“APÓS A CHUVA DA TARDE”: Adaptando a Literatura Gótica ao Calor Amazônico
Histórias góticas são mais conhecidas por seu clima de mistério, sobretudo pelas imagens sombrias associadas a castelos europeus; antigos cemitérios; ruas tomadas por espessa neblina e clima frio, que dão à história uma atmosfera sombria, contribuindo para a sensação de solidão dos personagens encerrados em algum ambiente claustrofóbico e sombrio. Assim tem sido desde o surgimento da literatura gótica, em 1764, com a obra inglesa O Castelo de Otranto, de Horace Walpole.
Mas, de modo mais preciso, obras de literatura gótica possuem elementos recorrentes que a definem; são eles:
Espaço: O ambiente é extremamente importante para uma obra gótica, que pode ser um castelo, uma mansão vitoriana, uma cidade, um laboratório, etc. O importante é que algo o ligue aos seus moradores, mantendo uma ligação bastante forte com estes, que pode ser: um segredo de família, guardado em um de seus quartos fechados; uma maldição; fantasmas, etc., algo que represente o passado assombrando seus moradores;
Transgressão: É comum em obras góticas indivíduos ou famílias com comportamentos que transgrida leis divinas ou normas sociais da época, seja por meio do assassinato, do incesto, do sexo, etc.
Sobrenatural: É também comum que histórias góticas tenham elementos sobrenaturais --- fantasmas, maldições, pactos diabólicos, seres com poderes não-humanos, etc. --- que podem ser explicadas como não sendo coisa do outro mundo, ou como algo que não possa ser explicado pelas leis da natureza.
Atmosfera Tensa: Obras de literatura gótica não são construídas para provocar susto, não descrevem violência ou horror, mas provoca no leitor um clima de tensão, inquietação, perturbação;
Observação: Uma obra gótica não é necessariamente uma obra de terror, mas quando o terror assume o papel principal e esteja envolto de elementos góticos (como os de cima), chama-se terror gótico.
Então, após a descrição dos cenários europeus como parte essencial das obras góticas, como uma obra gótica poderia ser adaptada a países de clima quente, semelhante ao Brasil, ou mais especificamente à Amazônia, como se propõe o romance “Após a Chuva da Tarde”, que tem como um dos seus subtítulos: “um Romance Gótico Amazônico”?
Adaptando o Gótico ao Calor Amazônico
Em “Após a Chuva da Tarde”, de subtítulo: “Um Romance Gótico Amazônico”, todos os elementos da literatura gótica estão incrivelmente adaptados à Amazônia, especificamente, à cidade de Belém, uma região quente, de sol abrasador, tão distante do clima frio e de espessas brumas dos países europeus.
Mas como o autor de "Após a Chuva da Tarde" conseguiu adaptar uma obra gótica à cidade de Belém? Porém antes de responder, vamos a sinopse do livro:
Uma enigmática cantora lírica francesa, Chamada Camille Monfort, que tivera uma breve estadia na cidade de Belém, durante o auge da riqueza da venda da borracha, em 1896, e que provocou escândalos devido seu comportamento livre das convenções sociais de seu tempo, é relembrada, em 1934, pelos moradores da cidade, de duas formas: por meio de notícias de jornais da época sobre sua estadia e pelo testemunho de personagens que conviveram com ela durante sua passagem por Belém, contada de forma realista; a outra forma é contada por personagens populares, que a concebem envolta em mistérios, boatos e lendas, de forma mágica, como uma sedutora vampira, cabendo ao leitor se decidir sobre qual das versões é a verdadeira.
O romance também possui outras tramas que se entrelaçam e se cruzam, com personagens fantásticos dividindo as cenas com importantes personalidades reais da história da cidade de Belém e também com criaturas míticas das lendas e do folclore amazônico, como o boto encantado e a moça do táxi, tudo em um clima gótico com pitadas de fantasia e realismo mágico.
A Transposição dos Elementos Góticos para a Cidade de Belém
O Espaço
Palacete Bolonha |
As sombrias mansões vitorianas da literatura gótica inglesa são substituídas pelos belos palacetes de Belém, construídos durante o rico período do Ciclo da Borracha; construídos no estilo francês da Art Nouveau; destaque, aqui, para o belo Palacete Bolonha, um dos cenários do romance e um marco do rico período do Ciclo da Borracha, construído com os adornos em estilo Rococó, telhados góticos e detalhes da Art Nouveau.
Palacete Bibi Costa |
Em “Após a Chuva da Tarde”, como em um bom romance inglês gótico, os palacetes estão carregados de tétricas lembranças que, tal qual fantasmas, assombram seus moradores, mantendo uma forte relação com eles, tão fortes e emotivas que fazem dos palacetes verdadeiros personagens.
O autor também se utiliza da famosa chuva da tarde de Belém do Pará (daí o título do livro), que refresca o forte calor amazônico e, não raro, com suas espessas nuvens escuras, dão ao clima da tarde de Belém um aspecto sombrio, misterioso e ameno, mergulhando a cidade em um clima propício para a narração de histórias sombrias e misteriosas, servindo de substituto às espessas brumas europeias.
Inclui-se nisso, o belo e antigo Cemitério da Soledade, com seus mausoléus sombrios e belos, e com uma trágica história para contar: fora construído para acomodar os cadáveres daqueles que tombaram com as epidemias de cólera e febre amarela, em 1853.
A Transgressão
Acima, uma Polaca, Nome Dado às Mulheres que Eram Enganadas com Promessa de Casamento, e Obrigadas a se Prostituírem no Brasil |
O romance aborda as transgressões morais dos ricos barões da borracha, que chegavam a importar mulheres da Europa, torturavam desafetos nos porões de seus palacetes, e soma a estes fatos um tom vampiresco com a presença de uma cantora de ópera que rompe com a postura submissa de boa moça imposta às jovens da época, mostrando toda a hipocrisia que se escondia sob a falsa capa virtuosa dos ricos senhores da época.
O Sobrenatural
Representação da Matinta Perera pela IA |
O romance “Após a Chuva da Tarde” toma do rico folclore amazônico e das sombrias lendas urbanas da cidade de Belém, sua dose de sobrenatural, acrescentando a elas o elemento vampiresco, e explorando as semelhanças entre a lenda dos vampiros europeus e a lenda do boto amazônico.
A Atmosfera Tensa
Francisco Bolonha |
A atmosfera tensa do romance provém das próprias lendas sombrias associadas aos palacetes citados no romance, como a história de que antes da construção do Palacete Bolonha seu terreno já carregava a sinistra fama de ser um local onde corpos de escravos eram desovados, o que para alguns deu ao palacete e seus moradores uma influência malfazeja; soma-se a isso as aspectos sombrios das lendas amazônicas, que poucos conhecem esse lado, além das lendas urbanas da cidade de Belém, como a famosa lenda de Josephina Conte, a Moça do Táxi, que no romance é uma das personagens.
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