, disseram que alguém com o nome de Camille Monfort jamais havia cantado no Theatro da Paz, durante sua suposta estadia, em 1896, mesmo que no livro citado seja dito que nem sempre ela usara o mesmo nome; disseram também que a foto não poderia ser dela, já que esta trazia a marca de um estúdio fotográfico inglês, Elliotte & Fry, que fechou em 1901, devido a um bombardeio, e que o nome real da moça havia se perdido para sempre em meio aos escombros da explosão.
Discordaram também que ela pudesse ter sido enterrada no belo Cemitério da Soledade, já que este havia fechado em 1880, portanto 16 anos antes do suposto enterro da cantora lírica. Estes esquecem que os mausoléus continuavam a receber seus ricos cadáveres, e que a regra geral, só valia para os desvalidos. Ah, até na morte os ricos têm seus privilégios!
Já para os mais imaginosos, a bela moça da foto seria Caroline M. Bell, uma viajante do tempo, que ostenta em suas mãos um iphone — algo inconcebível para sua época. Segundo essa mesma fonte, sua foto fora achada durante a reforma do antigo Hotel Nanau, em 1970, em meio a um diário, provavelmente escrito, a contar por suas anotações, por Floyd Treible Manau, pertencente a família proprietária do hotel, escrito entre 1901 e 1902, que, além de cartas e poemas dedicados à jovem da foto, por quem se apaixonara, anotou também no diário informações sobre mudanças de costumes no mundo e novos objetos tecnológicos descrito por Caroline, e que ocorreria somente em décadas futuras — inconcebíveis para sua época.
Acima, Páginas do Misterioso Diario e a Capa com a Inscrição "Chérie" (Querida em Francês) |
Portanto, de um lado temos uma suposta vampira, do outro, uma viajante do tempo, e em meio a isso, uma foto perdida de uma bela mulher que ninguém sabe ao certo o nome.
Mas, na verdade, a identidade de vampira e de viajante do tempo, não se excluem mutuamente, podendo realmente se tratar da mesma pessoa, ou quem sabe da mesma personagem.
Fotos Autênticas dos Estúdios Fotográficos Elliotte & Fry |
Mas a verdade é que a moça da foto jamais existiu, ela é o resultado do banco de dados e dos frios processos do Midjourney, um programa de inteligência artificial que cria belas imagens, incluindo imagens de pessoas que nunca existiram, que fora anexado às páginas de antigos documentos reais vendidos pela internet, e tudo montado por Philipe Kling David para um de seus contos sobre uma viajante do tempo, chamada de Caroline M. Bell, que fora também usado como ilustração para meu texto de divulgação do romance “Após a Chuva da Tarde”.
May Sinclair |
É impressionante como a imagem de alguém que nunca existiu é capaz de causar tanto interesse e sentimentos no público. Talvez pelo fato de que, assim como a inteligência artificial cria imagens por meio de partes de imagens reais existentes — de rostos humanos reais —, que evoca em nós comparações com alguém que nós conhecemos, por isso, certa familiaridade, a história de Camille Monfort, é também composta de fatos reais, um composto das histórias e vidas de mulheres que desafiaram seu tempo, como a da francesa Sarah Bernard (1844 - 1923), atriz e dançarina francesa, que, de espírito livre, escandalizou os mais conservadores de seu tempo por sua inteligência e talento, e da escritora inglesa May Sinclair (1863 - 1946), membro da Liga Sufragistas de Autoras, membro também de uma das primeiras clínicas a oferecer treinamento psicanalítico na Inglaterra e também da Sociedade de Pesquisa de Fenômenos Psíquicos e Paranormais de Londres, cuja a novidade das materializações espirituais, causava preconceito na sociedade, não raro, criando nomes ofensivos aos seus praticantes, que eram comumente chamados de bruxas, necromantes e também vampiros; soma-se a isso, os hábitos extravagantes de Sarah Bernard, que gostava de passear por Paris com um chapéu que exibia ao alto um morcego empalhado e seu frequente hábito de dormir em um caixão que também era usado em suas apresentações.
Sarah Bernard |
Mas, ao julgar pelos fatos, quantas Camilles Monfort não existiram, que se impuseram por sua inteligência e talentos próprios, e a personagem do livro tem um pouco de todas elas.
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