RESENHA DO LIVRO “APÓS A CHUVA DA TARDE” (por Timoty Reichenbach)
O romance Após a Chuva da Tarde, do paraense Bosco Chancen, veio como uma agradável chuva de verão trazendo vida nova a uma terra árida e estéril de criatividade e inovações como tem sido as histórias atuais de vampiros, que parecem repetir, ad infinitum, a mesma fórmula.
Após a Chuva da Tarde rompe com estereótipos e traz inovações às crônicas vampirescas, a começar pelo ambiente, que tem como cenário a Amazônia, mais precisamente a cidade de Belém — capital do estado do Pará. E torna-se mais singular ainda quando vampiros londrinos passam a conviver, lado a lado, com personagens de mitos amazônicos, tais como a Princesa do Mayandeua, ou as terríveis matintas pereiras, ou ainda compartilham maldições com personagens de lendas urbanas da cidade de Belém, como a lenda de Josephina Conte, a famosa Moça do Táxi, que é um dos personagens do romance.
Outra inovação fundamental do referido romance, pela primeira vez um romance de vampiro torna-se um Romance Histórico, tendo como pano de fundo a Belle Époque amazônica (1870), período importante em que cidades da região se tornaram ricas exportadoras de látex, tendo como modelo de urbanização cidades importante da Europa; tal período ficou conhecido como Ciclo da Borracha, quando o látex extraído das seringueiras era a matéria-prima dos pneus dos automóveis, exportada para o mundo todo, enriquecendo fazendeiros, da noite para o dia, fazendo da cidade de Belém o centro cultural da Amazônia e do Theatro da Paz palco para grandes artista que desafiavam a selva amazônica para mostrar sua arte.
Palacete Bolonha |
O referido romance também toma como personagens personalidades históricas e misteriosas da cidade de Belém que deram origem a lendas urbanas ainda conhecidas na região — um desses é o famoso engenheiro Francisco Bolonha e seu misterioso palacete, que no romance torna-se mais que apenas um dos cenários da trama, mas se tornando um verdadeiro personagem; e muitos outros.
Por último, não posso deixar de comentar sobre a escrita do autor, que usa dos cinco sentidos para descrever as paisagens da Belém antiga; descreve o cheiro das suas ruas dos anos de 1930, como se estivéssemos a passear pelo Largo da Pólvora (Praça da República), o Boulevard da República (hoje, Boulevard Castilho França), ou ainda nos leva a nos sentir nos famosos saraus do Palacete Bolonha, na primeira metade do século XX.
Mas vamos a uma breve sinopse do romance:
Na Amazônia, uma antiga tradição ensina, em noites de lua cheia, a amassar dentes de alho e a jogar no rio a fim de afugentar botos e impedi-los de que, transformados em um belo rapaz, entrem nas casas de ribeirinhos, seduza mulheres presentes e as leve para o fundo do rio. A mesma tradição também aconselha pôr crucifixos nas portas e jogar água benta nos rios.
É impossível não identificar os mesmos procedimentos usados em lendas europeias para afugentar vampiros… Sim, a Amazônia também tem seus seres vampirescos.
***
Em 1896, a riqueza proporcionada pela extração da borracha trazia grandes artistas europeus para os teatros da Amazônia. Entre eles, uma bela e misteriosa cantora lírica, Madame Camille Monfort (1869 - 1896), que escandalizou a conservadora sociedade da época por seu comportamento livre e por ter sido acusada de vampirismo e de ter trazido um misterioso culto vitoriano à Amazônia.
Em meio a experiências alucinógenas com o chá da ayahuasca e o rico folclore e lendas amazônicas, a história da cantora lírica Camille Monfort (ainda hoje, misteriosa e desconhecida) é contada aqui por meio de matérias de jornais da época e do testemunho daqueles que a conheceram.
É uma pena saber que tão inovadora obra terá tão pouco acolhimento, por ter nascida em um país que oferece oportunidades escassas a escritores nacionais, e cujo povo possui quase nenhum interesse por sua própria história, e com tão poucos leitores.
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